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Uma terapia de grupo com encenação tem dividido especialistas a respeito da efetividade. A chamada “Constelação Familiar” ou “Constelação Sistêmica” é um método de terapia alternativa baseado em elementos da terapia familiar.
A consteladora Maria Martins, que atua com esse tipo de terapia há cerca de 15 anos, explica que a constelação consiste em três leis que regem as relações humanas. “Pertencimento, ordem e equilíbrio. Também conhecidas como as Leis da Vida”.

“Quando são violadas geram uma série de desarranjos nas famílias, como repetição de padrões, fracassos financeiros, fracassos nos relacionamentos, tragédias e adoecimentos diversos. Basicamente, a constelação familiar, ou seja, as leis que regem a vida, funcionam como um GPS para as relações humanas”, disse, em entrevista à Agência Ceub.
Nesse método, segundo a terapeuta defende, os problemas e dificuldades atuais podem ser influência de traumas sofridos de gerações anteriores da família, mesmo que a pessoa afetada não tenha conhecimento do trauma original.
“Campo quântico”
As sessões são feitas em grupos compostos pelo paciente, um “constelador” e os representantes que são os demais participantes.
O constelador é o mediador da sessão. Cabe a ele selecionar e preparar o paciente. Os representantes assumem o papel de parentes, vivos ou mortos do paciente.
De acordo com o patrono do método, os representantes passam a ter pensamentos, sentimentos e sensações físicas, incluindo sintomas de doenças, semelhante aos dos parentes do paciente, sem nunca tê-los visto.
Maria Martins explica que usar desconhecidos para representar desconhecidos sobre um momento da sua vida é uma forma de desbloquear um registro do seu subconsciente.
“Quando colocamos alguém para representar uma pessoa que ela não conhece, esse representante consegue acessar o que está se passando ou que aconteceu com essa pessoa que ele representa. Isso acontece porque as informações ficam registradas no campo de informações, ou campo quântico, como se fosse uma espécie de nuvem que se faz um download”.
Com base nas informações, inicia o trabalho terapêutico. Os representantes junto com o constelador fazem uma série de perguntas ao paciente questionando se há sentido na representação. Conforme a pessoa confirma as situações, ele percebe o que aconteceu no passado e como está refletindo no seu presente, afirma a consteladora.
“Todos nós estamos imersos em um campo onde está registrado tudo o que ocorreu na história das famílias, e estamos o tempo todo interagindo de forma inconsciente, com essas informações”.
“Origens”
Edith Ferreira Vieira é praticante da terapia há 10 anos, e vê a constelação como forma de ajuda e de conhecimento pessoal.
“É para um autoconhecimento mesmo e conhecimento das minhas origens”. Edith relata um de seus traumas, como a 16ª filha de sua mãe e que, antes de nascer, sua mãe sofreu um aborto, Edith só teria entendido o trauma durante as sessões da constelação.
“Minha mãe teve um bebê que não vingou, mas, com a terapia da Constelação, me fez entender muita coisa. Hoje eu entendo não só na prática da minha vida mas também com os meus pais. Então me ajudou muito e eu procuro sempre terapias alternativas que não utilize remédio porque remédio para mim só em último caso mesmo”.
Crença
No entanto, a credibilidade do método é questionada. Edith Vieira relata que sentia medo de ser vítima de charlatanismo e que, para não sofrer esse trauma, iniciou um processo anti-golpe. Ela procura diferenciar ofertas de terapias que pode haver charlatanismo.
A terapeuta lamenta que a técnica seja vista com desconfiança por causa de pessoas que oferecem cursos como se fossem de formação em Constelação Familiar. Maria Martins explica que o treinamento de constelador leva, em média, um ano e meio com pré-requisitos de leitura da área.
“Um bom treinamento básico tem como pré-requisito a leitura dos livros indicados de Bert Hellinger, o criador do método, além de participar de seminários anuais para atualizações necessárias sobre a temática”.
Edith faz acompanhamento com psicólogo mas disse que sempre teve curiosidade para terapias integrativas e que, além da constelação familiar, já praticou Reiki, acupuntura e cromoterapia.
“Eu acho uma ajuda muito grande e importante e o que te fez procurar esse tipo de terapia foi um evento específico ou foi só curiosidade”.
“Inadequado” e “incompatível”
Por outro lado, o Conselho Regional de Psicologia do DF e o Conselho Federal de Psicologia manifestaram contrariedade sobre a oferta da atividade terapêutica. “(É) inadequado o desenvolvimento de qualquer prática que não esteja respaldada por um conjunto de critérios científicos capazes de sustentá-la”, apontou em nota.
Em outro documento, uma nota técnica expedida pela entidade federal dos psicólogos, há uma advertência sobre preocupações e riscos de profissionais da área praticarem essa atividade.
Em nota técnica, o conselho indica o seguinte: “Por fim, “a inconsistência científica e epistemológica da Constelação Familiar, bem como a sua dissonância com o Código de Ética Profissional do Psicólogo e legislações profissionais, levam os Conselhos Federal e Regionais de Psicologia a concluírem que a prática é, no momento, incompatível com o exercício da Psicologia”.
Confira aqui a nota técnica do CFP
Riscos
A recomendação geral é de que, caso opte por aplicar, que seja informado ao paciente que não se trata de uma prática da psicologia e portanto não deve ser associado a uma prestação de serviço psicológico.
Uma preocupação é que as emoções que podem ser trazidas na prática podem ser até agravadas em função da constelação. “A Constelação Familiar tem potencial para fazer emergir conflitos de ordem emocional e psicológica tanto individuais quanto familiares, de modo que pode desencadear ou agravar estados emocionais de sofrimento ou de desorganização psíquica, exigindo assim um acompanhamento profissional psicológico e/ou psiquiátrico que não é oferecido durante as sessões”.
Por Danyelle Silva , Juliana Sousa e Manuela Mendonça
Foto: MDH/Reprodução
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira