“A Paixão Segundo G.H.”, baseado em obra de Clarice, traz adaptação transposta para cinema

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Estreia nos cinemas brasileiros deste final de semana, “A Paixão Segundo G.H”, dirigido por Luiz Fernando Carvalho, traz ousada tentativa de transportar para telonas uma das obras mais enigmáticas e introspectivas de Clarice Lispector.

Ambientada no Rio de Janeiro de 1964, a obra narra a jornada de G.H (Maria Fernanda Cândido), uma escultora da alta classe carioca que, após a demissão de sua empregada, decide fazer uma limpeza no quarto de serviço e se depara com uma barata.

Crise existencial

Esse encontro inesperado desencadeia uma crise existencial profunda, fazendo com que ela confronte sua identidade e as convenções sociais que moldam a existência da mulher na sociedade.

Carvalho, conhecido por sua habilidade em adaptar obras literárias desafiadoras, como demonstra em “Lavoura Arcaica” (2001), opta aqui por uma abordagem que utiliza a narração em off  de Cândido, que não apenas recita, mas vive as palavras de Lispector, encarando diretamente a câmera em diversos momentos.

A narrativa foge de um roteiro tradicional e se desenrola como um monólogo contínuo, onde a protagonista transforma suas impressões e dilemas de vida em um longo fluxo poético.

Borrões coloridos

Visualmente, o filme é uma grande obra de arte. Utilizando-se de borrões coloridos e closes intensos, o diretor cria uma atmosfera única e surrealista, capturando a complexidade das emoções de G.H de maneira que amplifica o texto original.

Essa escolha estilística serve para reforçar a sensação de introspecção e de isolamento da protagonista, enfatizando o caráter de espectador da experiência cinematográfica.

Essa é uma obra que não tenta simplificar o original, pelo contrário, abraça seu caráter “inadaptável”, transformando o encontro com a barata não apenas em um ponto na trama, mas em um catalisador para uma profunda reflexão sobre a existência e a opressão que a sociedade impõe.

Desafio

“A Paixão Segundo G.H.” é, em muitos aspectos, um desafio ao cinema convencional.

É um filme que demanda paciência e disposição para se envolver com o monólogo interno de uma mulher em crise.

Maria Fernanda Cândido entrega uma performance memorável, capturando a angústia e a transformação de G.H. O filme é uma experiência imersiva que reflete não apenas a complexidade da mente humana, mas também a capacidade do cinema de explorar territórios inexplorados da narrativa e da forma.

Ficha Técnica:

Direção: Luiz Fernando Carvalho

Roteiro: Melina Dalboni; Luiz Fernando Carvalho; Clarice Lispector

Elenco: Maria Fernanda Cândido; Samira Nancassa

Por Maria Paula Meira

Supervisão de Luiz Claudio Ferreira

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