Em um mundo cada dia mais capitalista e competitivo é normal a criação de ‘muros sociais e culturais’ entre nações, áreas do conhecimento e até mesmo entre as pessoas. O estudo da Psicologia Cultural surge então, neste cenário, como um marco inicial de estabelecimento de pontes entre as partes, sempre apontando para o desenvolvimento social.
Em uma mesa redonda, que aconteceu em um congresso em uma Faculdade em Brasília, diversos estudantes debateram o tema “Psicologia Cultural e da sua influência no Desenvolvimento Humano”. A mesa redonda contou com a participação do antropólogo Dr. José Bezerril e das psicólogas Drª Angela Uchôa Branco e Drª Maria Lopes de Oliveira.
Para a coordenadora do curso de psicologia e também mediadora da mesa-redonda, Dr.ª Ana Flávia do Amaral Madureira, muitas vezes alguns profissionais da psicologia se distanciam de algumas ciências e comprometem diretamente possíveis avanços no estudo do desenvolvimento do homem.
A psicóloga Angela Uchôa Branco, contribuiu para o esclarecimento sobre o tema e explicou: “A cultura não influência o desenvolvimento, ela é o construto central para o desenvolvimento humano. Ela se transforma pelo homem e também é pautada pela atuação do mesmo por diversas competências” disse Uchôa fundamentada nos pensamentos e estudos de Lev Semenovitch Vygotsky. Vygostky é um importante cientista bielo-russo, pensador pioneiro no conceito de que o desenvolvimento intelectual das crianças ocorre em função das interações sociais e condições de vida.
Charles Sanders Peirce, filósofo, pedagogista, cientista e matemático americano, que possui trabalhos importantes com contribuições à lógica, matemática, filosofia e, principalmente à semiótica, também ajudou Drª Angela à ilustrar como a mente do homem compreende o mundo em sua volta através dos signos, símbolos e ícones.
“O fato de lidarmos no cotidiano com os significados, significantes e as mais diversas formas de produção de sentidos, nos provam cada vez mais a função do nosso contexto social como agente transformador do desenvolvimento humano” disse Drª Andrea.
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CANALIZAÇÃO CULTURAL
Para ela este processo de desenvolvimento é caracterizado pela Canalização Cultural, que nada mais é que a absorção das diretrizes morais, éticas, religiosas, sentimentais e tantas outras que são repassadas nos seios familiares, de pais para filhos, e canalizadas ao longo dos séculos, o que determinam estas direções culturais diferentes em cada região do mundo.
Para apronfundar um pouco mais, a Drª falou sobre os estudos de Brunner Valsiner que mostram a nossa mente como criadora de significados e constituída pela cultura. O pensador que iniciou as reflexões das “mentes sociais”, há 50 anos já propunha uma psicologia interessada na ação e também no caráter situacional, focada nas formas de como os seres humanos produzem significados nos contextos culturais.
Para a Drª Angela Uchôa, o pensamento do autor mostra a revolução biocultural dos pensamentos sobre a psicologia e a compreensão da humanidade. “Não existe uma única causa para o desenvolvimento de uma pessoa. São muitas as intervenções que moldam alguém. E esta condução do sujeito para o desenvolvimento intelectual na maioria das vezes será sempre esta: a de pai para filho. Mas isto se dá, tanto em condições ativas de internalização de valores, quanto pela condição ativa de liberdade da externalização destes valores pelo sujeito. Isto se explica como pode existir dois irmãos criados pelo mesmo grupo familiar com os mesmos valores, e em um mesmo ambiente, no entanto, um deles se torna um médico e outro um viciado em drogas, por exemplo.” ressaltou.
Temas como individualismo, consumismo, competição, moral e ética também foram abordados na explanação da Drª Ângela, para que os participantes pudessem se situar na esmiuçada definição do construtivismo, como teoria científica.
PROSA BOA
Para compreender o papel da Antropologia, da Sociologia e da Psicologia no estudo da cultura e das relações do homem, a professora citou algumas magníficas contribuições de pensadores como Sigmund Freud, Burrhus Frederic Skinner e Edmund Gustav Albrecht Husserl.
A partir dos autores citados, uma concepção se tornou consensual em toda a discussão: “Todos nós nos constituímos na interação com a cultura”. Agora, a idéia da sociogenese – alterações nas estruturas de personalidades dos seres individuais que a compõem a sociedade – e principalmente como as culturas são marcadas pelo capitalismo em um processo de ocidentalização [particularmente européia] do homem moderno, ficou claro para o auditório.
O fechamento do enredo foi feito pelo antropólogo Dr. José Bezerril, que trouxe uma contribuição sobre o que, de fato, é o ser humano, quais são as distinções que o constituem fisiologicamente e quais são as características específicas da cultura e o seu papel social.
“A natureza humana é cultural e aquilo que temos de diferentes potencializa cada vez mais a produção cultural. Esta revolução é evidente. E o que somos não está somente dentro da gente, [da pele para dentro] o que somos está no nosso contato com o mundo, com as pessoas, com as religiões, com os objetos, com as coisas e isso produz as sociedades. O que temos que fazer é considerar a cultura como um horizonte de possibilidades, ela não causa alguma coisa, ela torna as coisas possíveis. Hoje apenas iniciamos o nosso papel de repensar os conceitos da sociedade e cultura. As ciências sociais, a comunicação, a política, a própria religião tudo isso devem ser analisados como fruto de nós mesmos. Todas as nossas desigualdades passam pelas coisas e nós estamos apenas começando esta provocação” finalizou Bezzeril.
Por Ronie Lobato