A Associação Brasileira das Mantenedoras das Faculdades (ABRAFI) divulgou, na última semana, a pesquisa Educação em Foco – A percepção dos estudantes do ensino superior acerca da oferta no Brasil, desenvolvida por pesquisadores da Universidade de Guarulhos (UNG).

“O nosso interesse é que as instituições, através da nossa pesquisa, tenham ferramentas para melhorar sua oferta. Porque o ensino de qualidade é uma necessidade brasileira. Manter um ensino com precariedade de oferta é prejudicial para estudantes, para imagem do Brasil quando analisado por organismos internacionais e para os mantenedores que sofrem críticas. Então, nosso interesse é oferecer o máximo de informação possível para o mercado”, disse o presidente da ABRAFI, Paulo Chanan.
Por um lado, o estudo revela expressivo avanço nas matrículas na modalidade de educação a distância (EaD), mas mostra preferência pelo ensino presencial e impressão negativa dos estudantes sobre as aulas online.
Dados revelados
A maioria dos entrevistados pela pesquisa prefere o modelo presencial, com 43% das respostas, já o EaD possui 31%, enquanto o modelo híbrido tem 26%.
Ao avaliarem as modalidades de ensino, 49,08% dos estudantes disseram que a qualidade do ensino presencial é superior; 25,83% opinou que à medida que a oferta de cursos EaD aumenta, a qualidade aumenta proporcionalmente; 20,39% considera o ensino EaD com qualidade igual ou superior ao presencial; e 4,7% acredita que à medida que a oferta de cursos EaD aumenta, a qualidade diminui proporcionalmente.
Quando questionados sobre as principais desvantagens dos cursos EaD, 40,92% dos entrevistados disseram que não há suporte para tirar a dúvida na hora; 34,21% declararam que a qualidade de ensino não é bem avaliada no mercado de trabalho; 9,9% apontaram a qualidade do material didático; 8,09% disseram que a grade curricular não é menor que a do presencial e 6,89% consideram que as faculdades EaD não tem prestígio.
A pesquisa apontou que os alunos esperam práticas presenciais mesmo em cursos EaD. Dentre os ouvidos, 53,93% responderam que a parte prática de um curso EaD ser presencial aumenta o interesse pelo curso; 29, 06% disseram que esse fator é indiferente para a escolha; e 17,01% declararam que a parte prática ser presencial é algo que diminui o interesse pelo curso EaD.
Foram entrevistadas 4.081 pessoas, regularmente matriculadas em cursos regulares, presenciais e a distância, de instituições de ensino superior credenciadas pelo MEC, no território brasileiro. Desses, 47% residiam no Nordeste, 26% no Sudeste, 17% no Norte, 8% no Centro Oeste e 4% no Sul; além disso, 48% cursavam o ensino EaD e 52% o presencial.
Confira o ebook completo com os resultados da pesquisa aqui.
Crescimento das matrículas
O Censo da Educação Superior de 2022 mostra crescente no número de ingressantes em cursos EaD e queda em relação a anos anteriores. O último levantamento registrou o ingresso de mais de 3 milhões de estudantes na graduação EaD e 1.656.172 no ensino presencial.
A tendência é de que, nos próximos anos, o número de estudantes matriculados em cursos EaD se aproxime dos matriculados na modalidade presencial. O último levantamento registrou 5.112.663 inscritos presencialmente e 4.330.934 à distância.
Entretanto, essa é uma realidade predominante em centros de ensino privado. Apenas 5,5% dos alunos da rede federal de educação superior estão matriculados na modalidade EaD. Na rede privada com fins lucrativos, as matrículas EaD correspondem a 66% do total.
Resultados

