Abracadabra: curandeiros são ancestrais das bruxas modernas

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Mitos e preconceitos giram em torno dessa arte, entretanto, nenhum deles possui fundamento. A bruxaria natural é muito voltada para a natureza, explora e incentiva a busca pela liberdade e autoconhecimento

Você não precisa beijar os pés de um bode para praticar a bruxaria. Não tem que assinar um pacto com sangue no livro do diabo, nem cuspir em uma cruz.

Esses são preconceitos nascidos em outras décadas que insistem em perdurar nos dias atuais. E são estereótipos sem fundamentos que ainda confundem as pessoas sobre a real premissa da bruxaria, uma filosofia espiritual, que envolve conexão com a natureza, prega pela liberdade e o autoconhecimento. A história dessa Arte Antiga instiga, além de envolver muito mistério e perseguição.

História da bruxaria

São diversos os livros escritos que buscam apurar as origens da bruxaria com exatidão. Arin Murphy-Hiscock, alta sacerdotisa do clã Black Forest, cita as benzedeiras, parteiras e curandeiros como os ancestrais das bruxas modernas.

Nesse contexto surgiu o termo “Abracadabra”, relatado pela primeira vez em textos sobre remédios e curas, no século II. O autor foi o médico grego Quintus Serenus Sammonicus, que usou o termo como uma palavra mágica para proteger as pessoas contra a malária.

Ainda hoje, bruxas e bruxos acreditam na função protetora da palavra “Abracadabra” contra doenças. O fato é que à medida que o Cristianismo se fortalecia na Europa, a Antiga Espiritualidade foi sendo apagada.

Ellen Paula, em seu quarto, lendo um livro sobre a história da bruxaria. Foto: Nathália Guimarães

Mas o que deu início à perseguição em massa contra a bruxaria? Em 1486, Heinrich Institoris Kramer e Jakob Sprenger, dois monges alemães, escreveram um manual de caça às bruxas: O Martelo das Feiticeiras. Embora tenha sido considerado ilegal pela Faculdade de Teologia da Universidade de Colônia, sua aprovação foi forjada e a perseguição espalhou-se por toda a Europa por quase 300 anos.

Segundo Deirdre English e Barbara Ehrenreich, em seu livro “Witches, Nurses and Midwives”, o número de execuções eram em torno 600 por ano em certas cidades, as mulheres constituíam 85% de todos os bruxos e bruxas mortos. Somente em 1951, que as bruxas voltaram a se expressar, com a revogação das últimas leis contra a bruxaria, na Inglaterra.

Toda bruxa é wiccana?

Mesmo tendo as suas semelhanças, Wicca e a bruxaria Natural não são a mesma coisa, entretanto, toda wiccana é bruxa, mas nem toda bruxa é wiccana. A primeira é uma religião moderna, é mais rígida, possuindo uma estrutura com princípios, diretrizes morais, regras específicas para realizar rituais, além de adoração de deuses. A bruxaria Natural, por sua vez, é uma espiritualidade, é mais flexível, não tendo obrigações nem regras a serem seguidas, ela é livre e intuitiva, por isso é considerada uma Arte e não uma religião.

O dia a dia de uma bruxa natural moderna

Ellen Paula Ferreira começou a praticar a bruxaria Natural um pouco antes da pandemia do coronavírus, em 2019. Por causa disso, no início, não foi possível estar em contato direto com a terra. Isso não significa que ela não pode praticar magia, porque templo está dentro do quarto.

“Essa prática é muito voltada para a natureza, mas também tem a ver com liberdade, autoconhecimento e confiança em si mesmo. Então, em vez de focar no exterior eu me concentrei em cuidar do meu interior”, explica Ellen.

Ellen Paula com cartas do Tarot-Waite, um dos mais comuns entre os praticantes dessa arte. Foto: Nathália Guimarães

A bruxa também conta quais os itens essenciais para um altar. “O principal a ser ter são representações dos quatro elementos. Um copo de água ou uma concha, uma vela, uma pena ou incenso, e um cristal. Esse é o básico, mas dependendo de cada pessoa elas podem adicionar outros objetos, como o livro das sombras, por exemplo”, explica.

Segundo Ellen, a água e a concha simbolizam a energia da água, a vela o fogo, a pena e o incenso representam o ar e o cristal a terra. Mas, além de simbolizarem os elementais, esses itens têm seus poderes mágicos.

“Por exemplo, os cristais têm vários usos na bruxaria. O mais comum é energizá-los com o objetivo mágico do bruxo ou bruxa, mas sempre de acordo com a própria energia do cristal. Também têm os incensos, em que cada erva tem sua propriedade como prosperidade, limpeza, entre outros ”, informa Ellen.

Na bruxaria natural, cada pedra possui um uma função especial, podendo afastar energias negativas ou até ampliar seus poderes psíquicos. Foto: Gabriella Tomaz

O livro das sombras é um item à parte. O termo surgiu durante as perseguições, quando as bruxas e bruxos se viram obrigados a se esconder e se reunir “nas sombras”, ou seja, em segredo. Eles passaram a registrar as informações, que antes eram passadas oralmente, em um livro para que não fossem esquecidas.

O termo perdura até hoje e Ellen explica como é utilizado na bruxaria moderna. “Basicamente, é um livro de estudos, onde pode anotar suas experiências, um feitiço que você fez, e se ele deu certo ou não. Informações para consulta, reflexões entre outras coisas que a pessoa achar necessário para sua prática.”

Além disso, um dos instrumentos mais populares entre os praticantes de bruxaria moderna é o tarô, um conjunto de cartas de adivinhação. “É uma arte divinatória que as bruxas e os bruxos usam para consultar as possibilidades do futuro, ou interpretar possíveis sinais dos deuses”, completa.

Mas como alguém se torna uma bruxa ou bruxo? “Existem alguns nichos da bruxaria no qual é obrigatório você ser iniciada por uma sacerdotisa de um coven, que é um grupo de bruxos. Mas também existem milhares de bruxas e bruxos solitários, e para se considerar um, é preciso muito estudo”, afirma Ellen.

Segundo ela, o melhor jeito de estudar essa fé é através dos livros e os mais renomados são escritos por bruxas e bruxos que têm anos de prática e estudo. Ela também comenta que apesar de existirem informações na internet, nem sempre é de uma fonte confiável, e o interessado pode acabar mexendo com coisas que não entende. 

Por Gabriella Tomaz e Nathália Guimarães, especial para a Agência Ceub

Edição de Luiz Claudio Ferreira

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