Perfil: Joelma, a tia do lanche do Lago Norte

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Joelma Jesus dos Santos, ou tia do lanche, como é conhecida carinhosamente, é uma baiana que vende salgados pelo Lago Norte e arredores.

Em seu Fiat Siena, ela guarda esses lanches caseiros. “Faço com o maior amor, cada massa que eu abro, cada recheio, eu faço com a maior alegria do mundo”, diz.

Ela me recebeu em sua casa, o lugar onde ela faz a mágica acontecer.

Joelma me convidou para entrar, conheci o marido dela, Eduardo, que é vigilante.

Junto com ela, também estava a filha, Maria Eduarda, a Duda, como a chama.

Ela conta que a filha é uma das motivações para ela não desistir. “Eu fui mãe aos 45 anos e isso me incentiva muito. Eu posso pagar uma boa escola para ela. Faço de tudo para minha filha não ter que passar o que eu passei”.

Joelma e família/Arquivo pessoal

Nascida na Bahia, ela cresceu na roça. Eram onze na casa, Joelma, os pais e oito irmãos.

Ela lamenta não ter aproveitado a infância com os irmãos pois teve que ajudar em outras fazendas.

“Eu com sete anos tinha que ir nas fazendas vizinhas, pois outros fazendeiros precisavam de alguém para cuidar dos filhos, mas eu também era criança”, lembra.

Ela recorda dos tempos em que brincava com bonecas feitas de espiga de milho. Pediu pra Deus para que a boneca tivesse pernas, braços e pudesse andar.

“Na época eu fiquei brava com Deus, mas quando comecei a entender, pedi perdão a ele”.

Desde cedo, Joelma teve que trabalhar para ajudar em casa.

Ela me contou que passou boa parte da infância nessas fazendas.

“Eu não convivi muito com meus irmãos, cresci mais nessas casas”, afirma.

Por conta disso, não pode frequentar a escola como gostaria e estudou até a oitava série.

Aos 17 anos, se mudou para São Paulo para trabalhar com uma prima na Vigilância Sanitária. Posteriormente passou a trabalhar para uma família como empregada doméstica, para substituir a prima.

Essa pessoa que a contratou foi transferida para Brasília, Joelma veio junto, se apaixonaram pela cidade e decidiram ficar aqui.

A casa dessa família era no Lago Norte. Tudo correu bem por alguns anos, até que o casal teve filhos.

Eles contrataram mais pessoas, entre elas, uma babá. Essa, tinha ciúmes de Joelma.

“Ela fez o inferno na minha vida, manchava a camisa do meu patrão com água sanitária e sujava os talheres com gordura para falar que eu não fazia as coisas direito”, conta.

Com isso, ela comenta que entrou em depressão. “Sofri muito, lutei muito, pensava: “Como que vou fazer para sair desse serviço?”, eu não admitia que estava com essa dor”, completa.

Dessa situação de muito sofrimento, ela utilizou da fé em Deus para se motivar. Joelma ouviu um testemunho que ela se identificou muito na televisão.

“Ouvi uma história que parecia que era para mim, então  tomei coragem e falei assim: ‘a partir de hoje eu vou trabalhar para mim mesma'”, afirma.

Depois de ouvir isso, ela decidiu ir na igreja e conversou com um padre, ela me contou que as palavras dele foram uma injeção de ânimo para sair daquele serviço e trabalhar para si própria.

“Nunca esqueci o nome dele, o pastor Jorge”, afirma.

Ele disse, “você não precisa ter faculdade, você tem que acordar cedo, ser criativa, inventar alguma coisa”, lembra Joelma.

Agora, ela estava decidida. Avisou que não iria mais trabalhar com aquela família e enquanto eles estavam viajando e ela estava cuidando da casa, decidiu vender comidas caseiras.

Foi nesse instante que começou a jornada que segue até hoje. Ela conta que aproveitou esse momento para iniciar suas vendas.

O ponto de partida foram os docinhos, ela os fez na casa mesmo e saiu para vender nas portas vizinhas.

“Bati de porta em porta e nesse mesmo dia eu vendi todos os docinhos que eu fiz”, afirma. Isso a motivou muito.

Após a tentativa bem sucedida com os docinhos, Joelma passou a vender marmitas no horário do almoço. “Eu comecei a vender comida lá para o pessoal, os pratinhos feitos. Começou um sucesso, sabe? O pessoal gostava da minha comida, só que daqui a pouco era muito pedido de comida”, conta.

Em meio a esse sucesso, ela resolveu avisar o casal que não iria mais trabalhar lá, antes mesmo de eles voltarem. Liguei e falei: “quando vocês chegarem, eu vou sair daqui, vou começar a trabalhar para mim mesma”.

Nessa época, Joelma morava de aluguel no Varjão. “Não tinha nada, peguei uma panela emprestada com uma vizinha, continuei fazendo comida e vendia de bicicleta”, conta.

O resultado era tão bom que a bicicleta já não era suficiente, ela teve que contratar alguém para entregar de moto.

Como o sucesso só aumentava, eventualmente, ela teve que tirar a habilitação e comprar um carro. O primeiro foi um Fiat Uno de 1999. “Ia entregar no Plano, em Águas Claras. Uma firma de pintura me contratou para fazer marmitas, então eu entregava umas 100 marmitas por dia.”

Como ela faz tudo sozinha, a venda de marmitas ficou difícil devido ao horário corrido.

“Todo mundo queria comer meio dia, 11h, 11h30, não dava para chegar nesse horário”.

Por isso, ela mudou o rumo e começou com as saladas de frutas.

Sucos/Arquivo pessoal

“Eu ia vender saladas de frutas, vendia tipo umas 50 saladas de fruta. Chegou uma hora que o pessoal começou: “Ah, mas você tem que fazer salgados” “.

Ela atendeu o pedido. Passou a fazer deliciosos salgados, estes, que até hoje, ela vende. Agora no Fiat Siena, onde o porta-malas e os bancos de trás são onde ficam os lanches.

Salgados e lanches no carro/Arquivo pessoal
Salgados/Arquivo pessoal

Por Lucas Maia

Supervisão de Luiz Claudio Ferreira

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