Brasília, 63 anos: injustiça arquitetônica e reduzida acessibilidade ainda marcam capital, lamenta especialista

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A brasiliense Lidia Sousa Martins, deficiente visual, não tem muito a comemorar no aniversário de 63 anos da capital. Andar pela cidade, para ela, é um sacrifício. “Brasília é muito difícil de andar como deficiente visual. Existem muitos desníveis nos projetos. Muitas vezes não constroem garagens o suficiente, fazendo com que muitos carros fiquem no meio da rua e atrapalhem a sinalização”. 

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil/Arquivo

A falta dos pisos táteis e de informações em braile nos edifícios tornam difícil a simples circulação de deficientes visuais, assim como para os deficientes físicos. 

A servidora pública Carla Cardozo da Silva lamenta as dificuldades de se locomover por Brasília em cadeira de rodas: “Quando vim pra Brasília em 1994, eu quase não saia de casa e não tinha vida social porque a acessibilidade em bares e em restaurantes era inexistente. Hoje em dia, essa acessibilidade em alguns ambientes que fazem passagens inadequadas.”

O professor de arquitetura e urbanismo Frederico Flósculo diz que Brasília reforça o quanto a arquitetura e urbanismo servem ao grande poder que comanda, que faz o projeto e manda replicar nos espaços. 

Ele aponta que o projeto original do arquiteto Lúcio Costa previu a possibilidade de Brasília ser socialmente mais justa. O projeto inicial contava com a criação de superquadras onde existiria a criação de blocos com diferentes alturas, sendo assim mais inclusivo economicamente. 

Flósculo aponta que Lúcio Costa desejava que houvesse diferentes opções de valores dos blocos, numa mesma quadra poderia morar o senador e seu motorista. 

Porém, segundo ele registra, houve uma oposição do engenheiro Israel Pinheiro, já que a criação de blocos de diferentes alturas poderia ser antieconômico em função da necessidade de elevadores, o que tornaria tudo mais caro.

Para Frederico Flósculo, o governo nunca deixou de impor padrões de urbanismo de péssima qualidade tanto para as recém criadas cidades satélites (atuais regiões administrativas) quanto para as quadras que seriam para as classes populares.

“Esse é um assunto vergonhoso para os urbanistas de Brasília até hoje porque sabemos perfeitamente que o governo não para de abaixar o nível do investimento no urbanismo.”

Para o especialista, esse é um problema sério na capital, criando exclusões de  parte da população.

“Isso poderia mudar. Depende crucialmente da vontade política dos governos. A arquitetura e os arquitetos não têm força para mudar esse jogo e é natural que a arquitetura seja tão desigual porque ela reflete esse desequilíbrio”.

Por Giovanna Costa

Supervisão de Luiz Claudio Ferreira

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