Ouvir podcasts, assistir a aulas e até ver séries em velocidade 1,5x ou 2x virou uma prática comum, principalmente entre os jovens. O objetivo é claro: consumir mais conteúdo em menos tempo. Mas será que o cérebro acompanha esse ritmo?
Uma análise publicada em abril deste ano avaliou os efeitos disso na aprendizagem, comparando grupos que assistiam aulas em velocidade normal e acelerada (até 2,5x). Os resultados mostram que assistir vídeos em 2x ou mais prejudica o mantimento das informações.
O neuropsicólogo Fabiano de Abreu porquê acelerar o vídeo compromete a memória. “A memória de trabalho, responsável por manipular informações temporárias, sofre com a sobrecarga sensorial, prejudicando a codificação e a consolidação das informações no hipocampo, estrutura essencial para a memória de longo prazo”, informa.
Segundo o especialista, como consequência, o indivíduo até pode compreender superficialmente o conteúdo, mas falha em consolidá-lo, o que compromete o aprendizado real.

O cérebro precisa de tempo
Fabiano ainda explica que a fala acelerada ultrapassa a capacidade do cérebro de processar fonemas, atribuir significados e manter a atenção. Além disso, o sistema dopaminérgico, responsável por buscar recompensas, também é afetado. “O hábito de consumir tudo rápido reforça a busca por gratificação imediata e compromete funções como empatia, persistência e controle inibitório”, alerta o neurocientista.
Além disso, assistir vídeos acelerados pode afetar o comportamento. Segundo o neuropsicólogo, o cérebro se adapta a recompensas rápidas, o que reduz a tolerância ao tédio. “Isso enfraquece os circuitos responsáveis pela atenção sustentada. Ou seja, ficamos mais impacientes, distraídos e ansiosos.”
Ele ainda explica que esse padrão pode se espalhar para outras áreas da vida. “Se tudo precisa ser rápido para prender nossa atenção, o contato com conteúdos mais densos e experiências mais lentas se torna frustrante. E isso empobrece a cognição.”
Jovens lidam melhor com vídeos acelerados?
A análise dos estudos também observou diferenças geracionais: adultos mais velhos (entre 61 e 94 anos) foram mais afetados pelas altas velocidades de reprodução do que os mais jovens (18 a 36 anos).
Para Fabiano, é parcialmente verdade que pessoas mais jovens conseguem acompanhar vídeos acelerados com mais facilidade. No entanto, isso não significa que elas aprendem melhor.
Existe uma velocidade segura?
De acordo com o Fabiano, sim. Velocidades de até 1,25x ou 1,5x podem ser toleráveis por cérebros treinados. Acima disso, a retenção e a compreensão semântica começam a se desgastar.
“A velocidade ideal varia de acordo com o nível de desenvolvimento da atenção executiva (córtex pré-frontal medial) e da velocidade de processamento individual”, completa.
Por Nathália Guimarães, especial para a Agência Ceub
Edição de Luiz Claudio Ferreira