Agrofloresta: agricultura sustentável inspirada na floresta

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Agrofloresta é um sistema de produção agrícola baseado em uma visão inteligente e ecológica, diferente da agricultura convencional que se baseia no industrialismo, e portanto implementa  monocultura, explorando a natureza e as pessoas e degradando o ambiente. 

A professora Flaviane Canavesi, da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Brasília, explica que o SAF tem como objetivos promover a biodiversidade e proporcionar um manejo mais fácil, já que o sistema é capaz de se sustentar sozinho sem grandes aparatos.

“Hoje, temos a implantação para restauração ecológica. Muitos agricultores familiares estão fazendo o SAF em áreas como assentamentos rurais, que eram áreas degradadas” afirma a professora. 

Origem

”O SAF, que não é uma técnica, mas um conhecimento de manejo de sistema agrícola, foi apropriado de diferentes culturas milenares, como a cultura indígena”, explica a professora.

O suíço Ernst Götsch, que veio ao Brasil em 1982, é reconhecido por difundir o conhecimento sobre agroflorestas complexas sucessionais no Brasil e desenvolver o termo Agricultura Sintrópica.

Atualmente, o agricultor vive no sul da Bahia na Fazenda Olhos D’Água, propriedade que foi totalmente reflorestada por meio de seus estudos e métodos. 

Fonte: Agenda Götsch

Fabiana Peneireiro, engenheira agrônoma, acompanha os trabalhos de Ernst há longa data.

“Conheci o Ernst em 1995, quando, ainda na universidade de agronomia, ajudei a organizar um evento em que ele veio fazer uma palestra. Eu achei as ideias dele incríveis logo de cara, genial!. Pedi para fazer estágio na fazenda dele e ele aceitou; fui, passei duas semanas por lá e fiquei encantada. Resolvi fazer mestrado nessa área, fazendo a pesquisa na fazenda dele”, conta.

Fabiana Peneireiro, na Ecovila Aldeia do Altiplano

Após o mestrado, Fabiana morou no Acre por 6 anos, onde ajudou a criar uma escola para formar técnicos agroflorestais. Atualmente, ela mora em uma ecovila no Altiplano Leste (DF), onde seu grupo de amigos convive desde 2010 recuperando a área degradada: “Antigamente, essa área era uma terra arrasada.”

Agrofloresta na prática

Na propriedade, a engenheira agrônoma põe em prática tudo que aprendeu ao longo dos anos trabalhando com agroflorestas. Ela é membro da ONG Mutirão Agroflorestal desde sua fundação, e, como agricultora, participa de uma Comunidade que Sustenta Agricultura (CSA).

O mutirão tem como objetivo incentivar a construção de comunidades sustentáveis através de cursos e compartilhamento de vivências.

“Desde quando conhecemos o trabalho do Ernst meu grupo de amigos pensou ‘vamos aprender fazendo’. Então nós nos encontrávamos em mutirões para observar, praticar, conviver e aprender” 

Em 2003, o grupo resolveu montar a organização, que agora é uma rede com núcleos no  Distrito Federal, em São Paulo e em Minas Gerais. A organização também atua internacionalmente. Nos últimos anos, alguns profissionais do Mutirão realizaram cursos em Moçambique, Colômbia e Venezuela.

Entrada da Aldeia do Altiplano.

Fabiana conta que já recebeu, na própria casa, voluntários vindos de todo o Brasil e também de diferentes partes do mundo, como Argentina, Equador, França, China e Vietnã. “Agrofloresta é uma coisa que está se fortalecendo cada vez mais. As pessoas do mundo inteiro estão buscando isso”.

De acordo com o Censo Agropecuário de 2017, feito pelo IBGE, no Brasil existem cerca de 491.400 sistemas agroflorestais, sendo 107 no Distrito Federal.

Sobre o CSA, Fabiana explica que consiste em uma comunidade em que um grupo de pessoas, em parceria com agricultores,  apoia  a produção de alimentos agroecológicos. “Todo sábado eles vêm buscar dez itens produzidos na agrofloresta. Eles pagam uma mensalidade, que é o valor do custo de produção, e a cada 6 meses eles atualizam se vão continuar na ação ou não. Atualmente, 21 famílias buscam suas cestas semanalmente . Essas pessoas também participam na organização dos alimentos, de mutirões, trocam receitas, aprendem umas com as outras, participando da construção de uma economia solidária”. 

Na ecovila, pode-se encontrar uma grande diversidade de espécies, como xixá, tamboril, abacateiro, cafeeiro, jatobá, pitaia, acerola, banana, limão, laranja, biribá, ingá e muitas outras.

Entrada do CSA na Aldeia do Altiplano.
Alimentos disponíveis na reunião do CSA do dia 4 de novembro.

“A agroecologia é uma ciência, mas é também um movimento social, que luta pela reforma agrária, acesso à terra e comida de verdade. É uma visão de mundo”.

Imagens da Ecovila Aldeia do Altiplano.

Embrapa Sede

Projetos agroflorestais não precisam ser feitos necessariamente em áreas rurais. O mestre em ecologia e pesquisador Márcio Armando, no final dos anos 90, implementou uma agrofloresta na sede da Embrapa, em Brasília.

Atualmente, devido à falta de manejo, a plantação se tornou uma verdadeira floresta. “A agrofloresta da Embrapa costumava receber excursões escolares e alunos universitários, mas as atividades de visitação foram encerradas há 12 anos”, conta o pesquisador.

Márcio Armando, na agrofloresta da Embrapa Sede.

“Isso aqui era uma área degradada horrível, super compactada. Passamos com um trator quebrando a compactação e plantamos as árvores em linhas. Isso mostra que é possível recuperar áreas degradadas com agrofloresta”.

Agrofloresta da Embrapa Sede.

Márcio Armando explica que, quando as árvores já tiverem crescido o suficiente, o agricultor poderá transformá-las em uma espécie de piquete para que então se crie gado.

“Essas plantas podem alimentar o gado e a madeira pode ser utilizada na propriedade. Isso cria uma área sombreada que resulta em uma pecuária muito mais inteligente, já que o gado gosta de sombra. Além disso, as árvores estão captando o carbono da atmosfera, o que acaba resfriando o planeta, algo que precisamos urgentemente. Então é uma forma de fazer uma agricultura de baixíssimo custo”.

Para fazer uma agrofloresta, é preciso que se compreenda a necessidade de cada espécie, relacionando isso com o clima do local. Márcio fez uma circular técnica com todo o pré-planejamento para realizar o projeto, levando em consideração a distribuição espacial de cada planta e sua evolução ao longo do tempo.

“Eu tive o cuidado de fazer a medição das florestas dessa região e desse clima. Na agrofloresta nós procuramos reproduzir o ecossistema que já existia naquele clima e naquele solo”.

Fonte: Circular Técnica Agrofloresta para agricultura familiar

Texto e Fotos: Fernanda Ghazali

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