“É tempo de carnaval”. Para idosos residentes no Lar dos Velhinhos Maria Madalena, no Núcleo Bandeirante, a festa tem significado que excede o significado da folia. Fundado em março de 1980, a festividade acontece no local há 45 anos.
O evento já virou tradição no instituto e tem como objetivo promover a socialização dos idosos e resgatar memórias do que eles já viveram durante os carnavais de suas juventudes.
“É importante fazer eles se sentirem pertencentes, trazer o que eles ficam vendo na televisão, o que acontece lá fora para cá”, afirma Lilian Carvalho, uma das organizadoras do evento.
Pré-carnaval
Neste ano, a comemoração acontece no dia 28 de fevereiro. O evento conta com marchinhas dos velhos carnavais, doces, cachorro-quente… tudo adaptado à dieta dos moradores.
Além disso, a equipe da casa de repouso se responsabiliza pela decoração do local e pela distribuição das fantasias que serão usadas pelos idosos na ocasião. Tudo pensado e preparado com muito carinho, segundo Lilian.
Ela acentua que a festa faz sucesso entre os moradores que esperam ansiosamente pela comemoração. “Como já é cultural, eles sabem que sempre tem. Eles já ficam ansiosos esperando e sempre perguntam ‘quando é que vai ser? quando é que vai ter o carnaval?’”.
Ela ainda revela que é muito gratificante realizar esse evento, levar alegria, energia e qualidade de vida para os idosos “Nós somos a família deles”, reafirma a organizadora.
Interações
O evento conta com o auxílio dos cuidadores e psicólogos da instituição, para enfrentar os desafios e lidar com os idosos da melhor maneira possível.
“Acho que o maior desafio é fazer que todos interajam ali. Tem os que gostam, tem os que não gostam. Então a gente respeita a individualidade de cada um. Tem uns que querem participar, mas não querem vestir fantasia”.
A idosa Maria José Ferreira, conhecida como Zezé, de 82 anos, relembra as marchinhas de quando era jovem. “Gosto muito das músicas de carnaval, principalmente das da minha geração. Porque agora eu nem sei como é que tá isso por aí. Ih, mas tem muitas marchinhas de carnaval no meu tempo”.
Ela diz que já começou a festa nesta semana na hidroginástica, que eles realizam no Riacho Fundo 2.
“Foi a nossa festinha de carnaval já. Dentro da água, escutando marchinhas, e foi legal pra caramba. Só as músicas antigas”, diz Zezé (foto abaixo) Ela lembrou de fazer a folia com a música “Turma do funil”. Enquanto concedia entrevista à Agência Ceub, Zezé costurava a fantasia.
“Eu gosto de tudo da festa daqui”
Zezé testemunha que, na festa carnavalesca do lar dos velhinhos, é a primeira a gritar e pular.
“As mulheres aqui são mais animadinhas do que os homens. Mesmo assim, tem alguns que ainda dão uns gritos, até mesmo os cadeirantes”.
Na festa, tem também bingo.
“É a hora que a gente entrosa mais. Qualquer festinha aqui deixa a gente mostrar o melhor. E o Carnaval, o Carnaval é só alegria”.
Lembranças
A senhora Zuíla Magalhães, de 80 anos, relembra a época que morou no Rio de Janeiro, e conta como era passar a festividade na cidade maravilhosa.
“Eu assisti a muitos desfiles de carnaval no Rio de Janeiro porque eu morei lá durante 20 anos. Eu gostava demais dessas festas de rua”. Além de festejar, ela trabalhava com venda de sanduíches e bebidas.
“Eu fazia coisinha na minha casa, ia vendendo nas paradas, nas portas das festas, nas portas dos blocos…”, diz Zuíla (foto abaixo)
Ela entende que no carnaval se mostra o quanto se é feliz. “Eu gosto de me fantasiar”, afirma a senhora,
A aposentada diz que comprava roupas bonitas e usava penas de pássaro para enfeitar. “Eu ficava muito bonita. Pintava a cara muito bonitinha.”
“Minha parte preferida do carnaval daqui é o desfile de fantasias. Ano passado a gente desfilou assim no salão com roupa típica do carnaval. Todo mundo gostou, bateu palma. A gente se diverte e vai em frente”, afirma Zuíla.
Valorização
O psicólogo da instituição, Leonardo Tavares da Silva, ressalta a importância da comemoração da festa popular para os residentes do Lar dos Velhinhos.
“O carnaval é uma festa cultural, que por sua vez é regrada com muita alegria, musicalidade, é uma oportunidade que os idosos têm pra poder quebrar a rotina institucional, e também trazer memórias remotas”.
Ele testemunha que idosos lembram muito das marchinhas do carnaval e cantam. “Assim é algo que a gente consegue promover a socialização do idoso, sem mencionar também uma estimulação para eles. Tanto do ponto de vista físico, como também do ponto de vista cognitivo”, explica.
Autoestima
Além dos benefícios para a saúde mental, memória e socialização dos idosos, o psicólogo citou os benefícios para a autoestima, principalmente das senhoras que adoram se arrumar para a ocasião.
O especialista revela ter sido marcado por relatos de idosos com dificuldades cognitivas que, durante o evento lembraram dos pais ou avós os levando para os bloquinhos de carnaval durante sua infância ou juventude, e reitera o papel que as músicas e marchinhas típicas da festividade desempenham nessa rememoração.
“É como escutar uma música e se lembrar de um ex-namorado. A música traz a memória remota e está muito associada a uma determinada época da nossa vida, por exemplo”. Além da música, a lembrança do paladar também se torna relevante”, afirma.
Por Beatriz Laviola
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira