Tudo aconteceu no ano de 1995, quando Edilson Fernandes chegava para se apresentar como professor de história na antiga escola classe 44 do P sul na Ceilândia. Amália Juazeiro trabalhava na direção da escola. “Eu nunca dei muita bola para ele, mas segundo ele, o destino nos juntou”, diz ela.
Antes do acontecimento, o casal viajava todos os anos, e tinha o planejamento de após se aposentarem morarem no nordeste, e aproveitar a vida cuidando dos netos e da família. No decorrer da conversa o par relembra as memórias da época em que se aventuravam nos passeios com os amigos. Edilson afirma que a vida antes era bem diferente e que quando se adoece, tudo muda para sempre.
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O diagnóstico
Foi a partir de dores na região lombar, mal estar, e estado febril que Edilson suspeitou que algo estava errado, no ano de 2011 depois de recorrer ao médico foi solicitado uma ecografia e descobriu o câncer renal.
Em 10 de março de 2012 houve a primeira cirurgia de retirada do rim direito. No mesmo ano, o médico responsável pelo caso afirmou para o professor que estava limpo da doença e que não teria mais problemas.
Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA) o câncer de rim equivale aproximadamente 2,2% de novos casos da doença em adultos pelo mundo.
Metástase
No período de 5 anos, o historiador manteve os devidos cuidados ao lado de sua esposa. Após a aposentadoria de Amália, em 2017, a doença de Edilson se agravou, exigindo uma bateria de exames. Com o diagnóstico, foi identificada metástase no segundo rim. Ele passou por cirurgia e foi diagnosticado como paciente renal crônico.
Posteriormente à cirurgia, o paciente passou a viver pelas diálises e quimioterapias. — Um tratamento médico que remove resíduos, toxinas e excesso de fluidos do sangue quando os rins não funcionam mais corretamente, já a quimioterapia é usada para tratar o câncer, com medicamentos que destroem as células doentes ou impedem que elas cresçam — O professor realizou os tratamentos no Hospital Regional da Asa Norte (HRAN) por 4 meses.
“A quimioterapia me causa danos terríveis, inflama, dói, e eu não posso comer, fico sem escovar os dentes direito, é um negócio muito complicado. E às vezes, quando as coisas complicam, eu fico sem me alimentar, o médico me autorizou suspender por uns três, quatro dias a quimioterapia até que eu volte a comer normal. É uma batalha diária”, destaca Edilson.
Companheirismo
“O que me dói muito é que ela ficou muito presa também. Nós tínhamos projetos para a vida após a aposentadoria, de viajar e curtir a vida, mas ela acabou sendo penalizada. Pois na verdade a vida passou a girar em torno de mim”, ressalta o cônjuge de Amália.
Ela afirma ter virado uma senhora do lar e que dedica seu tempo ao cuidado dele, da casa e dos netos. O casal afirma que existem vários altos e baixos, e que estão adaptados a essa condição de vida e até dizem que ter um ao outro basta para eles.
Esperança
Amália é a mais esperançosa da relação, como confirma o próprio Edilson.
A casa toda é decorada com itens religiosos, desde o quadro da santa ceia na cozinha, até a porta com a imagem de Jesus Cristo, seguida por um altar repleto de imagens religiosas. Tudo carrega significado para o casal e essas imagens sempre fizeram parte deles.
Apesar de não ser muito religioso, Edilson confessa que alterna entre momentos de esperança e desesperança e que se envolve ocasionalmente nas orações da esposa, relembrando sua fé.
Os dois compartilham dessa doutrina, mesmo que de formas diferentes. “A gente vai vivendo a vida parcialmente como a gente sonhou, como é possível viver. A vida nem sempre é como a gente quer, mas sim como é possível”, diz ele.
“Minha fortaleza”
O amor verdadeiro os manteve esperançosos durante o tratamento e até atualmente.
“Eu estou de pé hoje, estou vivo, abaixo de Deus eu agradeço a ela. Ela é minha coluna, ela é a minha fortaleza.”
Mesmo com a dificuldade de falar sobre a finitude da vida, Edilson aprendeu a não ter medo da morte. Ele afirma diversas vezes que deseja partir antes da esposa e que não pode viver sem ela.
Em seu relato, ele conta que, no momento em que adoeceu, esse laço se fortaleceu ainda mais. Ela esteve de mãos dadas e abraçada durante todo esse tempo, afirmando que permaneceria ao lado dele até mesmo na hora da queda. Essa foi a prova de fogo do amor, o que concretizou ainda mais essa convecção.
Por Ana Luisa Oliveira, Isadora Carmona, Laura Cunha e Julia Cavalcante
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira