No Senado Federal, era possível conferir os flashes de celulares, gravadores a postos, as perguntas afiadas e os senadores engomados. O Brasil, como sempre, assistia entre o bocejo e o espanto.

Então, Virgínia Fonseca, estrela do Instagram, entra no plenário não com a solenidade dos ternos e tailleurs, mas vestindo um moletom.
Sim, um moletom com a estampa da filha, amada por tantos brasileiros, e segurando o onipresente copo Stanley, estampado com o nome da sua marca (publicidade gratuita na tela dos brasileiros que se interessam pelo rumo do país), como se estivesse indo a um podcast ou talvez a um encontrinho de domingo.
A CPI das Bets aguardava respostas sobre milhões em contratos, apostas e responsabilidades. Mas o que se viu foi uma cena que parecia tirada diretamente dos reels do Instagram: uma selfie com um senador no meio da reunião, um riso contido, um ar de descontração deslocado… quase desinteressado. O Senado, naquele instante, virou cenário de live, palco de stories.
Ao falar, Virgínia era informal, beirando o desacato. Evitava os números, esquivava-se das perguntas com um sorriso ingênuo.
Uma calma de quem sabe que tem um habeas corpus no bolso e a certeza de que, em um mundo onde engajamento vale mais que compostura, bastava parecer simpática para sair ilesa.
Só que ali, entre paredes onde já ecoaram as vozes de Ulisses Guimarães, Tancredo e tantas outras, o tom deveria ser outro. E ela, ao que parece, não leu o script.
Apesar disso, saiu do plenário sem algemas e de presente uma foto com os senadores que a chamaram ali.

O moletom, claro, virou símbolo. Uma distância perigosa entre fama e responsabilidade. Como se fosse possível driblar a solenidade da República com emojis e filtros.
Porque mais que os contratos ou os jogos, o que se julgava ali era o papel de quem fala para milhões. Uma pessoa que se autodenomina “Influencer”, mas se nega a entender a sua culpa ao influenciar.
Por Maria Clara Britto
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira