O cenário de mudanças climáticas e de construção de novos bairros, e outras transformações de solo urbano podem acarretar riscos com a chegada das chuvas no segundo semestre.
O arquiteto urbanista Rafael Mendes explica que obras de grande porte, como a criação de novos bairros ou grandes construções com estacionamentos extensos, devem ter o seu planejamento urbano com atenção considerando os recursos necessários para minimizar esses efeitos negativos da urbanização.
“Toda urbanização tem um impacto na drenagem de águas de chuva, pela diminuição da área de permeabilidade natural e acréscimo das áreas impermeabilizadas, contribuindo com o aumento do volume e velocidade das águas de chuva carreada até os corpos hídricos”, explica o especialista.
Em alerta
As enchentes no Rio Grande do Sul, no primeiro semestre, trouxeram sinal de alerta para os problemas de drenagem em todo o país.
No caso do Distrito Federal, há diferenças geográficas em relação às cidades gaúchas, que são rodeadas por muitos cursos d’água (principalmente rios e lagos) e tem um relevo que favorece a incidência de alagamentos e enchentes no caso de fortes chuvas.
A capital, em região de Planalto, se caracteriza pelo padrão “plano a suave ondulado”, onde mesmo em situações de fortes chuvas, casos de enchentes não são comuns.
Apesar de não ocorrer com frequência, existem regiões que correm maior risco de alagamento e enchentes em casos de chuva extrema.
Vila Cauhy
Uma das áreas de risco que requer maior atenção é a região da Vila Cauhy, no Núcleo Bandeirante, que em janeiro de 2024 fortes chuvas fizeram com que o Córrego Riacho Fundo transbordasse e alagasse casas dos moradores da área.
A região é mais propensa a alagamentos porque as moradias foram construídas nas proximidades do córrego.
Em casos de muita chuva na cabeceira do rio que alimenta esse córrego, o nível da água sobe, transborda e, consequentemente, causa alagamentos na área.
As tesourinhas também foram foco de enchentes diversas vezes, com episódios especialmente na altura das quadras 2, 3, 9 e 10.
Risco com obras
A principal causa dos riscos pode ser, segundo o arquiteto Rafael Mendes, a reforma do Estádio Nacional de Brasília, cujas obras causaram a remoção da vegetação na área.
Isso aumentou a impermeabilização do solo. Isso acontece porque as áreas verdes desempenham um papel fundamental na absorção da água das chuvas, ajudando na drenagem. Quando essas áreas são suprimidas, o risco de alagamentos aumenta.
Obras em curso
Segundo a Secretaria de Infraestrutura do Distrito Federal, estão em curso várias obras para implantação de redes de drenagem para controlar esses riscos.
As redes de drenagem têm o papel de coletar a água da chuva e encaminhá-la para as lagoas de detenção, de onde será direcionada para corpos hídricos como lagos, córregos e rios.
”Com relação à Asa Norte, está em andamento a construção de redes de drenagem, em método não destrutivo (tunnel liner), na altura das quadras 2 e 3. Estão sendo investidos mais de R$100 milhões nesta obra que resolverá de forma definitiva os constantes alagamentos nas tesourinhas nesta região. A próxima etapa da obra consiste na construção de novas redes na altura das quadras 9 e 10”, afirma a secretaria.
Meio ambiente
Em entrevista à Agência Ceub, em junho, a vice-governadora do Distrito Federal, Celina Leão defendeu as medidas que o DF está tomando para adequar a infraestrutura da capital brasileira para prevenir enchentes no Plano Piloto e também em áreas periféricas.
Em relação às possíveis enchentes que podem assolar Brasília, como fizeram com o Rio Grande do Sul, Celina Leão avalia que os desastres são resultados da falta de preocupação e de cuidados com o meio ambiente.
Confira entrevista da vice-governadora
Por Amanda Martins e Anna Vitória de Carvalho
* Colaborou Milena Dias
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira