Os moradores da Colônia Agrícola 26 de setembro, em Vicente Pires, enfrentam uma realidade desafiadora, onde a escassez de serviços básicos e infraestrutura é frequente.
Localizada às margens da DF-001, entre o final do Pistão Norte e o conhecido Balão do Texas, a localidade se perde em meio à poeira. Apesar de quase três décadas de existência, as ruas não conhecem o asfalto, os lares carecem de saneamento básico e a energia elétrica é uma presença incerta.
A Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios (PDAD) apontou que, em 2021, a região tinha 10.040 habitantes. Com a falta de hospitais, somente 14,9% dos moradores possuem plano de saúde e o Posto de Saúde mais próximo fica em Taguatinga, a 4,3 km da região. Porém, a carência de ônibus na Avenida Principal da 26 de Setembro restringe a mobilidade dos habitantes e, muitas vezes, os obrigam a percorrer a pé até a DF-001 para pegar os ônibus que vêm de Brazlândia.
Cristiane Nunes é síndica de um dos condomínios mais antigos da 26 de Setembro e já mora na região há 11 anos. Ela conta que, no começo, foi bem difícil. “Cheguei aqui grávida, com muitas expectativas. No começo, precisávamos comprar galões de água e não tinha muito comércio na região ainda.”
Por isso, para ela, uma das conquistas mais significativas ao longo dos anos foi a expansão do comércio local, visto que a oferta de ônibus é um problema frequente. “É complicado para quem depende do transporte público. É necessário ir para Taguatinga Norte em busca de recursos”, reforça.
À beira da estrada
Nas manhãs poeirentas, é normal se deparar com grupos de crianças e adolescentes que se reúnem à beira da estrada para esperar o transporte escolar. Como a região não possui escolas, segundo o levantamento da Codeplan, 69,5% dos estudantes são matriculados em escolas de Taguatinga. Destes, 33,8% dependem do transporte escolar público e 30,2% dependem de ônibus.
Transporte escolar em rota na região. Foto: Vaneide Siqueira
Durante as épocas de chuvas, a poeira dá lugar à lama. Com esse cenário, Cristiane conta que surgiu um lamento comum entre os moradores de dizer: “Aqui só temos duas estações, poeira e lama”. Com a falta de saneamento, as estradas, muitas vezes, sofrem com o aparecimento de buracos profundos e erosões, tornando a locomoção difícil e perigosa. Carros e ônibus ficam frequentemente atolados nas estradas, criando transtornos para os residentes.
Ainda assim, a constante falta de eletricidade por longos períodos é o maior desafio que a região enfrenta. Como a água não é distribuída na região, os moradores dependem de poços artesianos. Porém, sem energia, os poços não funcionam, o que significa que o abastecimento de água torna-se irregular e, em alguns casos, até inexistente.
Isso não apenas afeta o conforto e as atividades diárias dos moradores, mas também coloca em risco a higiene e a saúde. Além disso, a falta de energia impacta diretamente o comércio local, pois muitos estabelecimentos, como restaurantes e mercearias, dependem da refrigeração para preservar seus produtos perecíveis.
Diante da falta de serviços públicos, resta a união entre os moradores. A necessidade de lidar com desafios incentivou a criação de grupos e atividades comunitárias.
União
Por isso, a assistente social Izadora Coimbra criou a Associação Mulheres Unidas. Ela conta que criou a associação com o propósito de ajudar a comunidade, desde as necessidades básicas, com doações de cestas básicas e roupas, até orientações de assistência social e jurídica. Foram realizadas parcerias com médicos, dentistas e psicóloga que oferecem atendimento gratuito.
“Moro aqui há 23 anos. Nossas conquistas são diárias, desde auxiliar uma mãe a conseguir vaga escolar e transporte escolar para os filhos até conseguir novas linhas de ônibus para a região”, explica. Izadora espera que a 26 de Setembro possa se tornar uma cidade com infraestrutura, saneamento e serviços públicos dentro da cidade, com hospital, escola e delegacia para que os moradores sintam orgulho do local em que moram.
Assim como Izadora, a universitária Gisele Carvalho decidiu auxiliar a comunidade e criar a Prefeitura Comunitária 26 de Setembro. O projeto tem o objetivo de garantir a representatividade e alavancar projetos que possam criar políticas públicas para a comunidade. Entre as atividades comunitárias realizadas, estão os cursos de capacitação de corte e costura, agente de portaria, merendeira, monitor de transporte escolar, além de atendimento com fonoaudiólogos, psicólogos e terapeutas familiares.
Gisele acredita que, um dia, a região vai se tornar uma região administrativa planejada, mas reconhece que, atualmente, está longe desse objetivo. “Hoje, a região é para quem não possui condições de morar em outro lugar ou que realmente desenvolveu um amor pelo lugar e pela comunidade.”
Esporte
“Bola de Ouro” é o nome do centro comercial mais famoso da região. Com esculturas de bolas douradas na entrada, fazendo jus ao nome, é responsável por juntar crianças da comunidade em partidas no campo de futebol e atrair os adultos para o centro comercial, sendo uma das poucas opções de lazer da área.
Edmilton Gomes é proprietário do Bola de Ouro e mora na região há 24 anos. Ele se mudou para a 26 de Setembro, pois queria morar perto da cidade e, ao mesmo tempo, ter um local para ter suas plantações. “Há 20 anos atrás, assim que cheguei aqui, fiz um campo de futebol e comecei a alugar esse campo, o comércio foi crescendo ao redor disso.” Para ele, os principais desafios sempre foram a questão da água, energia e infraestrutura que dificulta o acesso ao centro comercial
“Você construía o que dava, então a questão de energia, água era complicado, e a infraestrutura é uma questão maior ainda que dificulta a população acessar o nosso comércio”, diz Edimilton.
Para Edmilton, que já morou em São Sebastião, Recanto das Emas e Samambaia, a 26 de Setembro é uma região sossegada em que ele nunca teve problema com segurança. “É muito bom porque a gente conhece a maioria das pessoas, então a gente sente tranquilidade.”
Na Entrada 2 da Colônia Agrícola 26 de Setembro, encontra-se o açougue do Marciano Dias. Assim como a maioria dos comércios da região, é um ambiente simples com uma atmosfera acolhedora, uma vez que os proprietários conhecem seus clientes e criam laços pessoais com eles. Nos fundos do açougue, fica localizada a casa onde Marciano mora com a família há 12 anos. Em todos esses anos, ele já viu muitas coisas mudarem, mas lamenta a falta de serviços públicos.
Para ele, a maior dificuldade é a poeira excessiva e a falta de energia constante, que dificulta conservar seu açougue. Apesar disso, ele relata que a vida cotidiana é calma, segura e que é admirável a relação de amizade que os moradores e comerciantes compartilham. “A 26 de Setembro é um ambiente tranquilo, calmo e que está passando por diversas melhorias e tende a melhorar cada dia mais”, diz esperançoso.
“Trabalhos paliativos”
A reportagem da Agência de Notícias entrou em contato com a Administração da Vicente Pires, atual responsável pela Colônia Agrícola 26 de Setembro. A assessoria ressaltou que a prestação de serviços para a região acontece por meio de trabalhos paliativos, molham a estrada no tempo da seca para tentar amenizar os efeitos da poeira e, no tempo chuvoso, o trabalho é para evitar atolamento e facilitar o deslocamento dos moradores.
Contudo, a regularização e a garantia dos direitos básicos, como infraestrutura, abastecimento de água, fornecimento de eletricidade e saneamento básico ainda é um cenário ilusório.
“O processo de doação de terra está em andamento, enquanto a terra não for doada ao GDF, não se tem uma posição sobre regularização. É necessário que o GDF tenha posse da terra para que os serviços sejam feitos de modo definitivo.” A administração também reclama dos pedidos dos moradores: “Todos os moradores do local sabem disso. É aquela mania do cidadão de querer reivindicar sabendo que não pode ser atendido no momento”, diz.
Por Maria Luiza Castro e Tayna Mendonça
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira, Katrine Boaventura e Isa Stacciarini