“O Brasil ainda não está preparado para aumento da população idosa”, diz pesquisadora

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A pesquisadora Patrícia Rodrigues da Costa coleciona em seu currículo diversas conquistas. Mestra em arquitetura e urbanismo pelo CEUB, ela desenvolveu a dissertação “O Idoso e a Cidade: Orientações técnicas para a elaboração de projetos habitacionais de interesse social para a terceira idade”, um estudo que tem como objetivo entender a configuração desta faixa etária no Brasil e no mundo, suas necessidades e peculiaridades, principalmente quanto à moradia. 

O estudo foi feito sob orientação da professora Maria Eleusa Montenegro. Quando questionada sobre o que levou Patrícia a seguir essa linha de pesquisa, a pesquisadora conta que sua intenção era homenagear os avós maternos, que a criaram, além de fazer parte de vários programas sociais voltados para idosos institucionalizados.

 

“Por ter esse convívio cotidiano com pessoas da terceira idade, pude observar o quão deficiente eram os espaços públicos para a inclusão da pessoa idosa, o quanto eles estavam à margem da sociedade, muito em função do espaço físico que não os acolhia e não os permitia que pudessem interagir igualmente com a sociedade”.

Por causa da sua experiência com programas de institucionalização do idoso, a pesquisadora observou que, por falta de diversos fatores como moradia digna, boas condições físicas e financeiras e também arranjos familiares, muitos idosos acabam indo morar em Instituições de Longa Permanência. “Diante dessas vivências pessoais, unindo aos meus conhecimentos técnicos como arquiteta, surgiu a ideia de trabalhar este tema na minha dissertação”, disse Patrícia.

Em função da pandemia da Covid-19, a especialista enfrentou várias dificuldades em relação ao andamento da pesquisa. “Todas as entrevistas tiveram que ser feitas remotamente, além da impossibilidade viagens para conhecer projetos de inspiração para a pesquisa”, relata. Patrícia reclamou também da falta de acesso à informação nesse campo, uma vez que não existe levantamento de informações como o déficit habitacional específico para idosos no Brasil.

Patrícia e seus avós maternos, que a inspiraram a pesquisar sobre o tema.

Planejamento

Para a pesquisadora, a questão habitacional para a terceira idade ainda não é considerada como prioridade em programas habitacionais de interesse social no país.

“Em Brasília não é diferente, apesar da recente preocupação com este público em programas desse tipo no DF, ainda é uma realidade recente, há muito a ser feito”, avalia.

Segundo a acadêmica, o Brasil ainda não está preparado para atender o grande aumento demográfico da população idosa e, consequentemente, resolver as questões habitacionais para este público, principalmente os de baixa renda.

De acordo com a pesquisadora, o crescimento acelerado da população idosa brasileira em relação à média internacional faz com que o Brasil esteja menos preparado para acolher devidamente o grupo da terceira idade. Segundo dados da OMS em 2015, a quantidade de idosos irá duplicar até 2050. No Brasil, ela triplicará. “Se as projeções para o país se confirmarem, o Brasil envelhecerá em três décadas o que países europeus demoraram um século, o que dificulta ainda mais a preparação do país para tal questão, além dos baixos investimentos para a estruturação para esta população, principalmente na questão da moradia”, alerta.

Em sua dissertação, Patrícia mostra que a necessidade habitacional da população idosa possui necessidades específicas para que esse grupo possa envelhecer com qualidade de vida. “Não basta apenas reservar uma quantidade ilusória para a população idosa em programas habitacionais já existentes sem nenhuma preparação para este público”, pondera. “Uma habitação que favorece o envelhecimento ativo e saudável possui requisitos importantes, com equipamentos públicos e vivências próprias à idade”.

“Acredito que o ponto inicial seja o entendimento dessa demanda”, avalia. Para a especialista, é preciso conhecer as demandas físicas e espaciais de uma pessoa idosa, para então projetar e implantar políticas públicas que irão atender a este público. “Existem perfis variados na terceira idade, portanto, são necessárias variadas políticas de moradia”, salienta Patrícia, que defende em sua dissertação  moradias onde o idoso possa viver em um espaço que garanta sua segurança e inclusão no ambiente urbano e social.

Para Patrícia, garantir que a população mais velha tenha autonomia e independência é uma meta fundamental. “É um grande desafio, porém uma necessidade urgente, tendo em vista o quanto podem contribuir e o quanto o estado deixa de gastar com idosos envelhecendo ativamente com questões de saúde por exemplo”, declara. “Além dessas questões, a interação social entre indivíduos de faixas etárias diferentes é importante para todos. As trocas de experiências, valores e conhecimentos tornam uma sociedade mais evoluída”, ressalta a especialista.

 

Direitos

 

O Estatuto do Idoso assegura às pessoas que se enquadram no grupo da terceira idade o direito à moradia digna, sendo ela ou junto de sua família, desacompanhadas ou em instituições públicas e privadas. Para a pesquisadora, é essencial que os idosos estejam cientes de seus direitos.“A partir do conhecimento do seu direito garantido, considerando populações de baixa renda, esta pessoa, se em condições de autonomia física e cognitiva, pode por si só, procurar junto aos órgãos de assistência social a indicação de programas habitacionais voltados à ela”, afirma Patrícia. 

Para saber mais sobre programas habitacionais e obter informações sobre como participar dos processos para esta faixa etária, os residentes do DF podem entrar em contato com a SEDUH (Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação), através do telefone (61) 3214-4179.

Por Ana Luiza Duarte

Supervisão de Luiz Claudio Ferreira

 

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