No ano de 2024, foram notificados 709 casos confirmados do MPox no Brasil, e apesar de 85% dos dados serem referentes a pessoas do sexo masculino, e 65% relatarem relações homoafetivas, especialistas afirmam que a doença não está ligada à orientação sexual.
No Distrito Federal, foram relatados 37 casos da doença, enquanto estados como São Paulo e Rio de Janeiro reúnem o maior quantitativo, 533 e 224 casos, respectivamente.
De acordo com o imunologista Bruno Silva Milagres, professor do CEUB, a falta de conscientização da doença e o estigma em torno dos grupos mais afetados têm dificultado o diagnóstico precoce, especialmente no Sistema Único de Saúde (SUS).
“Precisamos mudar a visão dos profissionais da saúde no que diz respeito à Mpox. Muito se fala sobre ela ter relação com relacionamentos homoafetivos, mas não é assim que funciona”, comentou o imunologista.
Uma vez que a transmissão acontece através do contato direto com a pessoa infectada, com objetos contaminados de uso compartilhado e por meio de gotículas e secreções quando tem um contato próximo prolongado, não é possível associar a doença com a orientação sexual.
A professora Maria Creuza, doutora em biologia molecular, afirma que a maior arma é a conscientização, e alerta: “As pessoas tendem a divulgar que essa é uma doença exclusiva de pessoas homoafetivas – homens que fazem sexo com homens, e isso não é verdade. Às vezes é um público que acaba fazendo mais exames, e isso acaba tendo um viés na hora que você propaga a forma de transmissão da doença”.
A doença zoonótica, capaz de ser transmitida entre outros animais e seres humanos, causada pelo vírus da varíola símica (Mpox vírus), tem como sintomas da enfermidade: erupções cutâneas ou lesões de pele, febre, dores no corpo e dores de cabeça, linfonodos inchados (ínguas), calafrio e fraqueza.
Anteriormente, a doença era conhecida como varíola dos macacos, porém, houve uma alteração da nomenclatura. “Antes era chamado de monkeypox, ou varíola dos macacos, porém utilizamos mpox justamente por causa do preconceito. As pessoas começaram a associar que a varíola era do macaco, e não é o caso”, afirma a professora.
Em agosto, a Organização Mundial da Saúde (OMS) emitiu um alerta sanitário. “Por conta da África – o país não tem recursos, então a OMS aciona emergência global, para fazer com que os países direcionem verbas para pesquisas”, reforçou o professor sobre a crescente disparidade no controle da Mpox entre os continentes, com a África sendo a região mais afetada. A República Democrática do Congo, em particular, concentra 96% dos casos no continente.
O painel expositivo sobre Mpox e os desafios da saúde pública aconteceu no encontro anual do EnCUCA, evento do CEUB que está em sua sétima edição e reúne o Simpósio Internacional de Pesquisa e o Encontro de Iniciação Científica do CEUB. O evento é promovido pela Diretoria Acadêmica e pela Assessoria de Pós-Graduação do CEUB.
Por Nathália Queiroz, Natália Santos e Fernanda Diniz
Supervisão por Luiz Claudio Ferreira