Enquanto as escolas da rede privada retornaram às aulas presenciais no modelo híbrido desde setembro de 2020, a rede pública ainda se mantém remota e discussões sobre a volta do funcionamento presencial têm desencadeado diversos embates. Professores estão angustiados com a distância da sala de aula, mas temem o retorno.
A psicopedagoga Andrea Wolney, que atua na Secretaria de Educação do Distrito Federal (SEDF), relata que tanto ela quanto os professores de seu convívio desejam o retorno porque estão sobrecarregados. Afinal, trabalhar com crianças dessa forma é muito complexo, uma vez que os alunos não estão aprendendo, especialmente aqueles em processo de alfabetização e do Ensino Fundamental I.
“Os índices no Brasil vão cair bastante, porque muitas crianças do Ensino Público não têm nem acesso às aulas. Hoje, conversando com uma mãe, ela me disse: ‘professora, sou diarista e em casa só tenho um telefone, eu tenho que levá-lo para o trabalho. Só posso deixá-lo em casa uma vez por semana”
Ela acredita que o prejuízo escolar para o aluno é muito grande e o ensino remoto efetivo não é a realidade da maioria.
Arthur Braga, professor em São Sebastião, também demonstra interesse na volta às aulas, mas apenas com a vacinação e planejamento do governo.
“O governo sempre fala em voltar às aulas, porém nunca apresentou um plano. Nas escolas particulares, a realidade é outra: é possível fazer um distanciamento e reduzir o número de alunos. Na pública, existem dificuldades nesse sentido, além de que é muito difícil controlar crianças e adolescentes para não manterem contato durante uma manhã ou um dia inteiro”, afirmou.
Desigualdade
Dentro dos problemas no modelo remoto público, tanto Andrea quanto Arthur concordam que a falta de medidas qualificadas está favorecendo a desigualdade social, já que o ensino particular antes mesmo da pandemia já estava à frente do ensino público. Agora, com todos os riscos e o retorno antecipado da rede privada, o abismo entre os dois sistemas fica ainda maior.
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Além de tantas dificuldades, o risco para os professores também é grande. Segundo dados do Sindicato dos Professores do Distrito Federal (Sinpro-DF) de abril deste ano, o risco de covid cresceu em 192% em sala de aula, causando a morte de 84 professores do Distrito Federal. Entre o medo e a preocupação, os profissionais da rede pública ainda acreditam que a falta de organização governamental tem grande culpa sobre o atraso na educação.
“Em algum momento, se fosse do interesse do governo, conseguiríamos voltar. Nesse momento, a saúde e a educação têm pesos quase iguais, só não digo iguais porque em relação à saúde existe um risco de vida. Precisa-se de educação, mas em contrapartida, pode ser que a volta às aulas traga uma terceira onda. As crianças ainda não podem ser vacinadas porque não existe vacina para elas. Porém, com medidas qualificadas, o retorno seria viável”, completa Arthur.
Por Ana Carolina Pessoa
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira