“Gotas de amor”: Mães destacam necessidade de doar leite humano

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“Após ter a minha filha, tive problema com a amamentação nos primeiros dias. Ela não sugava e ficamos preocupados. Aí eu vi a necessidade de ser uma doadora”. O relato é da advogada Pâmella Patrície Castro, de 31 anos, que doa leite materno há 7 meses. O Banco de Leite do Distrito Federal contabilizou um total de 5.773 doadoras há cinco anos (último registro realizado). 

O Distrito Federal conta com 14 unidades para recebimento de leite, sendo considerado o Estado mais bem equipado para a função no Brasil, fato comprovado pelo relatório da Rede Brasileira de Banco de Leite.

As unidades de bancos de leite humano são no Hospital das Forças Armadas (HFA),  no Hospital Regional da Asa Norte (HRAN), no Hospital Regional da Asa Sul (HRAS), no Hospital Regional de Brazlândia (HRBZ), no Hospital Regional de Ceilândia (HRC), no Hospital Regional do Gama (HRG), no Hospital Regional de Planaltina(HRP), no Hospital Regional do Paranoá (HRPA), no Hospital Regional de Sobradinho (HRS), no Hospital Regional de Santa Maria (HRSM), no Hospital Regional de Taguatinga (HRT), no Hospital Universitário de Brasília (HUB), no Posto de coleta de São Sebastião e no Posto de coleta Hospital Regional de Samambaia (HRSAM).

Estoque

Apesar de ser referência, o estoque atual é de 1.504 litros , que ainda é considerado pouco pelas unidades. O ideal é chegar a dois mil litros por mês.

A distribuição é feita para os bebês internados nas Unidades Neonatais do DF e chega para cerca de 1 mil bebês, segundo informou a Secretaria de Saúde do Distrito Federal, em nota para a reportagem da Agência Ceub.

O órgão ainda tem a função de promoção, proteção e apoio ao aleitamento materno, coleta, processamento e distribuição de leite humano com qualidade certificada.

“Quando eu tive meu filho, tinha uma moça do meu lado na maternidade que teve uma artrite que a fazia sangrar muito.  Por isso, ela não tinha leite e o bebezinho dela chorava de fome. Eles traziam só um pouquinho em um copinho de café porque era o que tinha. Às vezes derramavam, e não tinha outro pra dar porque o estoque do banco de leite era muito pequeno na época”, afirma Kelly Pinheiro, que doou leite entre 2008 e 2010. 

 

                       

Pâmella Castro doa leite materno há 7 meses. Foto: Arquivo pessoal

 Leia mais sobre doação de leite humano                   

Fórmula de saúde

O leite humano é insubstituível, mesmo considerando a fórmula infantil (que pode ser encontrada em pó nas farmácias). O leite materno é adequado e não pode ser substituído até 6 meses de idade, segundo explica a enfermeira Angélica Elvira, de 43 anos. 

Ela explica que as proteínas, minerais, vitaminas, água, fator de proteção imunológico e também os fatores de crescimento, se encontram de uma forma completa e em quantidade suficiente e equilibrada, de fácil absorção, tudo dentro do leite humano.

“No leite materno também existe a quantidade de lipídeos suficiente para que a criança venha a se alimentar e pegue o peso necessário de uma forma saudável”, ressalta a enfermeira. 

Ainda segundo a enfermeira, as proteínas e vitaminas são modificadas na fórmula e os minerais são de difícil absorção, em relação ao leite natural.  “Dentro dela, não existe o fator de proteção imunológico, o fator de crescimento ou mesmo água. Então aí têm três grandes deficiências na fórmula”, diz.

A fórmula é considerada melhor apenas em casos de bebês prematuros que não têm condições de receber leite materno, conforme explica a enfermeira neonatal e vice-diretora executiva da ONG Prematuridade.com, Aline Hennemann.

