Mais de 40% das mortes na capital do Haiti são decorrentes de violência extrema, demonstra pesquisa

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“Estou acostumado a ver corpos no chão. Estou acostumado a ver cadáveres carbonizados. Estou acostumado a ouvir estrondos. Às vezes é alguém que você conhece. Estou falando de terror, de violência armada. Estou falando de violência física. Estou falando de violência psicológica. Estou falando de miséria. Estou falando de assassinatos. Estou falando de violência de gangues contra pessoas”. O desabafo de um dos integrantes da equipe de Médicos Sem Fronteiras no Haiti (MSF) indica o caos como rotina em Porto Príncipe, capital do Haiti.

Segundo um estudo realizado pela Epicentre, que é o departamento de epidemiologia e pesquisa médica de Médicos Sem Fronteiras no Haiti, mais de 40% das mortes em Cité Soleil estão ligadas à violência. A região é o maior bairro de Porto Príncipe, capital do Haiti.

Como o Estado Islâmico

A pesquisa, que abrange o período de agosto de 2022 a julho de 2023, mostra um cenário preocupante de violência extrema, principalmente quando comparado aos anos anteriores. A taxa bruta de mortalidade chegou a 0,63 (o valor é calculado com base no número de mortes por dia a cada 100 pessoas). Essa quantidade pode ser comparada ao terrorismo do Estado Islâmico no norte da Síria em 2017.

De acordo com a Epicentre, a população de Porto Príncipe convive com o medo constante de ameaças de gangues armadas, além de presenciar confrontos entre gangues, polícia ou dos próprios civis em autodefesa. Na pesquisa de MSF, 13% dos moradores de Cité Soleil relataram ter testemunhado atos de extrema violência nas ruas. 40% das mulheres também disseram que foi impossível realizar atendimento pré-natal por conta dos riscos de exposição no trajeto ao hospital ou clínica.

O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) constatou que janeiro de 2023 foi o mês mais violento no Haiti em mais de dois anos, com cerca de 806 pessoas mortas, feridas ou sequestradas. Em fevereiro, o quadro se agravou tanto que as instalações de MSF foram lotadas com dezenas de pessoas feridas.

Outro integrante do MSF diz que é terrível que crianças em idade escolar sejam alvejadas e baleadas sem nem terem a ver com as gangues. “Quando você é pai de família e vê uma menina de dois anos chegando com um ferimento de bala, é realmente perturbador”, lamenta.

Para tentar minimizar os dados e trazer mais dignidade humana aos moradores da região, o movimento Médico Sem Fronteira no Haiti oferece atualmente atendimento médico gratuito em situações de emergência e cuidados de saúde primária nos bairros desfavorecidos de Porto Príncipe.

Por Milena Dias

Foto: ONU/Divulgação

Supervisão de Luiz Cláudio Ferreira

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