Crise climática: jovens no DF revelam necessidade de luta por conscientização

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A crise climática tem feito com que moradores das áreas rurais se mudem para zonas urbanas. Isso interfere diretamente na alimentação e saúde dos mais jovens.

O ativista Yadriel Rosado, de 16 anos de idade, diz que é necessário conscientizar as futuras gerações conre os efeitos das mudanças climáticas.

Ele passou a fazer parte da entidade Jovens Pelo Clima como um apelo por mudança. Somos gerados pelo nosso meio, com esse jovem não foi diferente. Crescer no governo Temer, viver durante a era bolsonarista e passar pelo desespero apocalíptico da pandemia o fez ver a importância das discussões ambientais. 

De onde vem a comida

“Eu sinto muita raiva, desespero, tristeza e indignação”. Essa é a expressão do jovem ativista João Suhet, de Brasília. Lutando contra a crise climática a partir de um dos cinco biomas que compõem esse país de extensão continental, o cerrado é plano de fundo para jovens na capital candanga. O santuário da recarga dos aquíferos concentra 70% das bacias que deságuam nas terras brasileiras.

De norte a sul, as árvores postas ao chão, arrancadas pela ganância do agronegócio, são a arma letal que findam os rios. Com tendência de redução das precipitações, o aumento de chuvas acontece em eventos extremos e de forma esporádica, como constata a especialista Francis Lacerda.

Para ela, viver é preciso, comer e respirar é um ato político. O meio ambiente é casa e nutriente, mas o fulgor autocentrado, que torna a humanidade distante do ecossistema em que ela própria é gerada, afasta os direitos básicos da realidade de milhões de habitantes.

A geração climática

“Um período em que começaram a divulgar, ter maior acesso sobre a crise ambiental que estava ocorrendo no planeta. Só que ao mesmo tempo esse acesso era restrito. Diziam ‘ah, a temperatura está aumentando, o planeta está sofrendo as consequências das ações antrópicas’. Mas essa divulgação nunca diz quem são os culpados e o que a gente pode fazer concretamente. Escovar os dentes com a torneira fechada e andar de bicicleta não é o que vai mudar o mundo.”

Em homenagem ao primeiro ano das mortes de Bruno Pereira e Dom Phillips, indígenas fazem manifesto pela conservação ambiental. Crédito: Juliana Weizel

João Suhet, um universitário de 20 anos, se autodeclara pessimista. Mas isso não paralisa suas ações. Ele declara que sente o futuro nas mãos e que não é um futuro legal. “Ao mesmo tempo você sente que existe um certo gás ainda, de que é necessário a gente continuar lutando”.

Ele é enfático ao dizer que apesar de toda a ansiedade, medo e desespero, a percepção dele e do grupo de jovens que compõe é clara. “O debate do clima não é pro futuro, a juventude não é o futuro, a gente tem o agora”. O ativista acrescenta a necessidade de pensar no futuro que a sociedade quer construir, mas os problemas climáticos já estão presentes e afetam cada geração que vive nesse solo.

A angústia, ao ler os relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), é compartilhada. Saber que a conjuntura atual vai na contra-mão das medidas necessárias para mudar décadas de destruição é o próprio pesadelo.

Para Yadriel, o Jovens Pelo Clima (JPC) é sobre a tentativa do que parece ser impossível. Dentro das limitações, a juventude está fazendo acontecer. “Acreditar na possibilidade de nós enquanto sociedade, enquanto juventude, nos unirmos para lutar vivamente e diariamente”, completa. 

Batalha em 2023

A climatologista Francis Lacerda dispõe sobre o panorama. Quando questionada sobre os desafios a curto prazo, as principais problemáticas: hídrica, energética e alimentar; têm um denominador comum, o fenômeno El Niño.

“O problema atual do El Niño é a grande concentração de energia dos oceanos, gerada pela quantidade de CO2 dissolvido na água, que tem retido calor. Por causa dessa quantidade de CO2 que desemboca na acidificação dos oceanos, aí temos enfraquecimento dos corais, impactos dentro dos oceanos, derretimento das geleiras. A tendência é esses fenômenos naturais se tornarem mais intensos e mais frequentes”, diz Francis.