Melhor do que leite de vaca

Quando comparada ao leite de vaca, a fórmula encontrada nas farmácias é superior. Isso porque, no leite de vaca, há deficiência de  vitamina A e C, tem difícil digestão, aumenta o risco de alergia e possui excesso de proteínas e minerais, o que faz com que o bebê não consiga digerir direito.

  “(O leite de vaca) Não há quantidade suficiente de água, não contribui com a proteção imunológica nem o fator de crescimento”, afirma Angélica Elvira. 

Orientações e cuidados 

Segundo o banco de leite, uma interessada em fazer a doação deve entrar em contato com o número 160, opção 4, fazer o cadastro e então uma equipe do Banco de Leite Humano (BLH)  entrará em contato. Posteriormente marcará a visita do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF) para levar o Kit de coleta à casa da doadora. 

 Segundo a Secretaria de Saúde, a coleta do leite humano pode ser realizada em casa e pode ser doado às unidades de Banco de Leite do DF. Como o leite já coletado, deve-se fechar bem o vidro, colocar a data da primeira coleta e guardar imediatamente no congelador até que seja levado para doação. 


Já para as mães que recebem a doação do leite em casa, as recomendações, segundo a Secretaria de Saúde, para dar o leite ao bebê são:

 

  1. Guardar o leite retirado do peito na primeira prateleira da geladeira, somente se for utilizar nas 12 horas seguintes à coleta.
  2. Estocar em congelador ou freezer por, no máximo, 15 dias.
  3. Lavar as mãos e braços com água e sabão.
  4. Colocar água potável em uma panela em quantidade suficiente para ultrapassar o nível do leite no frasco.
  5.  Aquecer até a temperatura tolerável, sem queimar os dedos.
  6. Desligar o fogo. Colocar o frasco com o leite na água aquecida. Agitar o frasco para facilitar o aquecimento.
  7. Caso o leite esteja congelado, repetir o processo até que não reste nenhuma pedra de gelo.
  8. O leite que restar no frasco pode ser guardado na 1ª prateleira da geladeira por, no máximo, 12 horas
  9. Dar o leite sempre em colher ou copinho, devidamente limpos e fervidos. 

“Quando você coleta o leite, tem que ter muito cuidado com sujeiras, fios de cabelo, essas coisas. Aí então eu ponho direto no pote [o leite], e coloco uma data nele, no dia da coleta. Esse leite dura, em casa, 10 dias. Mas toda semana eles [os bombeiros] vêm buscar .  Quando chega no banco de leite, eles fazem um processo chamado pasteurização, e aí dura 6 meses. É basicamente isso. Você só precisa deixar o leite congelado. Sempre que se acrescenta uma quantidade de leite, o pote volta pro congelador, e quando está cheio, começa o mesmo processo em outro pote”, relata Pâmella, que já chegou a doar 20 potes de 300 ml por semana. 

 

Pâmella, que é doadora há sete meses, entende que todas as mulheres com leite podem doar, basta que estejam com a saúde boa e com exames de HIV, sífilis em dia, até porque o leite pode transmitir doenças. “Então, basta a pessoa se disponibilizar e ter esse cuidado clínico, por que se o leite for com cabelo ou esse tipo de coisa, eles tem que descartar. Então é muito importante essa campanha e empenho que as poucas doadoras têm”.

Também doadora, Kelly Pinheiro ressalta que os potes precisam ser de vidro e com tampa de plástico. “O rapaz que recolhia me dizia que uma mulher doava em média um frasco por semana e eu doava 10 ou 12 por semana. Por isso a quantidade que ele trazia era pouca. Fiz até uma campanha na igreja para recolher mais frascos ideais para doação”, diz.

 

 

“O leite materno salva vidas. Esse leite é vacina, é vida, é tudo. E têm muitas mães que não têm esse leite e o industrializado é muito caro”, diz Kelly Pinheiro. Foto: Acervo pessoal de Pâmella Patrície 

Campanhas 

Desde 2018, por lei, o mês de agosto é designado pela OMS (Organização Mundial de Saúde) como Agosto Dourado e tem como objetivo simbolizar a luta pelo incentivo à amamentação, sendo realizadas ações de conscientização e esclarecimentos sobre a importância da doação de leite materno. 

