Covid-19: hesitação vacinal de pais de crianças e adolescentes chega a 35%

COMPARTILHE ESSA MATÉRIA

Ministério da Saúde se preocupa com baixa adesão da vacinação devido a desinformação

A adesão de crianças e adolescentes à vacinação de Covid-19 é um fator preocupante para os especialistas. Um estudo recente da Inteligência em Pesquisa e Consultoria (Ipec), feito a pedido da fabricante Pfizer, revela que, no Brasil, 59% dos pais de crianças e adolescentes de até 14 anos dizem que a doença é a que mais os preocupa, mas 31% não reconhecem que as vacinas protegem das formas graves da doença.

Foto: Agência Brasil

A pesquisa também aponta que 67% dos entrevistados dizem ter recebido algum tipo de fake news sobre a vacina, e 35% afirmam que tal informação levou à hesitação vacinal. O levantamento informa, ainda, a grande resistência de parte dos pais entrevistados em proteger os filhos: 14% dos participantes afirmam que não vão vacinar suas crianças contra a Covid-19.

O boletim epidemiológico publicado no dia 5 de junho deste ano pela Secretaria de Saúde do Distrito Federal contabiliza 94.244 casos de covid-19 em crianças e adolescentes até 19 anos. Desse número, 25 vieram a óbito. A Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou fim da Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (ESPII) no dia 5 de maio de 2023, mas ressaltou que a ação “não significa que a COVID-19 tenha deixado de ser uma ameaça à saúde”.

No Distrito Federal, foram aplicadas 8.284.815 vacinas contra a covid-19. Desse número,  300.600 foram do imunizante Pfizer Infantil em crianças de 5 a 11 anos, o que representa 3,47% do público geral vacinado. Crianças de 6 meses a 4 anos e 11 meses são imunizadas com a Pfizer Baby. No DF, 59.440 crianças receberam o imunizante, o que totaliza 0,69% da população geral vacinada.

Não imunizados

A estudante Elizabeth Aguiar, conhecida como Liza pelos mais próximos, tem 13 anos e não tomou as vacinas de Covid-19. A mãe dela, Luciene Aguiar, conta que a filha teve um problema no coração aos dois anos de idade. Aos 3, ela foi operada e segue em acompanhamento com um cardiologista. O médico que a acompanha recomendou a não imunização contra o vírus, segundo Luciene, devido ao tempo recorde de produção do imunizante. 

“O médico não recomendou que aplicasse porque geralmente uma vacina para ser criada demora mais de 10 anos”, justifica.

Luciene tomou duas doses da vacina e também foi recomendada por um outro cardiologista a interromper a imunização, pois estava com sintomas de pressão alta. O filho de 17 anos, Nathan Aguiar, também tomou duas doses e teve a contraindicação em decorrência de arritmia cardíaca com suspeita de ser causada pela vacina. 

Apesar da não imunização completa dos filhos contra covid-19, Luciene explica que acompanha a cartela de vacinação dos jovens regularmente para manter as demais vacinas atualizadas.

Taiz Pinheiro Lins, de 16 anos, também não completou a vacinação. A mãe, Maria Olímpia de Oliveira, conta que sentiu dores na perna após se vacinar contra a covid-19. Por isso, ela e a filha, que já tinha tomado 2 ou 3 doses, interromperam a imunização. “Antes eu incentivava ela a se vacinar, mas agora não mais porque a vacina, em vez de sarar uma coisa, está prejudicando outras”, afirma. Apesar do sintoma, Maria Olímpia não procurou um médico.

Wendell Bento Gonçalves, de 15 anos, também tomou duas ou três doses da vacina contra covid-19, assim como sua mãe, Maria Edilene Bento. Ela conta que o tempo recorde de produção da vacina é um dos fatores que a assusta. Por isso, ela se arrependeu de ter aderido à vacinação e interrompeu sua imunização e do seu filho. “Eu acredito que a vacina tenha causado muitas coisas em muitas pessoas”, diz.

