“Vim de lá pequenininho”: Pipoka, do basquete, e Rani, do UFC, explicam caminhos do DF até a vitória

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Distrito Federal, capital do Brasil, para muitos, essa forma quadrangular no mapa só é vista como uma região política, porém, não é bem assim. Da terra seca do Cerrado, há um jazida, mas não de ouro, ou melhor, pode até ser que vire algum dia, com atletas que daqui vem.

Eles que começam seus encantos por aqui, para depois encantar o mundo. E fazem com que a população do DF cante os versos de Dona Ivone Lara com orgulho de ver no alto um dos seus:

“Eu vim de lá, eu vim de lá pequenininho”

Esse quadradinho, que devido ao esporte, muda de forma a cada vez que eu ligo a TV. Ele vira uma esfera, similar a uma bola de basquete que o Pipoka dominou e chegou a NBA, ou até um triângulo, muito comum nas lutas do Rani Yahya no UFC. Os atletas do DF fazem esse simples quadrado, virar qualquer coisa, mas eles têm uma preferência, transformar esse sonho quadrangular em realidade.

“Eu não tinha nada a perder”

Nascido no Hospital de Base, João José Vianna anos depois seria conhecido como Pipoka. Com uma infância na 106 sul, ele e seus amigos brincavam muito na rua, gostavam de inventar brincadeiras e de usar as estruturas da entrequadra 106-107 . Até que um dia, um professor começou a dar aulas de basquete por ali, com aulas nas segundas, quartas e sextas. Com as aulas, um garoto, já acima da média ,em termos de altura, começou a criar gosto por aquilo.

Antes dos Jogos Olímpicos, Pipoka, em Brasília, foi um dos esportistas que desfilaram com a tocha Foto: Andre Borges/Agência Brasília.

O professor parou de ensinar por ali , porém não tinha mais volta, Pipoka já tinha gostado do esporte. Com o fim das aulas na sua região, o brasiliense, junto de seu pai, foi atrás de um time para continuar jogando basquete. O tempo passou e ele foi evoluindo no esporte, até que foi convocado para a seleção de Brasília para jogar os jogos escolares brasileiros.

Nesse JEBS (Jogos Escolares Brasileiros), que aconteceu em Brasília, a maior mudança na vida aconteceria. Um técnico, José Edvar Simões, e um jogador, Ubiratan Pereira Maciel, vieram dar uma palestra no DF e foram avisados que havia um jogador de destaque, alto, por essas terras. Após observações, um funcionário do São José ofereceu uma boa proposta para Pipoka e seus pais. Ainda deram passagem de ida e volta caso Pipoka não gostasse, porém esse ticket nunca foi usado.

“ Eu não tinha nada a perder, acabei aceitando e só voltei para Brasília 30 anos depois”

14 anos e um mundo já conquistado

Para continuar a história precisamos, sair da quadra 106, na Asa Sul, e andar até a W3 Sul, por lá pegamos a linha 2205 rumo ao Gama, onde outra história começa. Com início no Jiu-jitsu aos 11 anos de idade, Rani Yahya teve as primeiras experiências no esporte. Com o treino, ele pegou gosto e decidiu competir. Na primeira competição, o título não veio, mas se você pensa que isso o desanimou, não foi bem assim.

O brasiliense Rani Yahya (de pé fazendo sinal de positivo) dá aula de jiu-jitsu na capital. Foto: Arquivo pessoal

“Nessa primeira competição que eu fiz ,eu tinha 11 anos ,eu senti o cheiro do Ouro, mas por um detalhe ali eu não fui campeão e aí eu fiquei obcecado para eu ganhar um próximo campeonato ”.

É com essa obsessão, ele venceu, aí venceu de novo, aí de novo, disputou fora de Brasília e advinha, venceu novamente. Com 13 anos, Rani disputou o Mundial de Jiu-Jitsu na categoria Juvenil (16-17 anos), na primeira oportunidade saiu derrotado, mas um ano depois, em 1999, conquistou o mundo com apenas 14 anos de idade. O feito foi durante muito tempo um recorde, a pessoa mais nova a se tornar campeã mundial de jiu-jitsu.

