“Lição de pele”: conheça a luta da professora Gina Vieira por uma sala de aula antirracista

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A professora e pesquisadora Gina Vieira foi a criadora do Projeto “Mulheres Inspiradoras” junto aos alunos do CEF 12 de Ceilândia.

A ideia é que os alunos possam ter acesso a obras escritas por mulheres negras. O objetivo era uma educação voltada aos direitos humanos e a valorização da escola e comunidade. O projeto ganhou 19 prêmios de educação.

“Eu precisava ter uma diversidade de mulheres porque eu tinha uma diversidade de alunas. Eu precisava que houvesse mulheres negras. Incluí, por exemplo, a escritora Carolina Maria de Jesus, que sempre foi uma grande inspiração para mim”, disse a professora.

Em 2023, ano em que a Lei Antirracista nas escolas completou 20 anos, a legislação tornou obrigatório o ensino de história e cultura afro-brasileira. O desafio dos sistemas educacionais, de todos os âmbitos, é que, além da lei, efetivamente se promova empatia e estrutura para que os estudantes entendam as próprias raízes, e de uma forma atraente.

Confira abaixo o vídeo “Lição de Pele”

Da escritora Carolina Maria de Jesus, a professora Gina Vieira trouxe como leitura “Quarto de Despejo”. “Ler aquela obra foi muito transformador. Eu li um poema de Cristiane Sobral e fiquei muito impactadA com aquele poema”

“Sou preta fujona
Recuso diariamente o espelho que tenta me massacrar por dentro.

Que tenta me desconstruir com suas mentiras brancas.
Sou preta fujona, preparada para encarar o sistema.
Empino meu black e invado a cena”

“Quando eu li aquele poema, aos 42 anos, eu me deparei com uma mulher negra falando de um lugar onde eu nunca me permiti estar, o lugar de uma mulher negra afrontosa, altiva. Era um lugar que eu nem sabia que era possível para mim. Quando eu li aquele poema eu falei: eu preciso que minhas alunas leiam também”.

Foto: Juca Varella/Agência Brasil

Para ela, a escola deve subverter a narrativa que violenta. A escola seria, então, parte dessa narrativa porque os currículos no Brasil ainda são eurocêntricos, conforme entende.

“A gente está muito longe de ter um currículo decolonial, antirrascista. A gente está muito longe de ter conseguido que todos os materiais didáticos o sejam, mas a gente tem sujeitos vivos da história, dentro da escola, capazes de fazer esse debate da atualização”.

Ela afirma que o projeto “Mulheres Inspiradoras” ajudou a identificar que racismo modela as emoções de pessoas negras para um processo de não reconhecimento das suas potencialidades.

“É inegociável a necessidade de promover uma educação antirracista porque, sem isso, o Brasil não faz as pazes com seu passado. O Brasil não resolve os seus problemas de desigualdade social”.

Ela argumenta que falar sobre a educação antirracista significa colocar a branquitude na cena. “O que a gente vê é que professores negros têm que ocupar o lugar do herói solitário que vai dar conta de resolver uma estrutura racista onde há uma estrutura de pessoas racistas”.

Nesse sentido, o racismo colocaria os brancos em uma situação confortável. Gina Vieira entende que a sala de aula pode ser um lugar de luta contra o crime do racismo.

Por João Carlos Magalhães

Edição: Luiz Claudio Ferreira

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