Machismo na imprensa: como devemos combater o assédio no jornalismo 

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“Sou jornalista há 10 anos e o meu último emprego me desencadeou síndrome de burnout”. Essa frase é de uma jornalista que não quis se identificar por medo e preocupação de como sua denúncia repercutiria no meio em que atua, o jornalismo político. Chamaremos ela de Amanda. 

Leia mais sobre dia dos jornalistas

Amanda trabalhava como assessora de um parlamentar, que controlava seu horário de almoço, curtidas e opiniões nas redes sociais. Durante a entrevista, Amanda disse que conseguia lembrar de algumas cenas exatamente como aconteceu. 

No dia 7 de abril é celebrado o dia do jornalismo, profissão que lida com as histórias de outras pessoas.

De 2021 e 2022, foram os anos em que mais profissionais da comunicação, mas principalmente imprensa, foram atacados.

Em março de 2022, a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), mostrou que “Os ataques contra jornalistas cresceram 23% em 2022, chegando a 557 episódios. Em 41,6% dos casos, há ao menos um integrante da família Bolsonaro envolvido”. 

O levantamento mais recente da Abraji mostra que houve uma redução nos ataques contra jornalistas, com a mudança de governo.

Segundo a pesquisa, “pela primeira vez nos últimos quatro anos, o número de ataques sofreu uma queda: de 557 registrados em 2022 para 330 em 2023, redução de 40,7%”. 

“O ano ainda apresentou sérios obstáculos para quem trabalha com jornalismo no Brasil, iniciando com intensos ataques à democracia na invasão das sedes dos Três Poderes, em Brasília (DF), passando por um consequente aumento de agressões graves a jornalistas, como violência física e ameaças, e  terminando com um crescimento, proporcional e absoluto, de processos civis e penais contra comunicadores.

Mesmo que os números totais tenham diminuído, ainda há muito que combater”. 

Flashback do trauma 

‘’Eu desempenhava, modéstia à parte, minhas funções muito bem. Conseguia ter um bom controle com gestão das redes sociais, e conseguia emplacar o deputado na imprensa nacional. E diante da falta do que reclamar, esse chefe começou a encontrar brechas no meu registro de ponto”.

Amanda, relata que não tinha um registro de ponto convencional, já que o próprio deputado restringia que a mesma cumprisse as duas horas de almoço, conforme seu contrato lhe permitia. 

Amanda diz que, além de controlar o horário do almoço, o assessor manipulava a liberação dos funcionários para que eles não pudessem tirar o horário juntos.

“Ele controlava meu horário de almoço que devia ser duas horas, mas que ele fazia se tornar apenas 15 minutos. Eu só podia comer na hora que ele determinasse, porque na cabeça ele fazia sentido liberar as pessoas em momentos diferentes porque o pessoal não podia usufruir do direito da pausa para o almoço concomitantemente”. 

As agressões foram além do controle do almoço, e passaram para agressões mais tendenciosas com grosserias, insinuações sobre a fé dela, investigações sobre a opinião pessoal nas redes sociais dela.

“Eu era investigada para saberem o que eu estava pensando, em quem estava apoiando, como se isso fosse interferir na minha vida profissional”. 

Busca por ajuda 

Amanda começou a ter sintomas físicos tradicionais da Síndrome de Burnout como dores de cabeça “intensas e infinitas”, tremores nas mãos e muita fraqueza.

Ao procurar um médico, Amanda diz que o profissional tentava encontrar uma relação fisiológica, mas até que ele teve a sensibilidade de perguntar como estava a vida dela. 

“Eu comecei a chorar no consultório de um clínico geral sem parar. Eu acho que essa consulta deve ter ultrapassado duas horas, pelo tanto que eu chorei”. 

Hoje em dia, Amanda continua fazendo tratamento com terapia e está em um outro ambiente de trabalho mas permanece na profissão que ama, o jornalismo.

Um levantamento de 2019, realizado pelo Coletivo de Mulheres Jornalistas do DF apontou que 73% das profissionais que participaram da pesquisa, já sofreram assédio por um superior (chefe, editor, dirigente e etc), 44.3% foram assediadas por um colega de trabalho e 32,2% por algum entrevistado.

E várias jornalistas apontaram ter vivenciado mais de uma situação de assédio sexual durante o exercício da profissão. 

Como denunciar 

Segundo o Sindicato de Jornalistas do DF, existem diversas formas de registrar a denúncia através dos sindicatos de jornalistas, pelo Coletivo de Mulheres Jornalistas e pela Comissão de Mulheres da Fenaj. 

O Sindicato aconselha que a profissional que se sentir assediada deve procurar o departamento de RH ou a chefia para registrar o assédio caso ele tenha ocorrido no ambiente de trabalho e ainda indica fazer a denúncia na delegacia de polícia, especialmente na especializada em atendimento às mulheres. 

“Infelizmente, muitas vezes o assédio e o comportamento machista são naturalizados em nosso ambiente de trabalho e em nossa sociedade.Nossa tarefa, enquanto jornalistas, é denunciar as violências, alertar para comportamentos naturalizados que devem ser desconstruídos e contribuir para a construção de uma sociedade livre de opressões”, afirma o Sindicato de Jornalistas do DF. 

Por Danyelle Silva

Supervisão de Luiz Claudio Ferreira

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