O professor de hip hop dance e de danças urbanas Jean Kesley, de 31 anos, nasceu na Cidade Estrutural e, depois de aprender mais sobre os valores dessa cultura, resolveu difundir o papel da arte na transformação social e no fortalecimento da identidade do local.
Jean é educador social no Instituto Casa Azul e idealizador da Escola de Dança PolyArtes. Ele cobra um valor simbólico dos alunos como mensalidade. Kesley contextualiza que a comunidade é marcada por desafios sociais e pela falta de equipamentos culturais.
Começo na dança
O contato com a dança começou cedo, ainda na infância, quando participava de festas e eventos dançando estilos populares da época.
No entanto, foi em 2008, por meio de um grupo da igreja, que Jean teve o primeiro contato com o hip hop, especificamente o breaking.
A partir daí, passou a buscar conhecimento sobre as diversas vertentes das danças urbanas e se aprofundou na cultura, realizando aulas com nomes renomados da área.
Escola
A paixão pela dança se uniu à vontade de trabalhar com crianças. “Sempre tive essa veia para trabalhar com a galerinha mais jovem e ensinar. E se encaixou. Foi onde me encontrei e estamos aí, dando aula, crescendo e espalhando essa semente”, explica.
Em parceria com a esposa, Poliana Araújo, professora de ballet e de dança contemporânea, fundou a PolyArtes.
A escola surgiu de forma espontânea, como uma “fagulha”, segundo Jean, e há cerca de quatro anos leva arte e cultura para uma região que, até então, não contava com espaços formais voltados à dança.
As aulas na PolyArtes são baseadas no que Jean chama de “arroz com feijão” da dança: a construção sólida da base do hip hop, com referências históricas e técnicas fundamentais. A partir dessa estrutura, os alunos desenvolvem coordenação, memorização e participam de projetos coreográficos, mostras e espetáculos.
O impacto é visível, especialmente nas turmas infantis. “É gratificante ver a evolução dos alunos. Aluno que chegou pequeno para mim e hoje dança com atitude e desenvolve muito bem, poder ver que você joga uma base e eles evoluem, é incrível”, afirma o professor.
Hip hop
Para Jean, a dança vai além da prática artística. É, no entender dele, um instrumento de transformação social e de reconexão consigo mesmo. “Acho importante continuar, por mais que seja difícil. Dar aquela dançada no quarto, que seja descalço ou de meia. Ter essa conexão que nos liga com a arte, seja ela qual for, e com nós mesmos”, destaca.
Ele também reforça a importância de valorizar todos os artistas, tanto os pioneiros quanto as novas gerações, além dos eventos culturais, independentemente do porte.
“Falta um olhar mais cuidadoso para quem construiu e continua construindo a história da dança, valorizar um pouco mais os dançarinos e eventos que fortalecem a cultura”, observa.
Jean acredita que, mesmo para quem não está diretamente inserido na cultura hip hop, as manifestações artísticas despertam interesse e têm potencial para transformar vidas.
“O hip hop atrai e pode salvar pessoas. Em Brasília, temos muitos eventos e artistas incríveis que movimentam a cena e apresentam essa cultura para novos públicos.”
Histórias como a de Jean mostram como a dança é mais do que movimento: é instrumento de transformação social, identidade e celebração.

Por Victória Souza