No Dia do Bailarino, três artistas do DF compartilham suas histórias de superação em um meio ainda marcado por estigmas de gênero, falta de apoio familiar e resistência so

O ballet ainda é, para muitos, sinônimo de delicadeza feminina, sapatilhas de ponta e tutus.
Mas, no Distrito Federal, bailarinos como Vinícius Gomes, Pedro e Paulo Jardim e João Luís desafiam esse imaginário todos os dias.
Entre preconceitos, ausência de apoio familiar e a desconfiança social de que a dança pode ser uma profissão, eles encontram no palco não apenas um espaço artístico, mas também de resistência e afirmação.
Primeiros passos na dança
Cada trajetória começa de um jeito. Os irmãos gêmeos Pedro e Paulo Jardim, de 30 anos, vieram da dança de salão e entraram no ballet incentivados por amigos.
O convite abriu portas para bolsas de estudo e uma carreira sólida.
“Foi assim que conheci o mundo do ballet. Ganhei bolsa aos 16 anos e tudo começou ali. Meu pai não aceitava, mas minha mãe, ao me ver no palco, se apaixonou e virou minha maior apoiadora”, lembra Pedro.
Vinícius Gomes, 23 anos, descobriu o ballet ao acompanhar a prima em uma aula. Encantado, começou a praticar em casa, com a ajuda dela, até conquistar sua bolsa de estudo em Ceilândia.
“No começo não tive muito apoio, principalmente da minha mãe, mas com o tempo todos me apoiaram e hoje sempre prestigiam minhas apresentações”, conta.
Já o professor e bailarino João Luís, 28 anos, teve o primeiro contato com a dança pelo forró e samba de gafieira. O ballet veio mais tarde, como desejo guardado por anos.
“Sempre tive curiosidade, mas o preconceito e a falta de apoio me afastaram. Depois da pandemia e do falecimento do meu pai, decidi fazer o que eu realmente gostava, sem me importar com o que os outros diriam”, relata.

O peso do preconceito
Apesar das conquistas, o preconceito acompanha as trajetórias. Vinícius lembra das provocações no colégio, quando diziam que ballet era “coisa de menina”. Pedro também enfrentou comentários depreciativos: “Muitos amigos abandonaram a dança por ouvir que ballet não era para homens. É uma pena”.
“As pessoas têm que superar essa ideia de que todos no ballet dançam de ponta e tutu bandeja”. “Eu já perdi a conta de quantas vezes eu falei que nunca fiz aula de ponta pois eu fazia aula de técnica masculina e as meninas de ponta”, diz Pedro.
Pedro Jardim explica que os homens possuem papéis específicos no ballet, e na maioria das vezes eles não estão relacionados com a “feminilidade da bailarina”. “Os homens dançam com as meninas e as levantam, eles interpretam, saltam, giram e tudo isso exige um trabalho corporal muito intenso”.
João passou por situações semelhantes: “Quando comecei o ballet, amigos faziam piadinhas, até minha namorada brincava. Hoje levo na esportiva, mas sei que por trás disso existe falta de conhecimento. O ballet me trouxe postura, força, equilíbrio e liberdade. É muito mais do que imaginam”.
Conquistas no palco
Cada um carrega vitórias que marcaram suas trajetórias.
Para Vinícius, o grande momento foi interpretar Conrad, personagem principal do clássico Le Corsaire.
“Foi meu primeiro papel de destaque e nunca vou esquecer.”

Pedro guarda a lembrança de quando dançou, pela primeira vez, um repertório inteiro como primeiro bailarino. “Mais do que medalhas, foi quando me senti um bailarino completo. É uma sensação única.”
Já João celebra a persistência e a possibilidade de transformar vidas através da dança. “O ballet me mostrou que não é só técnica, mas também acolhimento e humanidade. Hoje, o que mais me motiva é poder impactar positivamente outras pessoas por meio da arte.”
Muito além da técnica
Para além dos palcos, esses bailarinos mostram que a dança é também um ato político: desafiar estereótipos, romper barreiras de gênero e abrir espaço para que novos meninos possam enxergar no ballet não apenas uma arte, mas um caminho de vida.

Como resume Vinícius: “Ballet não é só para meninas. É para todos que amam expressar seu amor através dos movimentos.”
Acompanheas apresentações e aulas de Pedro Jardim, Vinícius Gomes e João Luís no istagram.
Por Isabele Azenha
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira