Gabriel Fernandes atua nas ruas há 15 anos. Chegou a se apresentar em circos pelo Brasil, mas, diante das dificuldades por espaços, do pagamento “ruim” e das humilhações dos patrões, afirma que os intervalos dos semáforos de Brasília se transformaram na chance para se apresentar.
Mas é necessário buscar locais diferentes a cada dia. Aqui é uma cidade planejada, as mesmas pessoas passam pelas mesmas ruas todos os dias.
O artista, nascido em Tucuruí, interior do Pará, afirma que roda a cidade em busca de oportunidade e de qualquer doação. Ele lamenta, entretanto, não ter sido tão acolhido.
Ele diz que, em seis meses no DF, só fez dois amigos. Gabriel busca revezar-se por onde se apresenta na capital, com passagens pela Asa Norte, São Sebastião, Águas Claras, Ceilândia e outras regiões administrativas.
Confira trechos da entrevista:
Agência Ceub – Por que não voltaria para o circo?
Gabriel Fernandes – O circo te dá a oportunidade de você aprender e crescer lá dentro, mas o grande mal é o salário.
O circo te proporciona o conhecimento, mas, na hora de pagar, paga muito mal e o dono gosta muito de humilhar funcionário.
Gabriel Fernandes – O patrão gosta de humilhar e na rua ninguém humilha. Se alguém falar alguma coisa para mim, eu viro as costas e saio andando. A rua tem essa vantagem da liberdade que o circo não te dá. E por incrível que pareça, a rua paga mais do que qualquer circo brasileiro. O circo brasileiro não vale a pena.
Agência Ceub – Tem algum lugar específico aqui em Brasília que você faz essas apresentações ou você fica rodando?
Gabriel Fernandes – O que acontece aqui em Brasília não é como outros locais que tu fica um mês no mesmo semáforo. Aqui você vai um dia e ele te paga. Se você vai de novo, ele já não te paga mais, então você tem que estar rodando. Aqui é uma cidade planejada, as mesmas pessoas passam pelas mesmas ruas todos os dias.
Agência Ceub – Como você acha que a população de Brasília reage ao seu trabalho?
Em seis meses que eu estou aqui em Brasília, eu fiz amizade com duas pessoas.
Eu achei a galera muito distante, fechada, muito grupo, muita panelinha.
O meu filho é skatista, ele já competiu o Campeonato Brasileiro representando o Estado do Pará, ele é vice-campeão paraense.
Quando eu vim para Brasília, uma outra coisa que pesou muito na minha decisão de vir para cá, foi porque todo mundo que anda de skate lá do Pará, falou que Brasília e São Paulo são o foco do skate.
Eu realmente esperava que a galera daqui fosse como lá no Pará, que abraça a criança e ensina, mas o povo do skate é bem fechado. Parece que eles têm medo de ensinar. Infelizmente eu esperava muito mais de Brasília. Acabou que não era tudo aquilo que eu esperava, mas estamos na luta.
Agência Ceub – Você se arrependeu de vir para Brasília?
Gabriel Fernandes – Aqui é melhor para trabalhar do que no Pará. Para a arte de rua, é um estado pobre. A aceitação da arte aqui em Brasília é boa, a galera contribui fazendo o pix. A gente sempre tem que estar entregando os cartõezinhos, então dá para a gente sobreviver. A gente vai se adaptando aos poucos e quando eu ver que já não tá dando mais, aí eu pego minhas coisas e “vazo”.
O artista também falou que após a temporada em Brasília, irá se aventurar em terras mineiras.
Confira o trecho:
Gabriel Fernandes – Eu vou passar pelo por alguns interiores de Minas Gerais que eu já conheço. O povo mineiro é mais solícito. Ele é incrivelmente aberto, a galera faz amizade muito rápido. Estão sempre de portas abertas pra te receber eu eu gostei muito de Minas, acho que o estado mais “top” que eu passei até agora.
No semáforo em Minas, a galera sempre leva café da manhã quando eu chego cedinho no semáforo. A galera é muito receptiva.
Nas redes sociais, Gabriel se apresenta como @palhacoazia , onde mostra um pouco do seu cotidiano e suas performances.
Por: Leonardo Rodrigues e Pedro Vianna
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira