Dia do patrimônio: monumentos devem servir à cidadania, diz pesquisador

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O comerciante Divino Carvalho de Souza, de 65 anos de idade, mora na capital há quase cinco décadas. “Não existe lugar melhor para se viver”. Divino, que é morador de Taguatinga, vende artesanato em frente à Catedral há 40 anos e conta que o fato de a cidade ser um patrimônio histórico faz grande diferença em sua vida. A Catedral, aliás, cenário do trabalho de Divino, foi o primeiro monumento com pedra fundamental (1958) e pronta (em 1960) na nova capital. A igreja foi tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em 1991. Nesta terça (17), é dia do Patrimônio Histórico, o que remete a reflexões sobre o tema.

Divino Carvalho trabalha na frente da Catedral e reconhece na prática a vantagem de estar em um espaço de patrimônio cultural. Foto: Fernanda Bittar – Agência UniCEUB

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O trabalho de pessoas como Divino e o movimento por obras como a catedral fazem Brasília um patrimônio cultural vivo e não apenas monumentos de pedra. O tombamento e a preservação dos espaços públicos, na avaliação do arquiteto Carlos Madson Reis, pesquisador em urbanismo, entende que o lugar do patrimônio é servir à população para a cidadania e diminuição das desigualdades. “Não pode haver um patrimônio supervalorizado e uma população miserável vivendo nele”, pondera. Ele entende que, como em boa parte do país, a população brasiliense de melhor renda ainda abandona os centros históricos, que passaram a ser considerados como locais “não nobres”. “É um equívoco total”, diz o especialista.

Brasília Patrimônio

Em 7 de dezembro de 1987, o comitê do Patrimônio Mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), aprovou a inclusão de Brasília como patrimônio cultural da humanidade. Com apenas 27 anos, a nova capital já se comparava a cidades como Paris, Veneza, Cairo e Jerusalém, também declaradas patrimônios mundiais. Quase 34 anos depois, o desafio da preservação é de incluir o dia a dia das pessoas e não se transformar em espaços vazios.

O patrimônio também não esconde as sombras da desigualdade que existem em metrópoles, como é Brasília. Foto: Isabela Amaral – Agência UniCEUB

O arquiteto Carlos Madson Reis defende a tese de que a preservação de espaços históricos está ligada a uma herança cultural que a comunidade constrói ao longo do tempo. “Não é só sobre os bens materiais, mas também os bens imateriais, o fazer cultural, a forma que ela se expressa na maneira de falar, de agir, na maneira de fazer música, sua comida, tudo isso está relacionado ao patrimônio cultural”, afirma.

Ainda há desigualdade

Mesmo tendo esse título de grande prestígio, Brasília é a quinta cidade mais desigual da América Latina, segundo um estudo realizado pela ONU em 2020. O arquiteto comentou que não ficou surpreso com esse dado. “O Brasil é um dos lugares mais desiguais do mundo, todos os dados comprovam isso, obviamente, está presente na capital do país. Um problema que tem raízes históricas”, explica.

O especialista explica que devemos nos orgulhar do título de patrimônio, mas que é necessário perseguir diminuir as desigualdades e valorizar esse patrimônio como espaço vivo da rotina, e não um museu inacessível.

Madson salienta que superar a desigualdade é um desafio, mas que para se ter uma vida mais bem equilibrada devemos enfrentar essa situação. “Para os países que são considerados de primeiro mundo, são considerados desenvolvidos exatamente por uma valorização muito grande do seu fazer cultural, da sua cultura, e isso é que leva ao desenvolvimento”, explica.

Por Fernanda Bittar, Isabela Amaral e Maria Luiza Oliveira de Castro
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira

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