As mais de 60 pessoas espalhadas naqueles 50 metros quadrados estão na torcida pelos dois meninos que sobem no ringue improvisado. Na verdade, um tatame. “O Cobra” (Victor), 11 anos, e Davi Lucas, de 10, trocam golpes.
Os meninos são alunos de um projeto social na comunidade carente de Vila São José, que funciona durante quatro dias da semana. Todas as suas aulas também são gratuitas e novos atletas são sempre bem vindos na “Anjos da Luta”, um projeto social na comunidade.
Confira a página do projeto.
Esforço
Na lutinha, os meninos ficam com o rosto cor de um pimentão. E esse momento é apenas um dos importantes da aula, que dura 90 minutos. Pelo menos 50 abdominais, 100 flexões e mais de 150 polichinelos fazem parte da rotina dos participantes.
A comunidade de Vila São José, em Vicente Pires, foi o local escolhido por ser estratégico para o projeto. Trata-se de um bairro carente. Em uma pequena loja alugada, ela faz milagre, atende cerca de 60 crianças e adolescentes que têm entre 6 e 15 anos em cada dia de aula.
Sem recursos
Naja faz isso tudo com o coração, não é uma ONG e não tem apoio nenhum de secretarias ou de entidades privadas.
Foto do acervo anjos de luva; alunos após uma aula
Estratégia
Um forte jeb (soco) de direita atinge o queixo de Davi, que por três segundos fica pálido, neste momento ele percebe que a luta começou e só um vai sair dali como campeão.
Ele olha profundamente todo raio à sua volta; é o centro das atenções: papel que ainda nesta vida, dado a sua origem humilde e pouca vivência é uma das primeiras vezes que aquele sentimento aflora.
Davi é referência, o destaque, e quando a assimilação do ambiente é feita, já é tarde demais, ele toma um direto que o acorda de vez.
Neste momento “o Cobra” se sente o próprio Mike Tyson.Ele lembra das dezenas de medalhas que recebeu e o motivo dele ser considerado uma revelação do esporte. Mas quando ele respira fundo.
A pequena caixa torácica se expande e há entrada de ar para os pulmões … quando está finalizando a inspiração, o contragolpe vem… um grande soco no braço direito faz ele voltar para realidade, o duelo de titãs estava ocorrendo. Após três minutos de muita luta e disposição física,
A professora Jane Naja, fundadora do projeto, paralisa e declara um empate técnico.
Preparação
A luta entre a criança de 11 anos, e a outra de 10, é considerada o ápice. Ela ocorre em algumas aulas de preparação para fortes campeonatos disputados no DF e no entorno. É tudo supervisionado pela idealizadora do projeto e quando tem alguma sorte por algum professor voluntário também.
Esse cenário com inúmeros troféus, e um tatame que muitas vezes vira um “ringue”, a plateia com mais de 60 crianças e adolescentes é um sonho que se tornou realidade. O espaço é pequeno, mas no coração da idealizadora enorme, este é o Anjos de Luva.
Naja, que criou o projeto social na capital, que tenta amenizar um pouco dos desequilíbrios proporcionando saúde, lazer e bem estar social por meio do esporte, este é o Anjos da Luta, que fica sediado na comunidade de Vila São José, próximo a Vicente Pires.
Na roda da capoeira
Tudo começou no ano de 2004, quando a Naja, que é professora de diversas artes marciais, dava aulas de capoeira em um abrigo na Ceilândia. A paixão foi tão grande que ela até expandiu para outras aulas.Também levou os seus alunos a disputar diversos campeonatos.
Posteriormente, ela mudou de trabalho. Mas ter um projeto próprio sempre foi um dos maiores sonhos dela.
Ela teve uma oportunidade de materializar este sonho e passou por cima de todas dificuldades para fundar o Anjos de Luva.
Contas
Os treinos ocorrem durante quatro dias da semana: segunda, quarta, sexta e sábado. Quem passa as orientações e ministra as aulas é a própria Naja que nem sempre consegue chegar nos horários.
Em um tom de desabafo, ela conta que além de arcar com as habituais contas de aluguel do espaço, água, luz, sempre que tenta levar algum professor para auxiliar com a comunidade têm esse entrave na parte financeira.
A principal dificuldade financeira ocorre quando os alunos vão disputar os campeonatos em Brasília ou até mesmo em Goiânia. Ela inclusive já vendeu sacos de lixo e dindin para auxiliar nos deslocamentos e inscrições.
Mas todo o seu esforço vale a pena quando ela vê um de seus alunos aplicando todos os ensinamentos que ela passou nos campeonatos, um dos integrantes de seu projeto já é tratado como uma jóia, Victor mais conhecido como “o cobra” já ganhou mais de 6 medalhas em diversas competições.
No ano passado, os alunos somaram mais de 120 lutas e em tom de brincadeira Naja alega que tem que trocar de espaço pois não cabem mais na sua “arena de treinos tantas premiações e medalhas”, e o seu sonho é ter um espaço maior para que ao invés de ajudar 60 crianças e adolescentes, consiga ajudar mais de uma centena, 150 é o seu plano principal.
Por Gabriel Rosa
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira