Tão cedo, um turbilhão: professores se sobressaem na manutenção da saúde mental infantil

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A depressão infantil, segundo artigo do Inventário de Depressão Infantil (CDI), caracteriza-se por sintomas como tristeza, agressividade e irritabilidade. Quando analisadas especificamente, as crianças em idade escolar (7 a 12 anos de idade), além dos sinais citados, também apresentam alterações no apetite, insônia, choro sem razão aparente, dificuldades cognitivas, indisciplina e ideias ou comportamentos suicidas, de acordo com estudo da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

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Diante dos diagnósticos assim, a importância dos professores no convívio escolar com os alunos se mostra ainda maior nesses dias de crise, uma vez que, na maioria das vezes, as crianças tendem a permanecer mais tempo no ambiente escolar do que com a própria família. Com as aulas virtuais devido à pandemia de covid-19, o contato entre os docentes e os estudantes ficou ainda mais difícil, e, portanto, a identificação de possíveis problemas emocionais dos pequenos também. 

A professora Valéria Milagres ensinando seus alunos, de máscara e com distanciamento (Foto: Arquivo Pessoal)

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Nesse sentido, a psicopedagoga Eliane Rodrigues Chaves, conta que, no ensino remoto, percebeu-se o aumento das agressões familiares, mas, por conta do novo modelo, os professores nem sempre conseguem notar.

Quando havia o contato presencial, os docentes viam as marcas físicas deixadas pelas hostilidades, e podiam encaminhar o caso para os órgãos responsáveis pela competência. A profissional explica que brincadeiras ou desenhos, empregados em sala, também auxiliavam na percepção de possíveis sinais de violência.

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Segundo ela, a rotina escolar e o acompanhamento com profissionais de psicologia são fundamentais na formação dos jovens. “A escola é o lugar onde o psicológico ainda é preservado, onde a criança é cuidada e respeitada na sua integridade. A importância do acompanhamento psicológico na infância é que, por meio de brincadeiras, através do lúdico, ela vai conseguir se soltar um pouco mais e a torna mais confiante em si. Há casos de agressões físicas, estupros, que são identificados na escola, que, por trauma, interferem na aprendizagem do estudante. Se a parte psicológica não está bem, a aprendizagem não flui. Com o acompanhamento psicológico, a criança aprende a lidar com seus sentimentos e, assim, resolver os seus problemas”, explica Eliane.

Ao longo do cotidiano do processo de formação psicológica, os didatas são os principais agentes, tanto dentro quanto fora da sala de aula.

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Por esse ângulo, a professora do ensino fundamental da rede pública, Iacy Andrade, afirma que os docentes têm sido um pilar indispensável, pois, além da obrigação de favorecer uma aprendizagem atrativa, também se comprometem a cuidar da necessidade física e emocional do aluno. Durante o período de aulas virtuais, ela conta que passou a ser mãe, avó e amiga ao entrar diariamente, através das câmeras, nas casas de seus alunos e poder observar as mazelas de cada um.

Pandemia distanciou as crianças das escolas (Imagem: Freepik)

“A aula ao vivo me possibilita fazer uma observação do que esse aluno está vivendo. Nesses momentos percebo como estão se sentido emocionalmente, eles deixam claro em suas vozes embargadas, nos olhares distantes, ou simplesmente em seus silêncios. Sempre solicito que permaneçam de câmeras abertas, pergunto com quem eles estão, e, ao perceber qualquer sinal de angústia, peço socorro à equipe gestora para intervir”, relata.

Apesar da rotina exaustiva, com 14, 15 horas de trabalho, Iacy compartilha que o esforço feito é gratificante, pois ver seus alunos felizes é seu maior prazer.

Família e escola

Assim como Iacy, a professora do ensino fundamental da rede privada, Valéria Milagres, também reforça o papel dos docentes na formação do aluno. Segundo ela, os didatas são essenciais para o desenvolvimento dos aspectos emocionais durante o amadurecimento da criança, porém, o progresso nesse âmbito só se torna possível com a interligação estabelecida entre família e escola. Esta relação é primordial para que o orientador possa conhecer melhor a história dos estudantes e, consequentemente, consiga agir caso ocorra alguma mudança comportamental.

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Valéria opina que a vulnerabilidade na escola é ainda mais pontual para os pequenos, visto que lidam com a interação social frequentemente e o professor é o principal responsável por enxergar as alterações emocionais deles dentro do ambiente.

“Por eles (alunos) precisarem lidar com pessoas cotidianamente, acabam se tornando predispostos a alguma situação que pode afetá-los, da mais simples até a mais complexa. Ainda mais nos tempos de agora, que estão voltando às aulas e estamos passando por essa realidade totalmente atípica, mantendo distanciamento. Por conta disso, estamos percebendo ainda mais desajustes emocionais, foi nítido que alunos adquiriram hábitos que, antes, não tinham. Muitas das vezes o pai e a mãe não percebem o que nós, professores, percebemos”, esclareceu.

Valéria acredita que a relação entre professor e aluno é marcante na vida de ambos (Foto: Arquivo Pessoal)

Pelo lado familiar, Beatriz Melo, 37, tem um filho de 8 anos, estudante do 3º ano do ensino fundamental da rede pública, e diz que sempre prezou por acompanhar de perto a vida escolar da criança. Segundo ela, os professores sempre foram abertos e prestativos para ajudar, tanto em relação ao lado estudantil quanto ao lado pessoal, e, junto dos pais, são alicerces cruciais na construção do cidadão social.

Além disso, para a mãe, a sala de aula é necessária não só para a manutenção da saúde mental das crianças, mas como para o progresso da capacidade de socialização delas.

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Pablo Andrade, 44, é pai de uma menina de 7 anos, aluna do 2º ano do ensino fundamental da rede privada, e compartilha da opinião de Beatriz. “Os professores, principalmente da educação infantil e fundamental I, são fundamentais para o desenvolvimento da criança,  eles não se limitam apenas ao ensinamento da leitura, escrita, produção de textos, ou contas de matemática, podem também ser grandes aliados na formação comportamental delas. Lugar de criança é na escola, para interagir, brincar, conversar com os coleguinhas e, claro, estudar”, observa.

Por Arthur Ribeiro e Thiago Quint

Supervisão de Luiz Claudio Ferreira

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