Ceilândia: Venezuelanos tentam sobreviver por entre os carros

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Março de 2022. Sol a pino, às  11h30 de um sábado. Em um semáforo próximo à feira, uma família de venezuelanos – um homem, uma mulher e duas crianças tenta a sorte entre os carros. Quando os veículos param, eles se movimentam em busca de janelas abertas ao pedido de ajuda. As janelas estão fechadas para eles. Uma das crianças dorme no asfalto ao lado do carrinho de brinquedo. O barulho dos carros não dá intervalos.

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As crianças vestem agasalhos e calças de moletom. A mais nova está agitada, enquanto o irmão dorme. Apesar de estarem descalços, os meninos acostumam-se com o asfalto quente. O pai usa um chapéu para se proteger do sol. A mulher veste uma blusa de manga comprida, enquanto carrega uma mochila e uma bolsa. Seu olhar é de desconfiança. O homem é o primeiro a contar sua história.

O pai da criança é Luis Marques, de 27 anos, natural de Monaga, cidade localizada a 560 km de Caracas. Com os trocados do semáforo, ele conta que paga o aluguel da casa onde reside, na cidade de  São Sebastião, a 50 km de Ceilândia. O homem explica que a pensão em que moram é um imóvel dividido entre 51 pessoas. Ainda segundo o imigrante, cada família paga R$ 600 pela estadia. Todos venezuelanos. Todos de Monaga.

Marques conta que trabalhava como pedreiro, antes de deixar a Venezuela. Por não conseguir alimentar a família no país em crise, ele veio tentar algum trabalho no Brasil. Sem dominar o português, o venezuelano não conseguiu trabalho e precisou contar com a ajuda de outras famílias, que encararam uma situação similar ao chegar ao país estrangeiro. 

A família veio da Venezuela para o Brasil por Pacaraima-RR, a 213 km de Boa Vista-RR. De carona em carona, eles chegaram até a capital. A mulher, de 22 anos, cuida dos filhos menores, de 1 e 3 anos. O menino mais velho sofre de asma. Os dois brincam perto da pista, aos olhos da mãe, enquanto o pai levanta uma placa com o pedido de socorro, de uma cesta básica, de um trocado, ou uma moeda que sobre.

Ela revela que o casal tem mais um filho, de 6 anos, que não está indo à escola devido aos preços dos materiais escolares e do uniforme. O casal conta que chegou à Feira Central de Ceilândia às 6h. A escolha do destino levou em conta o número de pessoas que passam diariamente naquela região.

Por Mateus Sousa
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira

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