Ao menos 51% da população brasileira acima dos 50 anos de idade no Brasil não conhece as letras ou está em situação de alfabetização rudimentar, segundo foi apresentado pelo último Indicador de Analfabetismo Funcional (INAF).
O levantamento é realizado pela Ação Educativa e pelo Instituto Paulo Montenegro/Ibope. Em 2024, a pesquisa contou com uma amostra representativa da população jovem e adulta brasileira, de 15 a 64 anos.

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Regiões vulneráveis
Dados revelam como o analfabetismo funcional atinge, sobretudo, populações vulneráveis e regiões historicamente negligenciadas.
Grande parte das pessoas com mais de 50 anos afetadas por esse problema pertence ao Norte ou Nordeste, é negra ou vive em zonas rurais. Muitas não tiveram acesso à escola ou precisaram abandoná-la cedo para trabalhar.
Além das limitações práticas, como ler placas ou preencher formulários simples, o analfabetismo afeta a autoestima e isola essas pessoas da vida social e política.
Em tempos digitais, não saber ler ou escrever significa viver à margem. Investir em educação para adultos é essencial para romper esse ciclo de exclusão.
O maior desafio
O pedagogo Elias Silva Araújo, 59 anos, dedica-se integralmente ao ensino de jovens e adultos. Graduado pelo Instituto Superior Nossa Senhora de Fátima, ele relata dificuldades no processo de aprendizagem para quem está nessa faixa etária.
“O maior desafio é fazer com que eles permaneçam nos estudos”, comenta.

Professor Elias Orienta Estudante De Pedagogia Que Vai Fazer Tcc Sobre A Alfabetização De Jovens, Adultos E Idosos. (Crédito: Divulgação)
Após fundar a Casa Paulo de Freire, instituição que desde 1990 tem como objetivo alfabetizar o território de São Sebastião, o professor tem como motivação a transformação e o rompimento de estigmas.
“A história do Brasil afirma que pobre não foi feito para estudar. Infelizmente, muitos acreditam nessa mentira e, por isso, não têm motivação alguma.”
Juntamente com sua esposa Herlis, 57 anos, eles aderem aos ensinamentos do educador e filósofo brasileiro Paulo Freire. Com uma metodologia integrativa e acolhedora, Elias e sua esposa despertam nos alunos a necessidade de estudar. Além disso, a instituição oferece um ensino com carga horária flexível, para que os educandos conciliem os estudos com a vida pessoal, familiar e profissional.
Outro problema apontado pelo pedagogo é a estigmatização por parte da sociedade civil, que hoje se torna uma adversária na educação de jovens e adultos. Amigos, familiares e líderes espirituais não incentivam esses alunos, contribuindo para a alta taxa de evasão escolar. “A sociedade enfatiza aos idosos que eles devem cuidar das tarefas de casa e ficar reclusos por conta da idade”, aponta o profissional.
Elias finaliza deixando uma mensagem àqueles que se enxergam sem tempo de vencer: “A hora é agora. Nunca é tarde. Não importa a idade ou a posição que esteja dentro da sociedade, você tem que buscar. O ensino liberta.”
Por Beatriz Laviola, Danilo Lucena e Júlia Christine
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira