“Letrinhas da Paz” é um projeto no Distrito Federal de leitura inclusiva com o intuito de incentivar e fomentar o interesse pela leitura nas crianças de forma acessível.
O projeto é voltado para priorizar o acesso de crianças com deficiências, mas promove um espaço de integração onde as crianças com necessidades especiais interagem com outras crianças de desenvolvimento típico.
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A versão original do projeto que se chamava “Letras da paz” foi criado em 2006 e era voltado para o público infantil de modo geral. Mas ao longo do tempo os criadores do projeto perceberam que não havia adesão de crianças com deficiência.
“Por quê? Onde estão essas crianças? Elas também não têm o direito de serem introduzidas à leitura? Não estaríamos com uma ferramenta poderosíssima de inclusão e desenvolvimento dessas crianças?”, questionou Lyara Apostolico, a idealizadora do projeto.
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Assim, pensando no impacto transformador que a leitura pode ter sobre crianças com deficiência e julgando a literatura como uma ferramenta de inclusão social foi criado, em 2022, o “Letrinhas da paz”.
Acessibilidade
“Nossa ideia é tornar a leitura acessível a todas as crianças independente de onde elas se encaixem, porque elas têm que se encaixar em todos os ambientes. […] É trazer a inclusão dessas crianças que muitas vezes ficam a par, especialmente de projetos de leitura”, afirma Maia Helena, 27 anos, educadora física, social e contadora de histórias do projeto.
O projeto foi apresentado pela primeira vez na 5ª Bienal Internacional do Livro de Brasília. Mas a iniciativa pretende se expandir para além do projeto físico.
O próximo passo é criar uma série de materiais de comunicação e de orientação, tais como cartilhas, posts e cartazes, que contemplem as melhores práticas de inclusão.
“Queremos mais do que um espaço temporário na bienal ou eventos em praças. O Letrinhas da Paz deixa um legado de transformação na forma como as crianças e as pessoas com deficiência em geral são incluídas em nossas sociedades, criando um mundo mais amoroso e diverso”, afirma Lyara Apostolico.
Leitura inclusiva
De acordo com a pesquisa divulgada em fevereiro de 2022 pela organização “Todos pela Educação” e com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), feita pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estáticas), no Brasil tem cerca de 2,4 milhões de crianças que não sabem ler e escrever.
“O ato de ler para uma criança, por si só, já traz um conjunto de benefícios tais como o desenvolvimento da linguagem oral, da atenção, do vínculo afetivo, dentre outras”, afirma Lyara Apostolico.
O projeto Letrinhas da Paz vai além da simples leitura do livro, suas atividades são sensoriais, desenvolvem a curiosidade, a interação social e o desenvolvimento motor e emocional.
“Em especial, criamos um espaço com muita afetividade, em que as crianças são chamadas pelo nome, são abraçadas, encaminhadas, desafiadas, incentivadas e comemoradas. Mais do que qualquer outra emoção, a alegria do descobrimento é o que move o espaço”.
Ana Keila Martins, mãe da Isadora de 8 anos, com Síndrome de Down, participou do evento na Bienal do Livro. Ela conta que o projeto é de grande necessidade para o estímulo que fornecem para as crianças.
“Então aqui eles trabalham muito com cores e relacionamento com outras pessoas. Principalmente no conto de história isso dá um desenvolvimento para as crianças. Acho que ajuda bastante”, afirma.
Atividades
O projeto conta com cinco salas com ambientes diferentes onde são desenvolvidas atividades com temáticas que demandam habilidades específicas. Em cada uma das salas tem uma contação de história, voltada para a ideia da sala.
A primeira sala traz como temática a fauna e a flora, nela as crianças entram em contato com animais que estão em extinção com o intuito de mostrar para as crianças a necessidade de preservar o meio ambiente.
A segunda sala tem como tema a água, nela foi desenvolvido um ambiente mais sereno sem muitos estímulos visuais onde é trabalhado alguns instrumentos sonoros com o intuito de promover tranquilidade nas crianças.
A terceira é a sala das bolas, que traz um ambiente colorido com o intuito de exercitar o lúdico e as cores. Neste espaço é trabalhado dinâmicas de troca e de interação social, a ideia é fazer as crianças interagirem entre si e com o ambiente.
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Na quarta sala as crianças ficam livres para desenhar e fazer pinturas. A elas é dado lápis de cores e desenhos impressos para que elas possam exercer a criatividade e a imaginação.
A última sala é chamada de “Sala Ambiente”, na qual as crianças são colocadas em um grande círculo onde terá a última contação de histórias. Após a leitura, é oferecido um lanche para as crianças e elas ficam livres para brincar e interagir entre si.
Escolha dos livros
As contações de história foram desenvolvidas com a premissa de que “Todo livro infantil pode ser acessível”. Isso significa que as crianças com deficiência não precisam ficar restritas a livros acessíveis, feitos exclusivamente para as suas necessidades. Por isso, a maioria das histórias contadas no projeto são retiradas de livros comuns, destinadas a crianças com desenvolvimento típico.
“Não precisamos esperar pela boa vontade da indústria editorial, ou de alguns projetos pontuais, para criar livros acessíveis. Nós podemos, a partir dos livros que estão disponíveis no mercado, realizar intervenções criativas que façam com que esses livros se tornem acessíveis para todas as crianças”, conta a especialista de projetos de alto impacto, Lyara Apostolico.
Assim, os livros são selecionados por especialistas em literatura infantil. Os contadores de história atuam como intermediários da leitura e a contação de história é elaborada de forma que sobressaia o texto e a ilustração.
Ao adicionar elementos como relevos, texturas, odores e movimentos, um livro comum pode ser compreendido e contemplado pelas mais diversas crianças.
Por Ana Clara Neves, Danyelle Silva e Luana Nogueira
Fotos por Danyelle Carvalho