O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no final de 2021, registrou que 33,7% dos trabalhadores de Brasília estavam na informalidade. Conforme o levantamento, dos 1,52 milhão de brasilienses ocupados, 513 mil estavam em situação irregular.
Leia mais sobre comércio informal
No resto do país, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (Pnad), a média anual de trabalhadores sem carteira de trabalho assinada atingiu 12,9 milhões em 2022, número recorde desde a criação do Pnad em 2012. Também foram registrados 38,8 milhões de trabalhadores informais.
Uma dessas pessoas em informalidade é o paraibano Francisco Saturnino, que veio em 1986 para a capital na busca de fundar o próprio negócio depois de ter trabalhado com vendas durante anos.
Desde a sua chegada, ele trabalha no Plano Piloto, rodando várias quadras para atender o maior público possível. Ele afirma que também não está no comércio físico devido às altas despesas. “Atualmente vendemos mais do que uma loja física”, revela Francisco.
“Comecei em uma kombi antiga e hoje tenho um caminhão no valor de meio milhão de reais”
![](https://agenciadenoticias.uniceub.br/wp-content/uploads/2023/05/IMG_1328-1024x659.jpg)
Ele destaca a evolução do seu empreendimento: há 3 anos, o dono trocou o transporte anterior por um caminhão que possui um sistema de energia solar para manter refrigerado alguns produtos.
“Como a gente trabalha na rua, não tem como ter um ponto de energia em cada lugar”, explica. Antes, ele usava caixas de isopor, porém não conseguia manter a qualidade dos alimentos.
O comerciante emprega mais sete pessoas: a sua esposa, as suas duas filhas, o irmão e outros três funcionários.
Ele estipula que atende de 4 a 5 mil pessoas. Francisco ainda conta que já viu gerações de clientes passando no seu caminhão.
“Os pais traziam os filhos, e agora essas crianças cresceram e trazem os próprios filhos”.
Outro nordestino que foi atraído para Brasília é João Tavares. Nascido em Pernambuco, veio para o Centro-Oeste aos 21 anos. No início, trabalhou por 5 anos em postos de gasolina na Asa Sul e em Taguatinga.
Depois, ficou um tempo fichado em uma firma, mas foi convencido pelo seu cunhado a sair do emprego para trabalharem juntos vendendo hortaliças.
“Ele (o cunhado) parava nas quadras do Plano em uma kombi e ficava gritando ‘olha o verdureiro’. Foi fazendo aos poucos a freguesia”, menciona o pernambucano. Hoje, João trabalha com os dois filhos e mais um funcionário de segunda à quinta, das sete da manhã até meio dia, na Asa Sul e na Octogonal.
“Não posso competir com os supermercados. Eles compram em grande quantidade, então o preço das mercadorias cai”
![](https://agenciadenoticias.uniceub.br/wp-content/uploads/2023/05/IMG_1388-1024x871.jpg)
Ele relata que, apesar de possuir uma boa clientela, a concorrência é complicada. Como ele abastece o “estoque” em menores quantidades todos os dias, o preço final dos seus produtos aumenta um pouco em relação ao dos estabelecimentos maiores.
O verdureiro, que tem 75 anos, ainda fala sobre a sua aposentadoria: “Aposentei aos 55 anos com um salário mínimo do INSS, que paguei por fora durante 20 anos”. Ele confessa que optou por continuar trabalhando devido à baixa renda recebida pela aposentadoria.
João conta que acorda sempre às 3 horas da manhã em dias de serviço: “De todos os empregos que já tive, esse é o mais puxado”. Mesmo com a rotina difícil, ele afirma que a principal vantagem é ter autonomia e ser dono do próprio negócio.
Por Catharina Braga
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira