Concurso de beleza da Central das Favelas eleva autoestima de jovens periféricos no DF

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Quem passou por aquela passarela sabe a diferença que o concurso de beleza Top Cufa (Central Única das Favelas) pode causar. “O concurso ajudou a me enxergar como uma mulher preta e ver que eu posso mudar tudo aquilo que está ao meu redor”, disse a modelo Gabriela Santana, de 22 anos, vencedora em 2022 e jurada neste ano.

A atual edição ocorreu neste último final de semana (4 e 5 de maio) ao lado do Museu Nacional.

Participantes do Top Cufa 2024 categoria street em Workshop sobre moda sustentável. Foto: Maria Beatriz Giusti

O concurso é dividido em duas categorias: o fashion e o street. O fashion é a é para o grupo de modelos que mais segue os padrões de passarela, mas também não exclui a diversidade. Foram ao todo 32 participantes, 16 para cada categoria neste ano.

Autoestima

A participante de 2024, Ayana Teles, de 20 anos, é a única mulher trans no grupo fashion e explica que o concurso transformou sua autoestima. Ela entende que gera representatividade para outras pessoas trans. 

Ayana Teles no evento do dia 4/05. Foto: Maria Beatriz Giusti

“Eu consegui me desconstruir ao olhar no espelho e me enxergar bonita e ver que eu tinha potencial”, reflete a modelo. “Eu quero que outras meninas trans me vejam como uma porta aberta para que elas também possam se ver aqui e em qualquer lugar que elas quiserem”, completa.      

Rompimento de padrões

A apresentadora e ex-participante, Nega Cruz explica que o street é uma categoria que rompe padrões da moda e ressalta a importância de diferentes corpos nesse espaço. 

“É uma categoria diferenciada para diferentes pessoas. Nele, eu vi que as minhas medidas, minha altura, meu cabelo e minha pele poderiam ser referência de beleza, mesmo não atendendo os padrões, existe sim um lugar para nós”, enfatiza a apresentadora.  

Nega Cruz e Carlos Cruz apresentado o Top Cufa Brasília 2024. Foto: Maria Beatriz Giusti

Sol Nascente

O vencedor do street de 2021, Kedson West, de 22 anos, é um exemplo de que o Top Cufa consegue mudar a vida dos jovens periféricos.

Vindo da maior favela da América Latina, o Sol Nascente, o modelo já realizou trabalhos nacionais e internacionais, conquistou o sonho de ir para faculdade com a ajuda do prêmio do concurso. Ele diz que se inspira em outros modelos que vieram da periferia.

“O Top Cufa entrou na minha vida e fez tudo acontecer. Eu entrei na faculdade e estou há quatro anos trabalhando com a moda e sendo visto como desejo”, declara. 

Sustentabilidade e sobrevivência 

O evento, além de ser a final dos concursos de beleza, também conta com pautas de sustentabilidade no universo da moda, como reaproveitamento de materiais.

O diretor artístico, Anderson Quack, um dos fundadores da Cufa nacional, avalia que os hábitos sustentáveis, como da moda socialmente responsável, vem da necessidade de sobrevivência e é construída e financiada pela própria comunidade. 

Participantes masculinos da categoria street desfilando com roupas de estilistas brasilienses que contribuem para a cena da moda sustentável. Foto: Maria Beatriz Giusti.

“O nosso conceito de sustentabilidade não é padrão. O nosso conceito é da nossa própria sobrevivência. A favela vive todos os dias a mudança climática, que hoje está sendo alarmada, para nós chegou 100 anos antes”, defende Quack. 

Para o idealizador, o Top Cufa segue várias agendas econômicas, sociais e ambientais, mas, que de uma forma simplificada, o impacto na vida dos jovens é essencial.

“Não tem como mensurar o impacto do projeto agora, isso é um processo histórico e que vai ser possível enxergar mais adiante. Dar a  jovens da favela e da periferia a possibilidade de sonhar, realizar e ocupar esses espaços é o que o Top Cufa proporciona”, diz Anderson. 

Por Júlia Lopes e Maria Beatriz Giusti 

Supervisão: Luiz Claudio Ferreira 

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