O presidente da ABRAFI concede entrevista à repórter na sede da associação. Foto: Filipe Fonseca.
O presidente da associação, Paulo Cesar Chanan Silva, concedeu entrevista sobre o lançamento. Confira um trecho:
Agência CEUB: Como a ABRAFI pretende atuar diante dos resultados da pesquisa?
Paulo Chanan: “A primeira coisa é a gente dar divulgação ampla a esses dados e, aos que são associados da ABRAFI, a gente vai promover treinamentos e capacitação no sentido de esclarecer o que pode ser adicionado a essa oferta, utilizando os dados que os alunos trouxeram, de que maneira eu posso agregar valor ou fazer algum tipo de pesquisa. No sentido de verificar se de fato, dentro da minha instituição, a pesquisa tem um reflexo igual, para tentar fortalecer.
O que a ABRAFI precisa, enquanto associação, é dar suporte aos mantenedores, para que eles consigam, através do resultado da pesquisa, melhorar suas ofertas. Uma coisa é certa, o país vive um problema de oferta, não é de modalidade, porque a modalidade EaD precisa ser preservada, ela precisa existir, tem lugares do país que não funcionam se não for à distância.
A crítica que se faz hoje, a modalidade que muitos estão fazendo, inclusive dentro do Ministério da Educação, querendo evitar que cursos sejam ofertados na modalidade de distância, é muito ruim no país. Porque, se você tirar um curso da oferta de distância, você impossibilita muita gente de fazer aquele curso. Agora, a melhoria da oferta, sim. A oferta é o problema brasileiro, e a ABRAFI vem falando isso desde o meio do ano passado.”

Paulo Chanan, presidente da Associação Brasileira das Mantenedoras das Faculdades (ABRAFI). Foto: Filipe Fonseca.
Agência CEUB: Como equilibrar a democratização com o sucateamento da educação por conta dos baixos valores de custo dos cursos? Como manter o valor baixo, um acesso democrático, e mesmo assim, não sucatear esses cursos, de forma que o aluno só esteja fazendo pelo diploma?
Paulo Chanan: “O mercado levou a oferta para um ticket médio muito baixo, de fato. Por isso que, eu imagino que uma modificação na regulação, principalmente atingindo verificação em pólos, possa trazer ao mercado um suporte para que ele aumente essas mensalidades.
No sentido de fazer com que elas tenham uma correlação entre aquilo que é ofertado e aquilo que precisa ser pago pelas ofertas. O sucateamento da oferta leva a uma ilusão de que o custo daquele produto é um custo menor do que ele de fato custa. No momento que você tem que ofertar tudo aquilo, você vai ver que é um incremento de custo ali e esse incremento vai se repetir no preço da mensalidade, mas não vejo hoje, por todo o movimento brasileiro de 2017 para cá, o mercado fazendo isso sozinho. Eu acho que ele vai precisar que o Estado entre nisso de alguma forma, criando uma regulação que dê a ele um suporte para que ele possa falar em aumento de mensalidades.
Aumento de mensalidades é uma coisa que pode passar uma imagem ruim para os alunos. De qualquer forma, talvez seja a única forma de equilibrar uma boa oferta, que é aquilo que é a expectativa do aluno, com a possibilidade de custo que as instituições precisam ter.”

Agência CEUB entrevista Paulo Chanan. Foto: Filipe Fonseca.
Agência CEUB: O ensino à distância e o híbrido são inevitavelmente o futuro da educação ou ainda há espaço para que o ensino presencial seja predominante nas instituições de ensino superior?
Paulo Chanan: “Está claro pela pesquisa que a expectativa do aluno é com a presencialidade, seja parcial em uma educação híbrida.
Aí eu estou falando ‘híbrido’ não com essas definições que o CNE vem trabalhando, o próprio Ministério da Educação, no sentido de mescla, que já é possível pela legislação nacional, parte EAD em cursos presenciais e parte presencial em cursos EaD, dentro do que a legislação já permite. Então, pela resposta da pesquisa ficou claro, que a expectativa do aluno é com presencialidade alguma, quer seja em ensino presencial total, quer seja em ensino híbrido. Numa terceira hipótese, ele se aventura ou ele se coloca para fazer o ensino à distância, mas se ele puder, se ele tiver a mesma condição de oferta, ele vai optar pelo ensino presencial ou pelo ensino híbrido.
Isso leva a crer, respondendo a sua pergunta, que não há uma exclusão da presencialidade para o futuro. Eu acho que é o contrário, acho que a gente vai, cada vez mais, assistir a um retorno disso. O próprio Censo mostrou isso, quando veio uma reversão dos ingressantes presenciais.”
Reprodução: Censo da Educação Superior 2022.
Por Ágata Vaz, Marcelo Thompson e Maria Tereza Castro
Fotos: Filipe Fonseca