Escrever a partir das vivências pode ser um caminho para um conteúdo genuíno e inspirador. É esse o caminho para o projeto idealizado pela escritora Waleska Barbosa. A última oficina, na Biblioteca Nacional, proporcionou, segundo as participantes, uma troca de experiências entre personalidades da literatura feminina negra no DF.
“Espero que nenhuma mulher preta passe 20 anos com seu livro na gaveta”, disse a escritora. Ela contextualiza que o objetivo de sua oficina ao incentivar a publicação de livros por mulheres que dificilmente encontram motivação, oportunidade, abertura ou reconhecimento.
A primeira professora de música da rede pública do DF, a pianista Lydia Garcia, foi uma das participantes da oficina e além de compartilhar sua história, sua demonstração de apoio ao projeto de Waleska, assim como tantos outros que abordam a questão racial, trouxe uma imensa relíquia literária, o livro Quarto de
Despejo, de Carolina Maria de Jesus, autografado pela mesma em 13 de novembro de 1960.
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O projeto surgiu no ano passado, em 2021, quando a autora entrou em contato com a Secretaria de Cultura para conseguir a autorização para utilizar o espaço da Biblioteca Nacional, a mesma liberou em 2022.
Primeiros caminhos
A trajetória se iniciou com o blog “Um por dia” no ano de 2017. Ela foi convidada para feira de Frankfurt (Alemanha) e trabalhou de forma independente na produção de seu primeiro livro “Que nosso olhar não se acostume às ausências”, procurou o Mulherio das Letras, um coletivo literário feminista do Facebook.
Ela promove encontros presenciais, com a pré-venda Waleska contabilizou 300 livros. Um tempo
depois foi procura por uma editora, a qual mudou a capa e fez correções no livro. Hoje segue com mais uma obra a ser publicada de forma independente “Ipês não são domesticáveis”.
A oficina
A reportagem da Agência CEUB participou da oficina. Tudo se iniciou com um pedido da escritora para que o local fosse observado, com a intenção de prestar atenção nos detalhes e se ambientalizar. Logo depois cada participante disse o que achava necessário para escrever: “observação”, desse modo seu objetivo da ambientalização fora explicado.
Formaram-se duplas e um trio, onde apresentavam-se uma para a outra, contando sua história, seu maior sonho e algo que você era bom em fazer. Depois de quase 20 minutos de conversa, cada participante apresentou a história de sua dupla, ao acabarem todas as apresentações, foi pedido que cada uma escrevesse uma crônica usando o maior sonho de alguma participante.
Desse modo, o sonho de alguma maneira seria realizado numa realidade a par, a literária, abordando de formas diversas como cada sonho seria concretizado.
Ser apresentado por outra pessoa, permitiu a cada mulher ver sua história sendo contada por outra, foi possível ver experiências extremamente parecidas, que infelizmente permeiam a vida da mulher negra no Brasil, as diferentes idades permitiram um aprendizado de todas as partes, de apreciar o trabalho de quem possuía anos de trajetória para contar e de quem ainda estava começando.
Segundo Waleska, tanto em Brasília quanto em Campina Grande (PB), foi aplicada a oficina com esse formato que se enquadra como menos teórico e mais prático.
“Não prático no sentido de escrever e sim na forma de se enxergar, ouvir, ver essa força
nas individualidades, poder valorizar as diversidades”, explicou a escritora.
A escritora menciona que a escrita é uma forma de cura. Como mulher negra, Waleska constata o quanto esse processo foi importante, como a fortaleceu e a fez querer permanecer nesse lugar e militando nessa pauta.
Durante a oficina, foi lida pela própria autora uma das crônicas do livro “Que o nosso olhar não se acostume às ausências”, o que permitiu conversar sobre a crônica que a grande maioria das participantes não apenas se identificaram, mas se viram parte.
O texto “Hoje é dia da consciência, negra”, escrito no dia 20 de novembro, foi colocado no blog, feito rapidamente no período de 20 a 30 minutos, logo depois de finalizá-lo Waleska relata que chorou muito, que ele veio com força, e de forma bastante sensorial, trazendo vozes, dores e referências.
A vivência da mulher negra acaba por ser a realidade de muitas que fazem parte desse grupo, cada situação de racismo que enfrentaram na área da literatura e da própria comunicação, há o relato cada dia mais comum do racismo e da misoginia nesse mercado.
Por Fernanda Carvalho Diniz e Ana Flávia Caldeira Aguiar
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira