Em depoimentos à PF, ex-comandantes militares acusam Bolsonaro

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O ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes decidiu levantar o sigilo de 27 depoimentos de indivíduos ligados à operação Tempus Veritatis nesta sexta-feira, incluindo os do ex-comandante do exército Marco Antônio Freire Gomes e do ex-comandante da Força Aérea Brasileira (FAB), Carlos de Almeida Baptista Júnior.

Minuta golpista

General da reserva Marco Antônio Freire Gomes e Jair Bolsonaro – Foto: Isac Nóbrega/PR)

Em seu depoimento à Polícia Federal, Freire Gomes confirmou que o ex-presidente Jair Bolsonaro compartilhou com ele e outros comandantes das Forças Armadas uma minuta de decreto destinada a instaurar um estado de defesa no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Segundo o relato de Gomes, essa versão foi apresentada aos militares durante uma reunião no Palácio da Alvorada, no final de dezembro de 2022. Ele destacou que havia duas versões de propostas, ambas visando uma possível ruptura por meio da criação de uma Comissão de Regularidade Eleitoral para contestar o resultado das eleições.

De acordo com o depoimento, o General afirmou que “na referida reunião, possivelmente Filipe Martins leu o conteúdo aos presentes e depois se retirou do local, ficando apenas os militares, o então ministro da Defesa e o então Presidente da República Jair Bolsonaro.”

Anderson Torres, como suporte jurídico

Freire Gomes também mencionou em seu depoimento que o ex-ministro da Justiça, Anderson Torres, estava encarregado de fornecer “suporte jurídico para as medidas que poderiam ser adotadas.” Ele reconheceu que uma das minutas apresentadas pelo ex-presidente era a mesma encontrada na residência de Torres. Freire Gomes informou à PF que, nesta reunião, ele e Baptista Junior “afirmaram de forma contundente suas posições contrárias ao conteúdo exposto” e disseram que “não haveria suporte jurídico para tomar qualquer atitude.”

Com este testemunho, Anderson Torres teria mentido ao afirmar que a minuta de golpe encontrada em sua casa havia sido entregue a ele por alguém na rua.

Anteriormente, a defesa de Bolsonaro havia alegado que a “minuta de golpe”, descoberta em seu gabinete na sede do Partido Liberal (PL) em Brasília, foi enviada ao ex-presidente por seu advogado, Paulo Amador da Cunha Bueno, com o objetivo de que ele tomasse conhecimento da mesma.

Veja o depoimento na íntegra:

Baptista Jr

Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

O ex-comandante da FAB, tenente-brigadeiro Baptista Jr. também foi um dos interrogados no inquérito que investiga a tentativa de golpe. De acordo com depoimento dado à PF. Ele disse que Gomes (ex-comandante do Exército) ameaçou prender Bolsonaro se caso o ex -presidente tentasse consumar o golpe. 

Em outro trecho do depoimento, o ex-comandante da Aeronáutica relata uma reunião, em que ele próprio diz ter sido claro com Bolsonaro de que não toparia participar de nenhum plano golpista, e que não haveria qualquer hipótese de ele permanecer no cargo.

Em seu depoimento, Baptista ainda disse que  o grupo recebeu da cúpula do governo Bolsonaro várias teses de fraudes no sistema eletrônico de votação, mas que todas foram rechaçadas pela comissão. O Comandante da Aeronáutica disse ter constantemente alertado Bolsonaro de que não havia fraude na votação.

Veja o depoimento na íntegra:

O advogado de Jair Bolsonaro, Fabio Wajngarten, criticou, nas redes sociais, os depoimentos dos militares. “Tem General com memória seletiva….Recorda-se de vírgulas e frases e palavras, mas não se recorda de datas. Bem curioso. Mais ainda as defesas não terem nenhum acesso a esse depoimento folclórico”, escreveu.

Por Mayara Mendes

Supervisão de Luiz Claudio Ferreira

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