
O fundador e co-CEO do JOTA, o jornalista Felipe Seligman, defendeu que o futuro do jornalismo está na cobertura voltada para nichos. Durante sua participação no Festival de Jornalismo do Prêmio Engenho, na manhã desta terça-feira (19) no teatro Poupex do Setor Militar Urbano (SMU), Seligman afirmou que o atual momento do jornalismo e da criação de conteúdo no Brasil pede uma priorização de conteúdos voltados a um público menor, mas mais interessado.
“Não se deve preocupar em se tornar uma voz que vai falar com todo mundo. É melhor ter uma comunidade menor com quem você realmente fala do que ter a ilusão de um mundo de pessoas que, na verdade, não te lêem. Quando se tem um público menor, você consegue construir qualidade. Estamos vivendo essa era em que precisamos voltar a valorizar o que é pequeno e faz a diferença na vida das pessoas”, destrinchou.
Seligman foi um dos participantes do Painel “Empreendedorismo no Jornalismo — Você pode ser o dono!”, mediado pelo jornalista do Platô BR Rodrigo Rangel. O momento foi centrado em possibilidades inovadoras de se empreender dentro do jornalismo, trazendo as histórias de jornalistas que atuaram na construção de veículos independentes.
Felipe relembrou o período de criação do JOTA — portal jornalístico focado, principalmente, na cobertura do Poder Judiciário —, após uma experiência de oito anos na Folha de S. Paulo. Ele destacou que a crise do jornalismo brasileiro, em 2012 e 2013, assim como a ascensão do Supremo Tribunal Federal (STF) a um papel de protagonismo nos noticiários e a demanda de um público por uma cobertura mais técnica possibilitaram a criação do portal.
“Como o STF não era tão ‘sexy’, os assuntos eram chatos. Com a votação de pautas importantes e próximas à sociedade, o tribunal foi se transformando, ganhou um peso político muito grande. Além disso, a crise do jornalismo em 2012 e 2013 trouxe um enfraquecimento das redações, e, ao mesmo tempo, muitas das minhas fontes especializadas queriam fazer debates aprofundados que não cabiam. Tinha um público grande que queria uma cobertura mais técnica que não cabia”, explicou.
O co-CEO do JOTA lembrou, de forma bem humorada, da vez que um amigo lhe disse que “vocês são o maior veículo de assuntos chatos do Brasil”, e argumentou que o valor da cobertura do portal está justamente nessa abordagem “chata”. “O grande erro de um empreendedor é querer abraçar o mundo. Focamos nos temas que fariam diferença para profissionais que precisam daquela informação. Como o assunto é chato, montamos serviços que priorizam a qualidade da cobertura para pessoas que poderiam pagar por aquilo”, refletiu.
“O futuro do jornalismo está nos nichos. Vai sobreviver quem souber falar com seu público já estabelecido”, complementou Seligman.

O empresário, comunicador e ativista fluminense Rene Silva, fundador do jornal Voz das Comunidades, no Rio de Janeiro (RJ), e a jornalista e empreendedora Paula Santana, fundadora e atual CMO (Diretora de Marketing) do grupo GPS, em Brasília, também participaram do painel junto a Seligman e Rangel. Os palestrantes dividiram suas histórias dentro do jornalismo e como essas vivências levaram à criação dos veículos que fundaram.
Por Henrique Fregonasse
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira