Durante o anúncio da seleção oficial dos filmes e programação para o 58° Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, o diretor artístico do evento, Eduardo Valente comentou que o avanço das plataformas digitais, intensificado pela pandemia, acelerou um processo de consumo individual do cinema.
Segundo Valente, essa migração de atenção para as mídias digitais é um fenômeno mundial, não restrito ao Brasil. Ele aponta para o declínio da bilheteria nos cinemas americanos, que ainda não se recuperou aos níveis pré-pandêmicos de 2019, como um exemplo.”O que a pandemia fez foi radicalizar e acelerar esse processo. E eu acho que esse é um fenômeno mundial”, ressaltou o diretor.

Nesse contexto, para o diretor artístico, os festivais de cinema ganham uma importância ainda maior, pois resgatam a ideia do cinema como um espaço de convivência, troca e encontro. Valente argumenta que, enquanto a experiência de assistir a um filme pode ser suprida pelo streaming, o que não é substituível é a “experiência comunal” de assistir a um filme com outras pessoas, de interagir com realizadores, críticos e jornalistas.
“O que não é suprido é o encontro, é a troca, é a experiência comunal, né?”, defendeu Valente, destacando que os festivais são tradicionalmente o momento de fortalecer essa ideia.
Ações para a retomada do público
A diretora geral do festival, Sara Rocha, reforçou o ponto de Valente, citando o sucesso do Cine Brasília como um exemplo prático. Ela sublinhou que a experiência de assistir a um filme em uma grande projeção, em excelência cinematográfica e ao lado de outras pessoas, é uma experiência única, que “nenhum streaming vai tirar de uma sala de cinema”.
Já o secretário de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal, Cláudio Abrantes, trouxe a perspectiva governamental. Ele enfatizou o esforço do governo em manter o Cine Brasília ativo, mencionando a parceria com a Caixa e a inclusão de comunidades carentes, que têm a oportunidade de frequentar um cinema de “preços sociais” e alta qualidade.
Além de promover o encontro e o hábito de ir ao cinema, Abrantes destacou o papel dos festivais como fóruns de discussão sobre políticas públicas para o setor. Ele lembrou os debates do ano anterior sobre a regulamentação do VoD (Video on Demand) e a necessidade de “políticas públicas de proteção e fomento, de incentivo ao audiovisual brasileiro”.
Por Pedro José Borges e Caio Aquino
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira