Hip’ é a gíria que traduz o que está vivo, desperto, consciente. ‘Hop’ é o salto, o pulo que rompe barreiras e desafia limites.
Juntas, essas palavras dão nome a um manifesto cultural nascido nas periferias e que se espalhou pelo mundo como linguagem de resistência, arte e identidade.
Mais que um estilo, o Hip Hop é um movimento amplo, que combina a força da música (rap), as cores do grafite e a expressão corporal do break.
Para Nenzin MC, a responsabilidade social do Hip Hop vai muito além dos palcos.
Ele é idealizador das oficinas de rima “A Arte de Rimar” e já alcançou mais de cinco mil jovens em unidades socioeducativas, escolas públicas e creches. São 11 anos dedicados diretamente à cultura.
Foto: Divulgação
“Hip hop nos ensina muitas coisas sobre o respeito, sobre você entender onde você está, entender o que você é, te mostrar o que você é capaz. Então, esse diálogo ajuda bastante na conscientização, de você se entender como parte da comunidade, como um grande transformador da sua sociedade.”
O rapper comentou ainda sobre o alcance do movimento na sociedade, tanto na prevenção da violência como nas perspectivas que a atividade engloba.
“O hip hop é uma linguagem de protesto contra qualquer tipo de desigualdade, qualquer tipo de violência racial, física e tudo mais.”
Nenzin destacou também a importância da colaboração com artistas locais e as conexões que o movimento cria:
“Temos vários artistas locais que fazem colaborações com o Jovem de Expressão de alguma forma. Tanto eu quanto o Japão do Viela 17, a DJ Jack, DJ Kathleen, a Camis, que é uma grafiteira… Dentro do movimento hip hop temos várias ligações diretas e indiretas com o Jovem de Expressão. Isso fortalece as discussões sobre direito à cidade e em diversos temas que podem ser debatidos através dessa arte.”
Além das artes
O hip hop vai além da música e da expressão cultural. Nas periferias, ele se torna uma ferramenta de sobrevivência e esperança, e uma forma de abrir caminhos, criar oportunidades e escapar das armadilhas da criminalidade. Foi assim para um dos jovens que participou da oficina de rimas conduzida por Nenzinho Kennedy Brito.
Foto: Arquivo pessoal
“Eu não ia participar, estava na correria dos meus projetos. Mas o Nenzinho me chamou no Instagram, insistiu que eu fosse. Acabei indo e não me arrependo”, contou o jovem.
As aulas, se tornaram um espaço de aprendizado coletivo.
“O que mais me marcou foi a dedicação deles. Eles estavam ali realmente para ensinar a galera, mostrar como funcionava o hip hop, as rimas internas, externas, as técnicas para rimar melhor. Era nítido o quanto eles se importavam com a rapaziada que queria aprender coisas novas.”
A relação com o hip hop, no entanto, não começou ali. Desde a infância, ele já respirava a cultura. “Na minha casa o povo escutava muito rap: Racionais, Cirurgia Moral, Código Penal, Viela 17, Tribo da Periferia… Eu cresci ouvindo isso. Com 13, 14 anos, me envolvi com o break em Taguatinga, depois com grafite, acompanhando meu primo. Minha conexão com o hip hop vem desde criança.”
A ligação ganhou outro peso em um momento decisivo da vida: a saída do sistema penitenciário. Foi ouvindo as letras de grupos como Racionais e Tribo da Periferia que ele percebeu que precisava mudar de rota. “O rap foi uma virada de chave. Ele me mostrou que a vida do crime não compensa, que leva para a cadeia ou para o caixão. Como eu já tinha saído da cadeia, percebi que precisava escolher outro caminho.”
Mais do que uma transformação individual, ele acredita no poder do hip hop como ferramenta social. “Nas quebradas, muitas vezes não existe lazer. O hip hop é, muitas vezes, o único. Ele pode tirar os jovens da criminalidade, mostrar outro horizonte. Seja no break, no grafite, no rap ou como DJ, é uma chance de aprender, de sonhar, de até colocar comida na mesa através da arte.”
Foto: Arquivo pessoal
Para ele, expandir esse tipo de iniciativa é fundamental. “Se tivesse mais movimentos, mais ações sociais, mais hip hop na quebrada, com certeza menos jovens se perderiam nessa vida. Porque a rua arrasta. Mas se tiver cultura, se tiver arte, o jovem pode se arrastar para outro lado, o lado da transformação.”
Por Mayara Mendes Sob supervisão de Luiz Claudio Ferreira
Você tem o direito de: Compartilhar — copiar e redistribuir o material em qualquer suporte ou formato para qualquer fim, mesmo que comercial.
Atribuição — Você deve dar o crédito apropriado, prover um link para a licença e indicar se mudanças foram feitas. Você deve fazê-lo em qualquer circunstância razoável, mas de nenhuma maneira que sugira que o licenciante apoia você ou o seu uso.
SemDerivações — Se você remixar, transformar ou criar a partir do material, você não pode distribuir o material modificado.
A Agência de Notícias é um projeto de extensão do curso de Jornalismo com atuação diária de estudantes no desenvolvimento de textos, fotografias, áudio e vídeos com a supervisão de professores dos cursos de comunicação