A professora tem 20 anos e e garante que muitas crianças já deixaram as ruas por causa da dança
Colã, sapatilha e a mudança na ponta dos pés. Um grupo muito especial de bailarinas tem uma apresentação marcada para as últimas semanas do ano. Esse grupo é formado por 110 crianças e adolescentes moradoras do Sol Nascente, região administrativa reconhecida como carente no Distrito Federal. À frente desse grupo, a professora Kauana de Souza, de 20 anos de idade, que é voluntária e da comunidade. Ela enxerga nas jovens bailarinas a própria história.
As aulas ocorrem em dois pólos no Sol Nascente. Assim, Kauana dá aula todos os dias pela manhã. Um compromisso que ela acumula com o sonho de passar na faculdade de educação física. “Quero ajudar mais crianças para o resto da vida”.
A apresentação será voltada para as famílias e para a comunidade. “Eu já tive duas ideias: uma é com a música O Lago do Cisnes (obra do compositor russo Piotr Tchaikovsky) e a outra obra ainda estou avaliando”. A apresentação ainda não tem data definida mas deve ser perto do Natal e Ano Novo.
Moradora do Sol Nascente, a estudante Kauana de Souza, de 20 anos, é uma das colaboradoras do entidade social Mãos Solidárias, que atende 1,2 mil jovens na região A jovem é a responsável pelas aulas de balé para meninas (a maioria) e meninos da comunidade. Ela recorda que, quando era criança, não gostava tanto da dança, mas se apaixonou vendo o amor que uma colega sua tinha ao dançar.
Kauana começou os primeiros passos com a sapatilha em apresentações na igreja que ela frequentava. epois, se aperfeiçoou, fez cursos e virou professora para ajudar a própria comunidade.
A jovem disse que o balé colabora para a coordenação motora, para a sensibilização artística, para a disciplina e para a integração entre as pessoas. “O balé transforma muitas pessoas, não só no comportamento. A dança pode tirar as crianças das ruas. Quando eu comecei, eu vi que ele mudou a minha forma de ser. Eu tive mais disciplina”, afirma Kauana.
Ela acrescenta que foi assim que passou a identificar com a prática artística de uma forma completa. “É algo que você transmite o que você está sentindo. Se você está triste, você dança. Se você tá feliz, você dança. O balé, para muitas pessoas, é isso. E isso é o balé pra mim”.
Sapatilhas e colã
O projeto para as aulas de balé é mantido pelo Instituto Mãos Solidárias por doações. As roupas e as sapatilhas (que custam mais de R$ 100) foram doadas por empresários. Hoje o instituto conta com 60 peças para 110 alunos, ou seja, um número insuficiente para todos. Porém, a entidade social espera conseguir captar mais recursos para conseguir o número total de roupas.

Primeira refeição
Uma das voluntárias da entidade, Juliana Souza Nunes, é responsável por captar doações para as jovens. Ela diz que não está sendo fácil, mas que a inspiração está diante dos olhos da equipe. Juliana lembra-se que, em uma das aulas de balé, os colaboradores estavam distribuindo bolo para as crianças e uma criança de 5 anos disse o seguinte: “Tia, muito obrigada, porque essa foi minha primeira alimentação”. As palavras emocionaram Juliana e todos que estavam presentes.. Afinal, isso ocorreu às 16h.
Ela destaca que há a perseverança das crianças em frequentarem as aulas mesmo passando por dificuldades: “Essas crianças vão pro balé com fome… Ela poderia ter ficado deitada dentro de casa mas não. Ela foi assistir à aula com a tia Kauana. Isso que é importante. Ela não desistiu dos seus sonhos”.
Por Jorge Agle e Thamires Rodrigues
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira