Originada a partir da miscigenação religiosa no período colonial, a umbanda é considerada puramente brasileira, mas com raízes religiosas africanas, indígenas e espíritas. No Distrito Federal, adeptos estão preocupados com as manifestações de preconceitos e outras violências.
Na capital antes da inauguração
Segundo o pesquisador Ordep Serra em “No caminho de Aruanda: A Umbanda Candanga Revisitada”, o desenvolvimento da religião no DF começou em 1958, alguns anos antes da inauguração de Brasília.
Os primeiros centros se concentravam na W3 Sul e na Ceilândia, porém, conforme a cidade cresceu, a religião também.
Em 2018, uma parceria entre a Fundação Palmares, Ministério da Cultura e UnB mapeou cerca de 330 terreiros no Distrito Federal e entorno, sendo 57% destes pertencentes a umbanda.
Em entrevista para essa matéria, Mãe Leia do Terreiro Luz de Yorimá afirma que, atualmente, o número de terreiros nas regiões centrais de Brasília é reduzido.
“As religiões afro-brasileiras, assim como a população que ela representa, que são muito mais os indígenas e a população negra, que foram sendo afastadas. Tanto que no plano piloto, somos pouquíssimas, quase não tem nada, a maioria é no entorno” afirma.

Demolição
Em depoimento à audiência pública da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados realizada em 2019, a antiga mãe de santo Vera Chiodi, da Casa Luz de Yorimá, relata a demolição do centro, acontecido em 2009.
“A casa que presido foi constituída em 2003. Alugamos parte de um galpão de uma oficina mecânica na Asa Norte. Ali ficamos até 2009. Dia 12 de junho daquele ano, o então governador do DF, José Roberto Arruda, editou uma lei sobre instituições sociais e religiosas. Dez dias depois nossa casa foi derrubada”.

Tentamos contato com a Secretaria de Cultura sobre o caso mas não obtivemos resposta. Catorze anos se passaram após a derrubada do centro e a negligência do governo ainda continua.
“Tem um processo andando, mas pelo menos a gente tem uma questão do Ministério Público que diz que eles não podem nos derrubar enquanto estiverem regularizando”, afirma a atual mãe de santo, Leila.
Além da situação de regulamentação do terreno, sistema de água e luz ainda são problemas que o governo do DF ainda fecha os olhos e ignora.
“Aqui não tem água, a gente não consegue água, não consegue luz, não consegue iluminação ali na frente. É uma luta”, explica.
Persistência
Apesar de todas as dificuldades e adversidades, o povo de terreiro tem muito orgulho de fazer parte da religião e garra para se manter forte contra os problemas.
“Nós somos uma religião de arte brasileira. Então a gente tem que tomar gosto pela luta. Porque é uma luta. Quando eu olho pra trás, para os ancestrais, para eles ainda era pior do que é para mim.” diz a mãe de santo.
Foco, força e fé. Com o mesmo propósito de cultuar seus orixás, a comunidade da umbanda faz um papel de núcleo familiar. O apoio, o respeito e o carinho são pilares dentro dos centros.
“A gente vive em termos de comunidade, família. E a gente se torna uma família de santos. Tanto que eu sou mãe, tenho filhos, tenho um irmão, tenho avô, tenho neto de santo”, avalia Leila.

Por Marina Dantas (texto e fotos)
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira