Incentivar a prática do vôlei para os jovens surdos e revelar novos talentos para no futuro compor nossas seleções de surdoatletas. Esse é um objetivo de um projeto, nascido em São Paulo com o ex-jogador Xandó em 2013. A senadora Leila Barros trouxe o projeto para a capital e completa um ano no mês que vem.
Em 2017, o projeto denominado “Clínicas de Vôlei para Surdos”, no estado de São Paulo, rodou 24 cidades em dois anos. A escolinha de voleibol de surdos na capital paulista funciona também desde essa época.
Em Brasília, esse trabalho iniciou em maio de 2022 e em princípio irá até julho de 2023, e poderá ser prorrogado a depender de uma nova emenda da senadora.
O projeto ocorre toda quinta-feira, das 19h às 22h, e um sábado por mês, das 14h às 18h, nas quadras de vôlei do CIEF (SGAS 907/908, lotes 25/26, Asa Sul, Brasília). Para participar, é necessário ser surdo e ter mais de 16 anos.

Parcerias
Como Xandó mora em São Paulo, convidou o também ex-jogador e atleta olímpico de vôlei Rui Campos do Nascimento. Ele chamou dois professores e jogadores de vôlei para a missão: Michele e o ex-jogador Joab Mariano, que também é intérprete de Libras. Os dois treinadores ganharam até sinal próprio, é apelido em Libras.
O Joab Mariano diz que começou a entender um pouco mais de Libras em 2017. Ele vivenciou uma situação desgrádavel dentro do ônibus: uma pessoa surda estava com dificuldade de passar o cartão, e o motorista e o cobrador começaram a gritar com ela, ao invés de tentarem se comunicar de outra forma.
A pessoa desceu chorando. Joab ficou sem jeito pois percebeu que ela só se comunica em Libras. Por isso, decidiu estudar Libras para ajudar os sinalizantes na comunicação com as vividas por ele. E se aproximou cada vez mais da “comunidade surda”.
Ele começou como zootecnista, mas acabou migrando para tradutor e intérprete de Libras. Ele espera um dia reencontrar-se com a pessoa do ônibus, para agradecê-la pois ela foi uma incentivadora para ele se envolver com a “comunidade surda” e entender sobre a importância da inclusão.
Diferente de Rui e Michele, o Joab já participou de vários projetos que envolvem a “comunidade surda” e acessibilidade.
Entre saques e manchetes
Matheus é um surdo bilíngue e um dos surdoatletas do projeto. Ele nasceu surdo, tem perda moderada. Ele começou a usar os aparelhos auditivos com 6 anos de idade. Como apresentava muita dificuldade para falar e diferenciar os sons, a mãe dele proporcionou um tratamento com uma profissional de fonoaudiologia.
Por conta das fonoterapias, ele fala e se expressa muito bem na Língua Portuguesa, e buscou aprender Libras para poder se comunicar com os surdos sinalizantes.
Para ele, o projeto traz duas conquistas: saúde e inclusão, já que agrega qualquer pessoa surda, seja ela sinalizante, bilíngue e/ou oralizada que queira aprender vôlei.
Para ele, outro ponto positivo do projeto, é que ele emagreceu e tomou gosto pelo esporte – inclusive a respiração dele melhorou.
Outro ponto que ele destaca é o profissionalismo dos professores que estão constantemente incluindo todo atleta, independente do nível como desportista. Todos ganham, dos novatos aos veteranos.
Histórias na quadra
Pammelleye é uma surdatleta bilingue que também participa do projeto. Ela perdeu a audição aos 6 anos por conta de excesso de antibiótico.
Estudou em escola de surdos e conviveu com Libras desde cedo, é usuária de aparelhos auditivos, e se comunica mais em Libras.
Ela espera que o projeto continue por conta da importância de preparo físico, saúde e inclusão. De vez em quando, o projeto promove jogos contra os ouvintes, ela destaca que é muito diferente a prática dos esportes com ouvintes, mas que esses jogos são muitos agregadores para eles, surdos.
No entanto ela destaca que percebe que entre surdos dá se mais oportunidades a todos, assim como ela não vê exclusão como observa entre os ouvintes… Para ela é muito importante que o projeto continue, primeiro por conta da saúde, segundo porque é uma forma de mostrar aos ouvintes que existem formas para incluir os surdos apesar das diferenças de comunicação.
Os três professores dizem que têm uma grande expectativa, pois percebem que o grupo tem melhorado a performance, e trazido novos surdoatletas para os treinamentos.
Por Natalia Francescutti
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira