Após dois anos de interrupção, devido a pandemia do novo coronavírus, o feriado de independência do país voltou a garantir o desfile cívico na Esplanada dos Ministérios. Este ano, a data tornou-se ainda mais marcante pela comemoração do bicentenário da independência. Mas a programação com forças militares e Esquadrilha da Fumaça não foi o único motivo que manteve cheia a Praça dos Três Poderes, na região central de Brasília.
Dias antes do 7 de Setembro, outdoors já convocavam os apoiadores do presidente da República e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL), para manifestações em prol do país. Com tom revolucionário, mensagens como: “é agora ou nunca”, “segunda independência do Brasil” e “juntos pelo país” cobriam as cores da bandeira nacional.
Ainda na noite do dia 6, o clima pré-feriado tomava conta do Plano Piloto: chegada de caminhões à Esplanada dos Ministérios, previamente fechada pela Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal, e show de fogos de artifício na Torre de TV.
As medidas de segurança foram pensadas previamente pela Secretaria de Segurança Pública do DF junto aos demais órgãos federais. No STF (Supremo Tribunal Federal), uma tropa de choque foi colocada no esquema de segurança devido aos ataques sofridos no ano passado. Para manter a segurança, a Cavalaria, o Batalhão Operacional com cães, o Bope e a Força Nacional foram posicionados em diversos pontos da Praça dos Três Poderes.
Na manhã desta quarta-feira, da plataforma superior da Rodoviária do Plano Piloto, era possível ver o verde e amarelo tomando conta do gramado da Esplanada. Em meio a palmas e gritos contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula Silva, que vem liderando as pesquisas eleitorais para a Presidência da República, e o STF, apoiadores aguardaram com expectativa o discurso de Bolsonaro. Os simpatizantes do governo exibiam cartazes com frases de apoio ao presidente, críticas ao STF e sistema eleitoral.
O produtor agrícola, Alcione Luiz Grigio, saiu do estado de Goiás e rodou 250 quilômetros para participar do evento. Ele confessa que apesar de comemorar a independência do país, dificilmente participará do desfile no próximo ano, caso haja mudança de governo. “Eu estou aqui por uma causa justa, mostrar para o povo brasileiro que tem um homem na presidência que realmente defende a nação. Agora, se tiver outro presidente, eu não venho, porque eu sei que ele vai nos escravizar, implantar um regime comunista socilista onde você não tem direito de nada”, afirma Grigio.
Os participantes falaram sobre as intenções de participarem do evento e o uso da bandeira em manifestações políticas:
A data foi palco de manifestações durante todo o governo Bolsonaro, com direito a passeio de cavalo e avião, o presidente foi aclamado por apoiadores. O cientista político André César explica que o ano de 2021 foi um laboratório, um ensaio geral, onde o presidente mobilizou os apoiadores para mostrar a força do seu governo.
Os eventos são marcos e trazem força ao governo Bolsonaro, diante do eleitorado, para o seu discurso e símbolos que passaram a ser carregados como sua marca registrada. A blusa oficial da seleção brasileira e a bandeira do país viraram identidade visual do seu governo e do patriotismo citado pelo presidente Jair Bolsonaro em seus discursos.
Para André Cesar, Bolsonaro precisa de toda a grandiosidade do evento, se isso não acontecer, o líder político seria enfraquecido no processo eleitoral. “De alguma maneira a gente vai ter um 8 de setembro, quinta-feira, com outra cara para o Lula e para o Bolsonaro. Um dos dois vai sair ganhando, um dos dois vai sair perdendo”, defende.
A bandeira do Brasil tem lado político?
Em julho deste ano, a juíza Ana Lúcia Todeschini Martinez, do Rio Grande do Sul, causou polêmica ao afirmar que o uso da bandeira seria considerado propaganda eleitoral a partir do início do período de campanha eleitoral, já que o símbolo havia se tornado marca de um lado político. A fala baseou-se na Lei 9504, conhecida como Lei Eleitoral, que determina as normas para o período das eleições. A juíza defendeu que a bandeira do Brasil deveria seguir a lei aplicada no Código Eleitoral, que só é permitido a exposição de bandeiras das 6h até 22h durante o período eleitoral.
Após a repercussão, o TRE (Tribunal Regional Eleitoral) do estado decidiu, por meio de uma sessão virtual no dia 15 de julho, que símbolos nacionais não são considerados partidários e que não há restrições específicas, para o seu uso, na legislação brasileira.
Para Rodrigo Araújo, agricultor participante do evento, a bandeira do Brasil não é símbolo do Bolsonaro. “Nós precisamos carregar, primeiro de tudo, a bandeira de um país. Se nos vamos optar por sermos de esquerda ou de direita, democratas ou liberais, comunistas ou socialistas, isso e de cada ser humano, nos somos livres para escolher. Mas a bandeira está acima de tudo, e o símbolo maior de uma pátria”, afirma.
Por Brenna Farias e Beatriz Souza
Supervisão de Vivaldo Sousa