“Gotas de amor para um mundo melhor” é o tema da Campanha de Doação de Leite Materno de 2022, por iniciativa da Rede Global de Bancos de Leite Humano, que viu a necessidade de intensificar a divulgação em um mundo pós-pandemia.

Assim, o dia 19 de maio foi escolhido para comemorar o Dia Mundial de Doação de Leite, quando o Ministério da Saúde lançou a Campanha Nacional de Doação de Leite Humano, bem como afirma Aline Hennemann, da ONG prematuridade.com.

“Na verdade, a gente tem o mês próprio que traz a questão do leite materno, que é o mês de maio. É onde, junto com a Rede Brasileira de Banco Leite, fazemos as campanhas de doação de leite materno. No Agosto Dourado a gente reforça, porque ele está relacionado com a questão do aleitamento materno”.

A iniciativa de campanha é considerada importante para que a sociedade possa saber dos benefícios relacionados à amamentação, que não atingem só os bebês mas também as mães como um todo.

“O mês de agosto foi o período em que a gente trabalhou intensamente nessa questão relacionada à conscientização, realizando lives, materiais em que a gente pôde divulgar nas nossas redes sociais e a parceria com o banco de leite”, conta vice-diretora executiva da ONG Prematuridade.com. 

“A gente considera que é fundamental a questão da conscientização da doação de leite materno. 1 ml de leite realmente salva a vida de bebês prematuros porque eles não conseguem receber e mamar ainda no peito da mãe, então esse leite doado é fundamental para a saúde desse bebê e para coisas importantes como a questão relacionada à imunidade ou do QI a curto, médio e longo prazo”, acrescenta Aline Hennemann.

Parte do objetivo das campanhas é desmentir mitos sobre a doação já que muitos fatos não são de conhecimento amplo. “A maioria das mulheres acham que, quando retiram o leite, em algum momento vai faltar para o seu bebê. Mas isso é um mito. Quanto mais leite você tira, mais o seu organismo estimula a produção de leite”, afirma Pâmella Patrície. 

“Eu sempre tirava quando minha filha ia mamar, então ela ficava em meu peito e no outro eu coletava. E nunca faltou leite.”

Cabe também às campanhas darem o apoio necessário às mães doadoras. “Existe um apoio para as mães que doam leite, que conta com uma equipe profissional no banco de leite do hospital: tem uma pediatra, obstetra e psicóloga. Eles te orientam sobre como tirar e armazenar o leite e garantem um suporte em caso de alguma emergência com seu filho. Quando você vai doar faz um cadastro de doadora, onde você seleciona os encontros pessoalmente. Eles dão até um certificado de doadora”, diz Kelly Pinheiro.

Alívio

Ayllana Lorhane, de 28 anos, recebeu doação de leite humano tanto em casa quanto no hospital, pois, segundo ela, seu leite demorou a descer. “Quando o leite desceu não sustentava meu bebê. Pra mim, foi um pouco difícil, porque meu sonho sempre foi amamentar, e como demorei pensei que não conseguiria. Mas fiquei feliz e aliviada por ver o meu bebê mais alimentado”, diz. 

Pâmela, mãe e doadora de leite, conforta outras mulheres que não podem dar leite: “Acalmem o coração, tudo tem o seu tempo. Essa mãe não é menor ou “menos mãe” que as outras. A maternidade traz consigo muitos desafios: na gravidez, no parto, no pós-parto e na amamentação. Então a mulher por si só já é muito forte. Eu desejo que essas mães não ‘pirem’ e não se sintam menores.”

Serviço

Para doar, acesse aqui 

Por Ana Clara Neves, Mayara Kalyne e Milena Dias
Fotos: Acervos pessoais das entrevistadas


Supervisão de Luiz Claudio Ferreira

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