Lançado na sexta-feira, 13, o “Mr. Morale & The Big Steppers” soma à discografia do rapper Kendrick Lamar como seu quinto álbum de estúdio. Com nota alta no Metacritic, o álbum duplo agradou aos internautas em geral. As 18 faixas inéditas trazem experiências e reflexões de Lamar sobre questões raciais e de gênero, cultura midiática e relações familiares, além de contar com colaborações de Baby Keem, Taylour Paige, Summer Walker e outros.
Um marco no rap americano
Os últimos álbuns de estúdio de Kendrick fizeram dele um destaque na indústria musical americana, tanto como performer quanto como letrista. Natural de Compton, EUA, o rapper coleciona prêmios e indicações, inclusive um Prêmio Pulitzer pelo álbum “DAMN.” (2017), tornando-o o primeiro artista não clássico ou do jazz ganhador na categoria música. Além disso, ele fez parte da aclamada trilha sonora do filme Pantera Negra (2018).
No dia 8 de maio deste ano, o artista lançou, como prévia do quinto álbum, o single The Heart Part 5, cujo videoclipe chamou bastante atenção: mostra Kendrick se transformando em personalidades como OJ Simpson, Jay-Z, Kanye West e Will Smith. A faixa extra não integra o álbum em lançamento.
Sonoridade e letras
O rap e o hip hop dão som às faixas da maneira particular de cada história contada. Além do rap como gênero principal, o R&B e os coros melódicos também marcam presença nas faixas – e, entre cada uma, os cortes são quase imperceptíveis.
A introdutória United in Grief é marcada pela variação de ritmo – do lento ao rápido, e vice-versa – enquanto Kendrick discorre acerca da saúde mental e do luto.
Com o maior potencial e maior popularidade até agora, a faixa N95 se inicia com uma característica melodia antes de estourar nos versos intensos. Nela, o rapper critica o materialismo da sociedade atual:
“Tire a Chanel, tire a Dolce, tire a Birkin Bag (…) e o que você tem?”
Worldwide Steppers, Father Time e Savior são algumas das músicas com a presença de sons de sapateado ao fundo. A primeira relata a sociedade como assassina: “A indústria matou os criadores”; e, a segunda, explora a paternidade sob a visão do autor. Já Savior conta com um interlúdio de Baby Keem, primo de Kendrick Lamar – reprisando a colaboração dos dois, depois do sucesso de family ties, faixa do álbum “The Melodic Blue” (2021) de Keem.
Vale destacar a música We Cry Together, com Taylour Paige, onde o diálogo entre um casal é interpretado por Lamar e Paige. Os dois se alternam entre os versos, enquanto trazem situações frustrantes de uma relação abusiva e tocam em questões de gênero. A carga emocional da faixa é pesadíssima, deixando o ouvinte tenso perante cada argumento dos personagens:
“Você é a razão do Trump, você é a razão de sermos assediadas, mal pagas, rejeitadas, humilhadas” (verso de Taylour Paige)
“Estou cansado dessas vadias emocionais e ingratas, falsas inocentes, falsas feministas” (verso de Kendrick Lamar)
Lamar abre a segunda parte (disco 2) com a faixa Count Me Out, onde a melodia do início de United In Grief se repete. Essa seção do álbum é mais tranquila e melancólica do que a primeira, e as relações familiares são ainda mais abordadas.
Em Auntie Diaries, Kendrick relata suas impressões sobre a transexualidade de seu tio:
“Você disse: “Não há espaço para contradição. Para realmente entender o amor, troque de posição””
A triste Mother I Sober mostra a reflexão do artista sobre a sobriedade, o abuso e o luto na comunidade preta, fechando um ciclo melódico com a introdução das duas partes do álbum.
De batidas frenéticas do trap ao melancolismo do piano, o Mr. Morales & The Big Steppers reúne fatos e opiniões cruas de Kendrick Lamar, diante da mais nova cultura do rap, onde a ostentação é o assunto principal. O álbum deixa clara a sua intenção: causar observação e conscientização através da poesia, sem deixar de entreter musicalmente. Isso faz de Kendrick um dos artistas musicais mais autênticos da atualidade, como ele diz em Mirror, música que encerra o álbum: “Eu me escolho, me desculpe”.
Ficha técnica:
Título: Mr. Morale & The Big Steppers
Intérprete: Kendrick Lamar
Lançamento: 13 de maio de 2022
Duração: 1h e 13min
Gênero: rap, hip hop e R&B
Gravadora: pgLang/Top Dawg Entertainment/Aftermath/Interscope Records
Por Luiza Guido
Foto: Divulgação
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira