Dia do Repórter: profissionais da notícia buscam fortalecer saúde mental

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Neste dia 16 de fevereiro, é celebrado o Dia Nacional do Repórter. Em meio a adversidades, profissionais da notícia sabem que precisam fortalecer a saúde mental.  No atual cenário brasileiro, jornalistas têm enfrentado diferentes dificuldades para exercerem seu trabalho.

Uma profissional que atesta esse fato é a coordenadora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal (SJPDF), Juliana Nunes. Redução nos postos de trabalho, salários menores e precarização das relações trabalhistas estão entre os problemas. Além disso, foram intensificadas as agressões verbais e físicas contra profissionais.

Juliana Nunes, coordenadora do sindicato, diz que jornalistas devem buscar apoio psicológico. Foto: Agência Senado

Paralelamente, no âmbito individual, Juliana relata ter sofrido censura e assédio moral de cunho machista e racista, tanto nas redações, como fora delas. Durante a pandemia, ela trabalha a favor da proteção e estabilidade na profissão. ”Atuei pelo sindicato monitorando os casos de COVID nas redações e reivindicando que as empresas adotassem as medidas sanitárias necessárias”, explicou.

Juliana Nunes diz que faz consultas de psicoterapia e recomenda aos colegas. “O sindicato possui convênios com clínicas e planos de saúde para estimular a categoria a priorizar a própria saúde.” Ela elucida que muitos jornalistas testemunharam de perto, presencialmente, o drama das famílias afetadas pela pandemia, sendo que muitos desses profissionais também estão entre as vítimas.

“O trabalho dos/das jornalistas foi e continua sendo fundamental para garantir o direito da sociedade à informação e à comunicação.”

A jornalista afirma que a informação apurada e veiculada adequadamente é essencial em momentos de crise sanitária e econômica, pois permite que as pessoas tomem decisões melhores.”O jornalismo foi um importante aliado da sociedade no combate às fake news e à desinformação sobre vacinas, medidas preventivas e tratamentos”, reconhece.

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Impactos psicológicos

Para a jornalista Eliane Scardovelli, que tem uma carreira de mais de dez anos atuando no programa “Profissão Repórter” e começou a produzir documentários pela plataforma Globo Play em 2019, é fundamental tratar da saúde mental em um momento como esse.

Ela conta que, junto aos seus colegas de profissão, acompanhou várias histórias emocionantes nos últimos três anos. Sobre o impacto dessas narrativas no seu psicológico,  a profissional confessa: “Você segura ali naquele momento para ficar firme e não inviabilizar o seu trabalho, mas em algum outro momento você vai precisar desabafar.”

Escutar

Sob essa perspectiva, a psicóloga clínica Elizabeth Sotero afirma que é importante o jornalista ter alguém que o escute e entenda o porquê certa notícia o abalou. Ela explica que o profissional já deveria ter acompanhamento psicológico desde a faculdade, mantendo psicoterapias pontuais e consultas psicológicas frequentes.

Sobre as consequências da falta de um acompanhamento psicológico, ela salienta estudos que apontam o uso de álcool e antidepressivos por parte de jornalistas pelo abalo emocional contido. Acerca da negligência sentimental, ela diz que o adoecimento é gradual. “O impacto ele vem não necessariamente de forma instantânea quando o profissional não lida com seus sentimentos”

“Aqueles que não conseguem se expressar e retêm seus sentimentos acabam sofrendo mais”, diz a psicóloga.

Riscos

O repórter Lucas Valença, que escreve sobre política para o portal “Uol” e realiza coberturas no Senado, testemunha que as dificuldades diárias são de ordem prática também. Ele diz que seu trabalho foi grandemente dificultado pelo distanciamento social. “Os jornais deixaram de ser presenciais, porém, muitas apurações continuaram sendo, precisávamos sair de casa para conversar com fontes. Nossa profissão é muito baseada no contato pessoal”, declara.

“O risco é inerente ao jornalismo”.

Por trabalhar com investigação e assuntos sigilosos, Lucas entende que muitas vezes as fontes não se sentem confortáveis em falar a distância. Por isso, entrevistas presenciais, em cafés, por exemplo, seguiram com todas as medidas contra o vírus. No cenário da pandemia, ele explica que as informações ficaram mais escassas e mais demoradas de se obter.

Eliane Scardovelli em gravação para o Profissão Repórter. Foto: Eduardo de Paula Santos

Ainda, Eliane Scardovelli afirma que, atualmente, o jornalismo tem que competir com as mensagens do WhatsApp que propagam fake news. Nessa perspectiva, ela acredita que o melhor caminho para engajar a informação correta é ser o mais didático possível, de forma que o conteúdo seja interessante e cative o leitor. “O jornalista deve ter compromisso e disciplina com o seu trabalho, tanto para apurar e pesquisar, quanto para se manter constante na construção da narrativa”, reitera.

Valor dos princípios

Eliane Scardovelli ressalta que o trabalho do repórter possui grande impacto na forma como a notícia é percebida: “Você transfere os sentimentos para a sua edição”.

Por isso, a psicóloga Elizabeth Sotero aconselha que o jornalista fortaleça o “ego”, estando seguro de quem é, seus valores e princípios, com o objetivo de manter o controle e o profissionalismo.

Apesar das adversidades, profissionais ouvidos são motivados a persistir no trabalho jornalístico com o objetivo de contribuir para uma sociedade melhor e mais bem informada. Lucas ressalta que é gratificante ver o trabalho pronto, após muita dedicação, fazendo a diferença. Enquanto Eliane tem como propósito claro promover debates e gerar mudanças práticas por meio de suas reportagens.

Além disso, a jornalista Juliana Nunes destaca sua principal motivação: a possibilidade de contribuir para uma sociedade melhor, na qual os direitos da população negra, das mulheres e das crianças sejam respeitados.

O que fazem as e os repórteres

Esses profissionais são os responsáveis pela apuração de informações e elaboração de conteúdos noticiosos para veículos de mídia. Através de pesquisas e entrevistas, o repórter atua como intermediário entre os acontecimentos e a sociedade.

Todo repórter é jornalista, mas nem todo jornalista trabalha como repórter. O cargo em questão é uma caça incessante por situações de relevância pública para divulgação. Além disso, o profissional deve se manter alerta e disponível, pois a função é imprevisível, já que a demanda é contínua.

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→ Confira o site da ONG Repórter Sem Fronteira

Por Alexya Lemos e Maria Tereza Castro

Supervisão: Luiz Cláudio  Ferreira

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