Saber dessas informações, o jovem sozinho frente às notícias, é um sofrimento mental e emocional. “Eu quero ter um futuro, eu tenho planos, eu tenho desejos, mas sozinho não faço nada”, diz João Suhet. Para o ativista climático, fazer alguma coisa com o JPC, se torna algumas coisas e são elas que dão alívio e acendem a chama. Não é uma opção talvez conseguir, não é uma opção deixar de lutar.

“É o planeta que a gente tem. Não tem planeta B. Planeta B se tiver vai ser só pra alguns bilionários daqui a algum tempo. Que tiverem sorte pra isso. Não vai ser para a maior parte da população”, alerta Yadriel.

*Referência à fala de Rosa Luxemburgo: “Quem não se movimenta não sente as correntes que os prendem”. Arte: Juliana Weizel

Essas disparidades são um problema do próprio sistema. A especialista relata que o atual modelo é inadequado para a socialização da energia como forma de autogestão das famílias que habitam as regiões escassas. A realidade de hoje centraliza e não distribui, por isso não tem outra saída senão pelas energias renováveis.

Ansiedade climática 

“Eu achava interessante o que o movimento estava fazendo, mas eu tinha um receio de me envolver com política. Não só pelo governo, mas milícias e empresas”. “A gente precisa entender que a nossa luta é sócio-ambiental”. “O sistema em que estamos agora é responsável pela crise climática e essas mudanças vão atingir as pessoas que são historicamente deixadas à margem”. 

Os desabafos do João Suhet exprimem a crise da crise. O caos climático atinge a juventude aumentando o mal do século. Ansiedade climática. 

Ansiedade… pelas séries históricas que mostram alteração no ciclo hidrológico. O resumo dado pela meteorologista sobre o El Niño se caracteriza por água, usinas hidrelétricas, energia e apagões. Um apelo: vivenciar práticas agroecológicas. Voltamos. Nunca saímos da crise. Qual o grau de impacto na agricultura familiar? O que será da produção de alimentos?

Alimentos não são commodities

Ela frisa: a-l-i-m-e-n-t-o-s. Não são commodities, não é plantação e exportação de soja para a engorda de porcos na China. É comida na mesa do brasileiro.    

Yadriel Rosado, de 16 anos, sabe da dificuldade da sociedade civil de se unir, principalmente depois da ditadura militar. Seguimos em frente tentando tapar um buraco muito grande ao invés de consertá-lo. 

“Ter esse diálogo com as pessoas enquanto movimento social é crucial, não somos detentores das palavras, somos pessoas comuns. Estamos mais perto dessas pessoas do que dos ricos”, declara Yadriel. Nessa conjuntura, ele retoma que a juventude tem um papel histórico de luta no Brasil, faz parte dessa categoria olhar para as mazelas e não ter um pensamento conformista. É lutar, mesmo com todos os perigos.

“Somos um dos países que mais mata ambientalista em todo o mundo”

Foto: Juliana Weizel

Pretas, indígenas e mulheres, o Sul Global é formado por realidades distintas. Seguindo as palavras de Chico Mendes, é preciso esperançar. “Eu sinto que eu não tenho outra opção que não seja agir, mesmo que através das palavras em uma poesia”, desabafa João. Movimentos estão sendo feitos, mesmo que a maioria escolha inviabilizá-los. 

O Jovens Pelo Clima participou de uma reunião com a Associação Acadêmica de Indígenas da UnB. Na semana anterior, a Maloca (Centro de Convivência Multicultural dos Povos Indígenas da Universidade de Brasília) abrigou o evento de homenagem de um ano do assassinato de Bruno Pereira e Dom Philips.

Inspirada pelo poema ‘Cárcere das almas’, de Cruz e Souza. Olhando imensidades de jovens presos nesse calabouço da crise climática. Saio das entrevistas com um olhar diferente do que entrei. A juventude não está sentada à espera do chaveiro do céu. Suas almas não estão mudas e a sua grandeza se faz no agora. 

Vivemos uma economia da destruição e os modelos estão se chocando. Lembremos de Chico, Irmã Dorothy, Dom, Bruno e Maxciel Pereira.

“O esquecimento vai fazer com que eles sejam assassinados de novo; e dessa vez por nós”, afirmou o procurador Felício Pontes no evento em junho. Diante das violências e abusos contra o clima, os jovens lamentam as ausências, mas se fazem presentes na luta.

Por Juliana Weizel

Supervisão de Luiz Claudio Ferreira

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