Além da técnica, quem trabalha com arte precisa dominar gestão, marketing e buscar alternativas constantes para sobreviver. Como é o caso de Alexandre Aparecido da Silva, conhecido popularmente como Xandy Style, de 36 anos, formado em Educação Física, e que atua não só como dançarino, mas como, professor, coreógrafo e empreendedor no interior de Minas Gerais, em Unaí.
O contato com a dança surgiu em sua trajetória muito antes da ideia de se tornar empreendedor e ter seu próprio espaço. O dançarino conta que a arte está presente na sua vida desde 2006, quando começou o grupo de street dance Black Dance Style, com o objetivo de explorar a representatividade e desenvolver talentos.
“Eu sou das danças urbanas. Me criei dentro das danças urbanas desde 2006 para 2007, e comecei o Black Dance Style nessa época.” Contou
Trajetória
Alexandre começou seus trabalhos em 2017, por meio de aulas de Zumba Fitness e de ginástica rítmica, numa academia de musculação, quando buscava uma opção de renda extra.
Com o passar do tempo, Xandy percebeu a necessidade de investir em algo maior. O grupo demandava um espaço mais amplo e com melhor estrutura para continuar evoluindo.
Além disso, as aulas, que contavam com cerca de 40 alunos, aconteciam em um espaço reduzido na academia, o que dificultava o desenvolvimento da turma. Além da limitação física, o local também não permitia a oferta de modalidades variadas.
Diante disso, e com o desejo de crescer ao lado do grupo e de colegas de profissão, Xandy decidiu que era hora de abrir novos caminhos.
“Chegou um ponto que a gente ultrapassou os limites básicos de permanecer dentro e preso com as outras modalidades, dentro de uma academia, prestando serviço”, relata.
Então, em 2018, surgiu a oportunidade do professor abrir seu próprio estúdio. O ponto estava sendo oferecido pelo irmão do atual sócio de Xandy, que na época era apenas seu aprendiz.
A ideia ia muito além de ter apenas um lugar, mas tinha como objetivo dar oportunidade de crescimento aos membros que já faziam parte do grupo de hip hop e desenvolver habilidades em equipe.
“Como todo sonhador dentro da área da dança, você vai e faz na medida do possível. Vai lá, faz uma dívida extensa de um empréstimo e resolve abrir o seu próprio comércio, o seu próprio estúdio de dança”, conta.
Do hobby ao empreendimento
A instabilidade na renda gerada pelo empreendedorismo é comum, pois os ganhos variam conforme a demanda e as oportunidades do mercado, exigindo dos empreendedores disciplina na gestão financeira e no planejamento dos negócios.
Dados mais recentes divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam que 43,2% dos profissionais do setor cultural atuavam de forma informal, enquanto 42,1% trabalhavam por conta própria.
Alexandre desde a infância já tinha contato com o comércio. “Desde os meus 11 anos eu trabalho no comércio, terceirizado. Prestava serviço para outras pessoas, como entregador, cobrador”, relembra. Mesmo com essa base, ele afirma que gerir o seu próprio negócio cultural é um desafio constante. “Você acha que agora dá para ganhar dinheiro e, de repente, descobre uma nova dívida, um novo investimento, uma nova necessidade de mudança. É um professor que larga a aula, você perde alunos, têm que se reinventar a todo momento”, explica.
Para o economista e professor de finanças públicas da Universidade de Brasília (UnB) Roberto Piscitelli, empreender é um desafio constante, principalmente com relação à organização das finanças do empreendimento.
“Para empreender na cultura principalmente, é necessário ter organização, disciplina e controle rigoroso das finanças pessoais e profissionais”, reforçou.
Foto: Victória Souza
Sobreviver com a dança
Além da questão financeira, a desvalorização de seu trabalho também dificultou a caminhada de Alexandre.
“Tem gente que acha que quem está no meio cultural é aquele que não tem o que fazer. Mas se você for raciocinar, hoje, todos fazem parte de algo cultural. E todo mundo gosta de ver. Porém, nem todos valorizam da forma que é”, afirma.
As práticas de empreendimento no meio cultural exigem constantes adaptações. Segundo o dançarino, muitos artistas diversificam suas atividades, atuando não só como dançarinos, mas como professores, coreógrafos, produtores e até gestores, para garantir a sustentabilidade dos seus negócios.
Esse acúmulo de funções, nem sempre é uma escolha, mas uma necessidade imposta pela falta de apoio e de políticas públicas voltadas para o setor.
“O segmento só vai crescer advindo do capital que vai ser inserido nele. As pessoas irão empreender se houver condições de ser um mecanismo de renda e um condutor da vida financeira da pessoa. A falta de políticas públicas eficazes, incentivos fiscais, e o pouco reconhecimento das áreas impactam diretamente o setor” , afirma Daniel Soares, gestor executivo do Conselho Regional de Economia do DF.
Vídeo: Victória Souza
Por Madu Suhet e Victória Souza
Supervisão de Vivaldo de Sousa