A pediatra Andrea Jácomo atua na área de Medicina Intensiva Pediátrica, além de ser professora de medicina no Centro de Ensino Universitário de Brasília (Ceub). Ela reconhece a preocupação dos pais e responsáveis dos jovens, mas enfatiza que toda vacina passa por critérios de fiscalização até ser liberada para a população, o que a torna segura para uso.

 “A partir do momento em que as vacinas são liberadas pela Anvisa e outros órgãos reguladores, elas não são experimentais”, explica a pediatra. E completa: “os dados vêm cada vez mais reforçando a segurança das vacinas nas crianças. A gente precisa conscientizar os pais da importância dessa vacinação”.

Médicos antivacina

A desinformação relacionada a vacinas não afeta somente pais e responsáveis de crianças e adolescentes, mas também os futuros profissionais da área da saúde que estão em formação. 

Andrea Jácomo conta que até alunos de medicina, muitas vezes, já possuem uma opinião formada contra a vacina de Covid-19 no início do curso. O que pode resultar em futuros médicos que preguem informações falsas, como aconteceu durante a pandemia nos últimos 3 anos e ainda acontece nos consultórios, explica a especialista.

“Nós tivemos um grupo de médicos que, nessa pandemia, prestou um grande desserviço à população, vendendo tratamentos que não são eficazes. Hoje cada vez mais estudos mostram a ineficácia desses tratamentos”. 

Dessa forma, ela reconhece que a população fica confusa e tem dificuldade para decidir entre vacinar ou não os jovens, tendo em vista a polarização dos discursos entre os próprios profissionais da saúde.

“Seguras e salvam vidas”

De acordo com o diretor do Departamento de Imunização e Doenças Imunopreveníveis do Ministério da Saúde, Eder Gatti, em divulgação pelo órgão, o Brasil enfrenta o desafio de combater o movimento antivacina que ameaça a proteção das crianças e adolescentes. “As vacinas são seguras, testadas, aprovadas e salvam vidas. Elas ajudam a impedir casos graves e mortes pela doença nesse público e novas ondas de transmissões, sobretudo pelo surgimento de variantes”, ressalta. 

Foto: Agência Brasil

Eder Gatti ainda enfatiza que os imunizantes passam por um rigoroso processo de estudo de qualidade antes de serem incorporadas ao Sistema Único de Saúde (SUS). Além de serem raros os casos de reações à vacinação: um a cada 100 mil doses aplicadas. Se comparado, o risco de complicações pela própria Covid-19 é superior ao risco de reações graves pela vacinação

A doença em jovens apresenta menor nível de letalidade, menos de 1% dos contaminados em comparação com 8,9% acima dos 60 anos. Apesar do número reduzido de mortes, a vacinação ainda é importante para esse público, é o que defende Andrea Jácomo. “A partir do momento que tem uma vacina disponível na rede pública, é preciso proteger as crianças e adolescentes daquilo que é possível proteger”.

Por Maria Cecilia Lima

Este obra está licenciado com uma Licença Creative Commons Atribuição-SemDerivações 4.0 Internacional.

Você tem o direito de:
Compartilhar — copiar e redistribuir o material em qualquer suporte ou formato para qualquer fim, mesmo que comercial.

Atribuição — Você deve dar o crédito apropriado, prover um link para a licença e indicar se mudanças foram feitas. Você deve fazê-lo em qualquer circunstância razoável, mas de nenhuma maneira que sugira que o licenciante apoia você ou o seu uso.

SemDerivações — Se você remixar, transformar ou criar a partir do material, você não pode distribuir o material modificado.

A Agência de Notícias é um projeto de extensão do curso de Jornalismo com atuação diária de estudantes no desenvolvimento de textos, fotografias, áudio e vídeos com a supervisão de professores dos cursos de comunicação

plugins premium WordPress