Terremotos, conflitos civis, sequestros de missionários… Em meio a esse cenário de vulnerabilidade no Haiti, há atitudes de cidadãos comuns que podem servir de exemplo para empresas e países com a intenção de diminuir a dor daquele povo.
Uma dessas histórias é do engenheiro civil Jac-Ssone Alerte, de 36 anos de idade, que criou um projeto, o Village Marie, para erguer casas, nos arredores de Porto Príncipe, mais resistentes a terremotos com materiais do próprio lugar e com apoio de brasileiros.
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O trabalho segue a tecnologia do ‘tijolo ecológico’, sem utilização de argamassa, para dar sustentação às casas e deixá-las mais resistentes aos desastres ambientais. Na pandemia, continuou suas atividades, seguindo os protocolos estipulados, pois acredita na realização de seu propósito e diferença que faz na vida das pessoas.
Ele fala fluentemente o português porque fez o seu curso superior na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Foi no período no Brasil que fez uma série de contatos e amizades que visibilizaram a situação do seu paí. Ele idealizou um projeto para colocar em prática os ensinamentos de sua mãe, Marrie. “Dar três lições ao mundo: paixão, educação e identidade”.
O Village Marrie, que depende de apoio voluntário e encoraja pessoas com o mesmo propósito a ajudarem, atende o público de baixa capacidade econômica e dá prioridade a mulheres com crianças pequenas.
“Líderes lideram nas crises”, diz o engenheiro. Assista à entrevista abaixo
No Brasil
Enquanto Jac decidiu voltar, outro haitiano, que se identificou como Ernesto, de 39 anos, e que trabalha como guia de turismo e professor de línguas no Rio de Janeiro, é um dos casos de migrantes que se estabeleceram no Brasil.
Ele nasceu em Porto Príncipe e se mudou para a República Dominicana após fazer faculdade de economia. No entanto, devido aos conflitos políticos e raciais, resolveu se mudar para o Brasil, onde teve a esperança de atuar como guia turístico devido sua habilidade em falar outros idiomas. Atualmente, não pretende voltar a morar no Haiti, mas considera um país bom para se visitar e que ensina ao mundo o que é liberdade.
”A migração faz ‘parte do jogo’. Se o país não está bom, o povo vai migrar. Se o Haiti tivesse as condições ideais para viver, muitos não migrariam. O Haiti é muito mais que isso [Conflitos políticos]. É o país que ensina o mundo o que é a liberdade e deve ser avaliado quem está por trás dos problemas políticos”.
Anfitrião
Apesar da escolha de Ernesto, o Brasil não tem sido o destino prioritário entre aqueles que resolveram sair do Haiti. Em 2020, mesmo diante da pandemia de covid-19, o Brasil recebeu 75% menos imigrantes regularizados entre janeiro e agosto de 2020 comparando-se com o mesmo período de 2019.
No entanto, a redução de migrantes haitianos no Brasil vai em sentido diferente em relação à taxa migratória haitiana para os Estados Unidos. A Organização Internacional para Imigração (OIM), apontou que cerca de 24% dos haitianos que chegam aos Estados Unidos pela fronteira mexicana partiram do Brasil.
A imigração de longo termo (que inclui os refugiados) foi afetada com uma redução de 84%. Os haitianos tiveram uma queda de 60% comparando-se com outras nacionalidades.
Segundo o Resumo Executivo do Relatório Anual da Imigração no Brasil – OBMigra 2020, os maiores números de registros de imigrantes de longo termo foram entre os nacionais da Venezuela (142.250), Paraguai (97.316), Bolívia (57.765) e Haiti (54.182), representando 53% do total de registros.
Com esperanças de condições melhores, os haitianos se expõem a processos arriscados para entrar em novos países. Segundo o professor e historiador Frederico Tomé, as motivações costumam variar e mudam ao decorrer da história. Dentre elas, podem ser diferenciadas entre migrações voluntárias e nesse caso, involuntárias, que costumam ser decorrentes de questões políticas, econômicas e catástrofes naturais.
Tomé explica que a queda da migração para o Brasil pode ser consequência do mercado desaquecido, sem disponibilidade de empregos e baixo poder de compra no país. Além disso, a pesquisadora Ana Luisa Coêlho, que avalia cenários políticos, acrescenta que a crise econômica limita os recursos para os projetos de apoio a populações em situação de vulnerabilidade e dificulta o estabelecimento do indivíduo devido a dificuldade de achar emprego e o alto custo de vida.
Por Maria Eduarda Cardoso e Maria Eduarda Bacellar
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira