A concorrência entre vendedores ambulantes seja nos semáforos seja nos pontos turístico da cidade de Brasília faz com que eles tenham que desenvolver diferentes estratégias de vendas. É preciso ser criativo para conquistar a fidelidade dos clientes.
Para conseguir chamar a atenção do público esses homens e mulheres criam diferentes artifícios. Como é o caso de Dênis Lima, 29 anos, que encontrou na frase “vendo amendoim crocante porque não posso vender minha sogra” uma maneira de atrair os motoristas que passam pelo farol da torre, seu atual ponto de trabalho. “O pessoal não gosta que coloque só ‘ajude um pai de família’, então vai através da piada né? Tem gente que critica, mas a maioria gosta”, afirma o vendedor.
Dênis trabalha cinco dias por semana e tira os outros pra passar tempo com a família. Segundo ele, que já foi profissional registrado, mas acredita que trabalhar como ambulante é mais lucrativo e menos estressante, já que tem controle dos horários e dos dias de trabalho.
O vendedor conta que, por muitas vezes, tem dificuldade em achar disposição para trabalhar, mas, mesmo assim, acha forças e encara o trajeto entre o Recanto das Emas -DF e o Plano Piloto para garantir o sustento. “Tem dia que você está disposto, tem dia que você não tá, mas você é obrigado a trabalhar pra conseguir ter o dinheiro no final do dia pra pagar umas contas.”

Outra dificuldade listada por esses trabalhadores é a fiscalização. O vendedor de cachorro-quente e bebidas Marcos* de 43 anos, trabalha das seis da manhã à meia noite, período em que prepara os molhos, maioneses e pastas que preenchem os pães e após os preparativos prontos, se desloca do Recanto das Emas para o plano piloto.
Utilizando o próprio veículo, uma mini van, Marcos se desloca por três pontos diferentes do centro da cidade para servir café-da-manhã, almoço e janta. Para garantir as vendas e a fidelidade dos clientes, o desjejum é servido em estacionamentos do Setor de Indústrias e Abastecimento (SIA) no horário de chegada dos trabalhadores. Logo em seguida, por volta das dez horas até o fim da tarde, Marcos se desloca para a Catedral Metropolitana de Brasília, um dos pontos turísticos da cidade. Durante a noite, a janta é servida no estacionamento de uma faculdade.
“Sempre gostei do comércio” afirma Marcos, que já foi vendedor de loja de móveis. Pra ele, a escolha de trabalhar como ambulante é uma maneira de aumentar a renda. A fiscalização é descrita pelo vendedor como seu maior obstáculo no desenvolvimento do negócio.
O aposentado e ex-pedreiro, que será identificado como Nonato, tem 61 anos e também descreve a fiscalização como um obstáculo. “Aí tem hora que o ‘rapa’ (fiscalização) chega e nóis corre e vai embora. Eles tomam as coisas da gente e nóis fica no prejuízo”.
Nonato vende de pipoca e bebidas e é responsável por cuidar da esposa e três filhos menores de idade, sendo um deles deficiente. Segundo ele, a aposentadoria não é suficiente para comprar os remédios que ele, a esposa e o filho precisam e a comida. Por esse motivo, decidiu ser ambulante. “Então o filho da gente pede um arroz, um feijão, uma carne… A gente tem que trabalhar mesmo pra dar, porque o salário do aposentado é pouco”.
Para manter a estabilidade do negócio, Nonato desenvolveu um relacionamento de confiança com os outros vendedores que trabalham no mesmo ponto que ele (local não mencionando por solicitação do entrevistado), tal atitude garantiu seu posto por doze anos.
O vendedor de frutas, Bruno* de 23 anos, mora em Luziânia-GO e vem cinco vezes por semana ao plano piloto de carona com um amigo. O capricho com que arruma seus produtos no gramado ao lado do semáforo em que trabalha chama a atenção dos clientes, e a qualidade destes garante a fidelidade de grande parte dos compradores.
Bruno, que trabalhava como ajudante de obra, hoje conta com uma rotina instável. “Tenho que levantar cedo e vir atrás das frutas, aí quando eu não acho, tenho que voltar pra casa”, lamentou. No entanto, o risco de, às vezes, não encontrar frutas não assusta o vendedor que diz ver vantagem nesse tipo de trabalho como a possibilidade de gerenciar os próprios horários.
*Nomes alterados por solicitação dos entrevistados.
Por Aline do Valle