História na terra do Tio Sam

Com o passar do tempo e com o aprimoramento individual, os atletas começaram a se ver na elite de seus esportes e as maiores competições faziam parte de suas vidas. Para essa parte do texto, vamos começar em 1987, em Indianápolis, Estados Unidos. Pan-Americano, final do basquete masculino. Resultado final: Brasil campeão e quebra de uma invencibilidade de 34 partidas oficiais dos donos da casa.

Para o Pipoka, por já terem atingido o objetivo (ir à final do Pan), tudo a partir dali seria festa. “ A gente foi muito tranquilo pro ginásio” Com a pressão sobre os adversários, o Brasil se deu melhor e conquistou o histórico ouro.

Vinte anos depois, Brasília voltou ao topo, de novo nos Estados Unidos, dessa vez no Jiu Jitsu, com Rani Yahya. Com 22 anos, o brasiliense venceu o ADCC de 2007, competição que acontece de dois em dois anos e é considerada a Copa do Mundo do Submission. O brasileiro saiu vencedor e mesmo com muitos títulos no currículo, esse ainda tem um lugar especial.

“ Foi o campeonato mais importante que eu ganhei até hoje”

Pipoka pega o rebote e Rani finaliza

Com mais de dois metros de altura, Pipoka se definia como um carregador de piano, sem muito refinamento técnico, mas que fazia as funções do pivô, pegava rebote, dava toco, jogava de costas, trabalhava de baixo da cesta, dentre outras coisas. E foi com esse estilo de jogo que o jogador foi o primeiro brasiliense a jogar na NBA.

“Foi muito legal, porque é outro nível”, diz Pipoka sobre a sua passagem pela equipe do Dallas Mavericks, da NBA.

E para finalizar, não há ninguém melhor do que Rani Yahya, o lutador é recordista de vitórias por finalização da categoria peso galo ( até 61kg) do UFC, a maior organização de MMA do mundo.

E para quem não entende o que é esse termo, o brasiliense é o mais qualificado para explicar o que é esse golpe.

Estudo e treino

Ao final das conversas que tive com os atletas, perguntei quais conselhos eles dariam para aquelas que buscam conquistar o que os dois conquistaram.

Com experiência não só no esporte mas também no ensino, Pipoka, atualmente professor universitário, e Rani Yahya, lutador e professor de Jiu-Jitsu, os campeões disseram:

Pipoka: “O conselho principal nessa fase de sonho é de estudar e treinar. As duas coisas têm que andar paralelas, diárias e com muita dedicação. Estudar para a vida depois do esporte, e no basquete para poder ler o jogo.

Além disso, o treinamento não se limita apenas aos horários da equipe, tem o treinamento fora. E também tem o treino invisível, alimentação e descanso.

Todo mundo quer chegar no paraíso, mas ninguém quer morrer. Qual é o sacrifício que você quer fazer para chegar lá?”

Rani Yahya: “ Então, você sabe que eu estava vendo uma entrevista do Bernardinho, técnico de vôlei super campeão, e foi perguntado para ele. Qual é o grande segredo dos campeões? Ele falou algo muito simples, o segredo é uma coisa que a pessoa muitas vezes não quer ouvir, a pessoa quer ouvir algo diferente, mas é o quê? Treinar muito, esse é o grande x da questão .E para treinar muito , tem que gostar muito do que tá fazendo.

“Então acho que esse é o segredo. Eu vou adicionar o que o Bernardinho falou. Ele disse que é treinar muito, mas eu acho que é você gostar muito do que você faz, porque aí você vai diminuir muito aquela sensação de que você está tendo um esforço demasiado. Eu acho que você vai estar tendo um esforço, mas vai estar sentindo ali que tá fazendo por uma coisa que você gosta”.

Por Marcello Hendriks

Supervisão de Luiz Claudio Ferreira

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