Uma das regiões mais nobres do Distrito Federal é, também, uma das que mais sofre com as quedas d’água. De acordo com dados da Defesa Civil, os pontos mais críticos estão localizados no Setor de Autarquias Norte, nas quadras 402; 711/712; 116, e nas proximidades do Autódromo Nelson Piquet. Os transtornos decorrem, principalmente, do crescimento da área de impermeabilização decorrente da pavimentação de edificações e novos centros urbanos como, por exemplo, os setores Noroeste e de Autarquias.
“Trabalho neste prédio há mais de 10 anos, e sempre que as chuvas começam é a mesma coisa. Já precisei acordar os moradores de madrugada porque a tubulação de captação de água do edifício não suportou a força da enxurrada que desce da comercial da 202, estourou, e inundou a garagem”, conta Geneci Antônio da Costa, porteiro do bloco G da quadra 402.
Em 2012, o atual Governo do Distrito Federal lançou o programa Águas do DF. O valor destinado ao Plano Piloto e à Taguatinga era cerca de R$ 350 milhões para obras de revitalização dos canais de drenagem pluvial. O secretário de Obras do DF, David de Matos, direcionou os trabalhos na Asa Norte para as quadras 701/702, 510/511 e 516. Os procedimentos deveriam começar no início de 2013.
Porém, ha um mês pro fim de 2014, o que os moradores do bairro encontram depois das chuvas são tesourinhas alagadas; entrequadras e comerciais inacessíveis e garagens inutilizáveis porque foram invadidas pela água. Moradores e trabalhadores sentem medo e preocupação a cada garoa.
A assessoria de comunicação da Secretaria de Obras admitiu que os problemas só serão sanados com grandes intervenções. Em nota, informaram que a licitação para o Águas do DF foi homologada no dia 1º de fevereiro de 2013, mas sofreu suspensões pelo Tribunal de Justiça e pelo Tribunal de Contas do Distrito Federal. Hoje, a Secretaria realiza adequações no processo licitatório e a expectativa é de que o edital seja publicado ainda este ano. A previsão de duração das obras é 24 meses.
Para a administradora Nair Sousa, 53, o problema corre o risco de aumentar: “É impressionante. Não precisamos de um dilúvio para o caos ser iniciado”, explica. A moradora da 203 já sofreu com os transtornos. “Perdi a conta das vezes que fiquei presa na quadra porque o balão de acesso e as duas vias que levam às comerciais tinham desaparecido”, afirma.
Setor de Autarquias Norte
E um novo setor surge na Asa Norte. Mais obras; aumento da área impermeabilizada; maior trânsito de carros e pessoas. Esses são apenas três agravantes para os problemas que a população do bairro encara todos os anos.
O Setor de Autarquias Norte comemora a inauguração dos dois primeiros conjuntos de prédios: o Green Towers Brasília e o Centro Empresarial da Confederação Nacional do Comércio (CNC). O primeiro conta com três torres de 16 andares cada. A primeira, já entregue, começou a ser ocupada no início deste mês, com a transferência de cerca de 1 mil funcionários do Banco do Brasil.
Essa movimentação fez com que todos os espaços presentes nas proximidades da torre fossem ocupados por carros, e o trânsito ficou ainda mais engarrafado nos horários de pico. Marla Severiano é servidora do Banco do Brasil, e diz ter enfrentado a primeira chuva na região no último dia 25: “Confesso ter ficado bastante assustada. Parecia estar presa em um beco sem saída. Para todos os lados que olhava, via tudo parado, e bastante água descendo pelo comércio”.
Já o centro empresarial da CNC está em fase de finalização, e conta com quatro prédios de 17 andares cada. A inauguração está prevista para fevereiro de 2015.
Relatório de Impacto de Trânsito
O RIT é obrigatório para grandes empreendimentos. O assunto foi regulamentado através do decreto Nº 33.740, de 28 de junho de 2012, e obriga as construtoras responsáveis por edificações com mais de 150 unidades a elaborar um projeto com medidas de redução de impacto na região. O documento deve ser entregue antes da inauguração, mas nenhum dos edifícios o fez.
A Via Engenharia – responsável pelo Green Towers – informou que o projeto inicial sofreu alterações e, por isso, precisou atualizar dados importantes no relatório, que segue em execução.
Por Patrícia Cagni